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Educação Física e Educação para a Saúde
08 Janeiro 2016 | Por Luiz Otavio Neves Mattos
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O tema deste artigo é a promoção da saúde, entendida como uma questão de caráter coletivo. Ou seja, que requer a participação de toda a comunidade e que envolve a aquisição – individual e coletiva – de qualidade de vida.

Nesse sentido, destaca-se a importância da escola, em especial da disciplina de Educação Física, como propagadora desses saberes. Vamos sugerir um conjunto de atividades lúdicas e corporais a serem desenvolvidas durante a aula, com o objetivo de provocar nos alunos curiosidade sobre o funcionamento do corpo humano, em particular dos sistemas cardiorrespiratório, cardiovascular e digestivo.

Algumas perguntas podem surgir, como: Por que sentimos os batimentos do coração em diversas partes do nosso corpo?; Por que o coração bate mais rápido quando realizamos atividades mais intensas?; O que é o suor e por que suamos?; Qual é o papel dos músculos, dos ossos e dos nervos em nosso corpo?; O que e quanto devemos comer para não termos sobrepeso?; Por que e como a atividade física regular pode nos tornar mais saudáveis?; e outras mais, que serão esclarecidas a partir das atividades desenvolvidas na própria aula.

Nossa proposta é que a temática da promoção da saúde esteja vinculada à adoção de estilos de vida mais saudáveis por toda a população e não apenas por aqueles que têm condições de frequentar clubes e academias.

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Prevenção, para começo de conversa

Desde as últimas décadas do século XX, a Organização Mundial da Saúde (OMS) apontava para a necessidade de políticas públicas que privilegiassem a promoção da saúde a partir da melhoria nas condições de vida da população. Os investimentos na medicina curativa, àquela altura, tanto na Europa como na América do Norte, ultrapassavam (e muito) os custos com iniciativas em prevenção ou medicina social. A instituição reconhece que, a partir de 1960, novos equipamentos e novas terapias permitiram diagnósticos mais exatos e tratamentos mais eficazes, porém, apenas para grupos sociais de maior poder aquisitivo.

Segundo a OMS, o paradigma da promoção da saúde tem por base abranger toda a população, não somente os grupos de risco; direcionar as ações para os diversos fatores que influenciam a saúde; envolver uma variedade de estratégias e instituições, como as das áreas de comunicação, educação, legislação, desenvolvimento comunitário e outras; estimular a participação de toda a comunidade na aquisição individual e coletiva de estilos de vida mais saudáveis; e capacitar profissionais da área para tornarem viável a promoção da saúde também por meio da educação.

Com isso, pode-se perceber que a melhoria dos níveis de saúde e de qualidade de vida da maior parte da população não será alcançada somente com o desenvolvimento do setor hospitalar. Mais do que isso, são necessárias ações governamentais que objetivem a desmedicalização da saúde, seu entendimento como um tema multifatorial, o envolvimento comunitário na formulação das políticas e nas tomadas de decisões e, principalmente, a educação para a saúde. Ou seja, tratar da saúde (prevenção) em vez da doença.

O papel da escola

edfisica3A escola, principalmente a disciplina de Educação Física, tem importância estratégica na construção e na consolidação de conhecimentos necessários à formação de novas gerações capazes de compreender a necessidade da adoção de estilos de vida mais saudáveis e a saúde como um direito social de todos, independentemente de origem socioeconômica, local de moradia ou etnia.

Para isso, serão muito importantes as atividades lúdicas e corporais a serem desenvolvidas durante as aulas que vão estimular nos alunos o interesse pelo funcionamento do corpo humano como um todo e, particularmente, de seus sistemas cardiorrespiratório, cardiovascular e digestivo.

Além das atividades corporais, as aulas de Educação Física, por meio de estratégias pedagógicas, vão dialogar com saberes de naturezas distintas, mas, de alguma forma, presentes no cotidiano dos alunos do segundo segmento do Ensino Fundamental.

O primeiro deles tem origem nos conhecimentos e nas crenças presentes em seu repertório cultural, que são apropriados no convívio familiar, com os amigos ou por meio das diferentes mídias. Quem nunca ouviu, pelo menos, uma destas frases: “Se tomar banho depois de comer vai passar mal”; “Fazer muito exercício físico torna o coração grande demais”; “Quando temos algum traumatismo devemos friccionar bem o local”?

Outro conjunto de conhecimentos encontra- se no currículo escolar, especificamente no programa de Ciências do 8º ano, que trata de temas também presentes no planejamento de Educação Física em relação à promoção da saúde. E, ainda, em projetos interdisciplinares que trabalhem de forma transversal temas como: alimentação; obesidade; sistema locomotor; formação e função óssea, muscular e articular e o movimento humano; funcionamento dos sistemas cardiocirculatório e respiratório.

De posse desse material, pode-se sugerir vivências práticas e reflexões que permitam aos alunos melhorar sua condição física, adquirindo hábitos de vida mais saudáveis. Para isso, serão utilizados dois grupos de conteúdos: sistema cardiocirculatório; e alimentação e gasto energético.

"Embora ainda não existam estudos científicos comprobatórios, há fortes evidências de que jovens menos ativos fisicamente poderão se tornar adultos sedentários (...). Mas grande parte da população somente vai perceber a importância da atividade motora sistemática, na perspectiva da promoção da saúde, de 20 a 30 anos depois de ter frequentado as aulas de Educação Física do Ensino Fundamental”. Extraído de artigo de Guedes, D. P. e Guedes, J. E. R. P. publicado na Revista da Associação dos Professores de Educação Física de Londrina (1994).

