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A Reação da Coroa

Os dias passavam e o governador não impunha a derrama, como era esperado. A tensão aumentava entre os conjurados. A própria população sentia que algo grave estava para acontecer. Os planos dos conjurados se desarticulavam, e eles passavam a pensar no que Barbacena poderia estar sabendo e tramando contra eles. Cada um cuidou de se proteger, com receio de alguma ação intempestiva do Governo. Tiradentes, por sua vez, impaciente com a espera, partiu para o Rio de Janeiro a fim de sondar seus colegas de farda sobre a possibilidade de adesão.

Ao mesmo tempo, em Vila Rica, o movimento foi denunciado ao governador, em 15 de março, por um dos conjurados, Joaquim Silvério dos Reis, esperando trocar o perdão às suas dívidas pelas "cabeças" dos companheiros. Uma semana depois da denúncia, Barbacena suspendeu oficialmente a derrama, acabando com o motivo do levante, e mandou prender todos os acusados.

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Tiradentes foi o primeiro a ser preso, ainda no Rio de Janeiro, em 10 de maio de 1789. Em pouco tempo, os outros encontravam-se aprisionados, sem que as tropas precisassem disparar um só tiro. Todos foram mandados, em pequenos grupos, para o Rio de Janeiro onde, por ordem do vice- rei D. Luís de Vasconcelos, já havia sido aberto um processo judicial (devassa) contra eles.

Os conjurados permaneceram no Rio de Janeiro todo o tempo do julgamento, quase dois anos, e depois de presos só se viram uma única vez, na leitura das sentenças. Isolados em cárceres imundos, mínimos e escuros, os réus, em seus depoimentos, tentaram minimizar suas ações no movimento. Colocaram a maior parte da culpa em Tiradentes, que assumiu toda a responsabilidade. Em Vila Rica, o governador Barbacena tratou de excluir da relação de acusados os nomes de alguns conspiradores que conseguiram "comprar" sua proteção.

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O processo judicial acusou trinta e quatro pessoas, sendo cinco membros da Igreja Católica. Três já haviam falecido devido aos maus-tratos e às más condições das prisões. Significativo é o caso do poeta Cláudio Manuel da Costa, encontrado morto em sua cela, tendo sido o fato explicado como suicídio. Dias antes, o poeta havia prestado um longo depoimento, apontando como implicados no movimento os homens que Barbacena protegia.

Dos onze réus condenados à morte, dez tiveram a pena comutada para degredo na África. Só Tiradentes teve sua pena mantida. Os cinco réus da Igreja foram levados para as prisões de Lisboa, onde deveriam cumprir prisão perpétua, mas tiveram parte de suas penas comutadas. Os padres Oliveira Rolim, Luís Vieira da Silva e Manuel Rodrigues da Costa conseguiram retornar ao Brasil, onde ainda gozaram de prestígio e influência.

Os demais acusados cumpriram penas variadas nas diversas colônias portuguesas na África. Alguns morreram pouco tempo depois, já bastante doentes e alquebrados, em conseqüência dos maus - tratos sofridos nos cárceres brasileiros, e das saudades da terra e da família. Alguns obtiveram sucesso em suas atividades na África. O poeta Tomás Antonio Gonzaga enriqueceu em Moçambique. Uns poucos puderam retornar ao Brasil, como José de Rezende Costa, o filho, que ainda exerceu importante cargo público em Minas Gerais, além de atividades parlamentares no Rio de Janeiro.

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A sentença de Tiradentes o condenou à morte na forca, segundo um ritual cumprido à risca. Seguindo a pé pelas ruas do Rio até o local da forca, depois de morto, teve sua cabeça cortada e levada a Vila Rica, onde foi afixada num lugar bem alto e visível, ficando lá até que o tempo a consumiu. Teve o corpo partido em quatro partes pregadas em postes, ao longo do caminho de Minas, local de seus "atos infames". Ele, seus filhos e netos, caso os tivesse, foram declarados infames, determinando-se que os seus bens revertessem para o Fisco e para a Câmara Real. Quanto à casa em que viveu em Vila Rica, se fosse sua, seria derrubada e o terreno salgado, para que nunca mais nada fosse erguido sobre ele; caso contrário, após avaliada, seus donos seriam indenizados em dinheiro, e a casa também seria destruída. O enforcamento aconteceu no Rio de Janeiro, no dia 21 de abril de 1792.

Para Maxwell, " a revolta planejada não se materializara, mas isto não escondia o fato de que um importante segmento do grupo social em que o Governo metropolitano devia confiar para exercer seu poder em nível local, em uma das mais importantes, populosas, ricas, e estrategicamente bem - situadas Capitanias brasileiras, tinha tido o atrevimento de pensar que podia viver sem Portugal (...). Por mais materiais que tivessem sido os seus motivos, os homens de Minas Gerais de 1789 tinham pensado em fazer uma República livre e independente e, devido a isto, os relacionamentos e crenças do passado tornavam-se totalmente transformados."

    Conjuração Mineira