Oriunda de uma família de baixa renda da Baixada Fluminense, fui criada por uma típica família brasileira das regiões menos abastadas do nosso estado: aquela que é formada por mãe e avó.
Apesar dos poucos recursos financeiros – minha mãe era auxiliar de serviços gerais e minha avó, camelô –, meus familiares sempre me rodearam de livros e revistas em quadrinhos
Neste núcleo familiar tão pequeno (que incluía uma irmã mais nova) mas tão cheio de afeto, o estudo era um dos valores principais. Em busca de "ser alguém na vida" e melhorar as condições de minha família, estudei em cursinhos comunitários e prestei vestibular até conseguir entrar para a faculdade que eu tinha como objetivo, pois sempre ouvi falar que era uma das melhores. Após algumas tentativas, consegui ingressar no Curso de Graduação em Pedagogia da UFRJ. Em 2021, concluí o mestrado em Educação pela mesma instituição.
A partir do projeto Rio de Leitores, a obra Alafiá, a princesa guerreira, da professora Sinara Rúbia, foi indicada para a apreciação das turmas de 4º ano. Após conhecer a narrativa do livro, a turma 1404 sentiu-se envolvida com a história da princesa do Reino do Daomé (atual estado de Benim, na África), que foi levada para uma terra distante e, escravizada, fugiu para um quilombo onde resistiu e lutou pela liberdade do seu povo.
O interesse das crianças também foi motivado pela temática dos diálogos desenvolvidos nas aulas de História e Geografia, que abordaram o processo de formação da sociedade brasileira, considerando a história dos povos originários e a imigração dos diferentes povos para o nosso país desde o período colonial.
A história da Alafiá permitiu que as crianças inferissem sobre a escravização dos povos africanos (considerando como foram obrigados a migrar para o Brasil), a resistência dos escravizados e a criação dos quilombos.
Considerando o interesse das crianças pela temática do livro, propus uma pesquisa, para ser feita em casa, sobre as vivências das mulheres africanas, rainhas e princesas, que foram escravizadas no período colonial.
A partir da pesquisa, as crianças encontraram histórias de mulheres pretas que lutaram pela liberdade do seu povo, como Amina de Zazau, Aina, rebatizada como Sara Forbes Bonetta, Nzinga Mbandi, Aqualtune e Sara Culberson – personalidades históricas incríveis de que pouco ouvimos falar nos livros didáticos.
Após as explanações das crianças sobre suas pesquisas, sugeri que fizessem ilustrações e registros escritos sobre essas personalidades para expor nos corredores da escola e compartilhar a pesquisa com a comunidade escolar.
Dando sequência à temática desenvolvida e considerando o interesse da turma por interpretar personagens de contos de fadas durante os momentos de brincadeiras, sugeri que as crianças preparassem uma apresentação teatral para a comunidade escolar.
A turma conseguiu assimilar em cada etapa do projeto como se constituiu parte da história da sociedade brasileira, o que possibilitou diálogos sobre racismo e os motivos que até hoje resultam em preconceitos contra a população afrodescendente.
Após a apresentação, a turma pediu que outros conteúdos abordados também fossem apresentados de forma teatral. Portanto, esse espaço suficientemente bom (Winnicott) possibilitou que as crianças desenvolvessem também suas habilidades socioemocionais, considerando que em todas as etapas foi necessário que cada aluno buscasse o reconhecimento da comunidade escolar em relação ao trabalho desenvolvido pela turma.