Sistema cardiocirculatório

A partir das informações trazidas pelos alunos, serão criadas possibilidades para que eles ampliem e reorientem seus conhecimentos, de forma a estarem habilitados a: compreender que o coração é um músculo e, portanto, ao ser treinado, poderá se fortalecer como qualquer outro músculo; entender como o batimento cardíaco interfere na vida das células do corpo humano, na medida em que elas se alimentam do oxigênio conduzido pela corrente sanguínea, que, por sua vez, é bombeada pelos batimentos do coração; reconhecer as diversas partes do corpo onde é possível verificar quantas vezes o coração bate por minuto (pulsação); aprender a contar os batimentos cardíacos em situações de repouso absoluto, de repouso relativo (basal), logo após o exercício e na recuperação (cinco minutos após o término do exercício); compreender a relação entre a prática regular de exercícios e a melhoria do condicionamento físico; e diferenciar atividades aeróbias de anaeróbias.

Tendo em vista os conhecimentos já trabalhados, será possível desenvolver um programa de condicionamento físico coletivo, por meio do qual os alunos terão condições de executar as atividades propostas e de se monitorar mutuamente. Assim, poderão se apropriar de competências que vão proporcionar elevados graus de autonomia para a manutenção de hábitos saudáveis por toda a vida.

Fatores como turmas muito cheias, carga horária reduzida e pouco espaço disponível na maioria das escolas dificultam a individualização do treinamento e mesmo inviabilizam a execução de algumas atividades.

Dessa forma, a prática dos exercícios estudados e escolhidos deve extrapolar os muros escolares e acontecer nos bairros e nas comunidades onde os alunos vivem, em clubes ou em campos de várzea. E essas atividades serão, então, permanentemente avaliadas e monitoradas nas aulas de Educação Física e de Ciências.

Alimentação e gasto energético

edifisica4Nos dias atuais, para as crianças e os adolescentes do segundo segmento do Ensino Fundamental, a alimentação adequada e balanceada está associada, na maioria das vezes, à busca da forma ideal, segundo padrões ditados pela mídia. E se antes essa preocupação era predominantemente feminina, hoje assistimos a uma quase igualdade de gênero quando o assunto é conquistar um corpo modelado.

Especialmente nas turmas a partir do 8º ano, existem adolescentes tentando emagrecer a qualquer custo: entram e saem de dietas e regimes feitos por conta própria; se automedicam; ou mesmo praticam exercícios físicos sem orientação. Muitos deles apresentam taxas elevadas de colesterol ou hipertensão arterial, causadas pela má qualidade da alimentação, associada a altos graus de sedentarismo. Para os especialistas, a obesidade infantil será, em breve, um problema de saúde pública de grandes proporções se não forem criadas política emergenciais voltadas para combatê-la.

O poder de sedução exercido pelos meios de comunicação sobre crianças, adolescentes e jovens é enorme, sem dúvida, mas a escola, utilizando seus atores e sua capacidade de trabalhar a socialização dos conhecimentos entre os alunos, está capacitada a encarar mais esse desafio.

Alguns questionamentos podem ser estimulados em pesquisas ou debates tanto nas aulas de Ciências quanto nas de Educação Física, levando-se em consideração a realidade dos alunos e da escola. Exemplos: Como está a minha alimentação? O que eu como durante o dia é adequado e suficiente para me manter saudável? Estou ingerindo mais calorias do que preciso para o meu tipo de vida? O que são as calorias nos alimentos?

O que fazer para ganhar ou perder massa corporal (peso)? Qual é a relação entre alimentação e atividade física? É importante compreender de que modo o corpo produz energia para a prática de atividades físicas, a composição calórica dos alimentos naturais e industrializados; e saber dosar alimentação e exercícios físicos de forma prazerosa, e não visando somente conquistar padrões corporais muitas vezes inatingíveis.

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Atividades para sala de aula

edfisica5Em conjunto com o programa coletivo de condicionamento físico, os alunos podem identificar e descrever o tipo, a quantidade e a qualidade de sua alimentação diária. O trabalho vai apontar as possíveis diferenças entre aqueles que comem a merenda escolar, os que trazem comida de casa e os que compram alimentos na cantina da escola.

A partir dos resultados, o professor vai propor uma campanha de reeducação alimentar dentro e fora da escola que envolva a família e a comunidade, em conjunto com a disciplina de Ciências, principalmente nas turmas do 8º ano.

No final do semestre letivo, a escola poderá realizar uma Feira de Saúde aberta a toda a comunidade, para apresentar a produção acadêmica dos alunos nas seguintes formas: produção de jornal ou história em quadrinhos, para veicular na escola e na comunidade; realização de um filme documentário que apresente o trabalho dos alunos, com seus depoimentos e os de outras pessoas sobre as temáticas estudadas; e produção de um programa para a rádio comunitária.

O objetivo da iniciativa é apresentar aos pais, familiares, vizinhos e à comunidade em geral a produção acadêmica dos estudantes. E, ainda, socializar os conhecimentos para que todos tenham possibilidades e condições de se apropriar deles, o que vai conferir protagonismo à escola e a seus atores como formuladores de soluções locais.

(Texto de Luiz Otavio Neves Mattos, professor de Educação Física, extraído do fascículo Quem Disse que Estou Só Brincando?, da MultiRio).

 
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