Como introdução ao tema, perguntei aos alunos se sabiam que fato histórico havia ocorrido no dia 13 de maio de 1888. As alunas mais velhas, em sua grande maioria, acertaram em cheio: fora o dia da assinatura da Lei Áurea, que oficializou a libertação dos escravos.
A partir dessa resposta, prossegui a conversa perguntando aos alunos se sabiam o que havia sido a escravização de pessoas negras vindas da África. Uns sabiam mais, outros menos, mas todos deram suas respostas.
Então, perguntei se eles achavam que os negros realmente haviam sido libertados e se hoje os negros permaneciam em liberdade. As respostas foram variadas e muitas vezes opostas.
O tema a ser trabalhado foi, pois, apresentado e, para iniciar o entendimento sobre a diáspora negra e para compreender as violências sofridas pelos povos escravizados, li um trecho (cantos IV e V) do poema Navio negreiro, de Castro Alves. Com o texto, relembramos a estrutura do poema e trabalhamos a intertextualidade com a Divina Comédia de Dante Alighieri, para melhor compreensão da palavra dantesco. Assim, discutimos o conteúdo do poema e o sofrimento do eu-lírico diante de todo o horror que presenciava. Depois, fizemos exercícios sobre o texto, visando à sedimentação da discussão realizada.
Na segunda aula, ainda lemos um texto de retomada histórica: uma crônica do jornalista e escritor Lima Barreto, intitulada Maio, em que o narrador conta como foi a reação das pessoas na cidade do Rio no dia da assinatura da Lei Áurea. Identificamos as características da crônica, discutimos as lutas abolicionistas por trás da Lei e como e como deve ter sido recebida em outros locais. Em seguida, trabalhamos atividades de compreensão e análise linguística.
Passadas as aulas iniciais, com discussões enfatizando os aspectos históricos, os alunos puderam sentir a gravidade e violência da escravidão, ao mesmo tempo em que se questionavam sobre os possíveis destinos dos escravos recém-libertos. Uma coisa lhes parecia clara: não haviam voltado para casa porque não tinham casa. Mas o que teria acontecido com eles, então? Com essa pergunta em mente, seguimos para a terceira aula, com a leitura do texto opinativo Abolição da escravatura: uma liberdade que nunca existiu (2022), da jornalista e escritora Marina Lopes, que traz para os dias de hoje a discussão sobre a libertação dos escravos, suscitando questões que ainda são problemas e desafios na vida da população negra brasileira. Após a leitura e discussão do texto e de seu gênero textual, fizemos exercícios escritos.
Na quarta aula, o gênero textual trabalhado foi a distopia. Primeiro, apresentei o significado da palavra e as características do gênero. Depois, os alunos assistiram ao filme Medida provisória (2022), do ator Lázaro Ramos. Finda a exibição, discutimos as situações de racismo apresentadas na narrativa, assim como as características de distopia identificadas na obra. Como atividade, propus aos alunos a redação de um texto opinativo: uma resenha crítica sobre o filme.
Este projeto foi realizado a partir da leitura de vários textos representativos de gêneros diversos. Assim, não utilizamos somente um texto-base. Todos foram igualmente importantes para a comparação dos gêneros textuais e para o desenvolvimento do tema.
Na quinta aula, ainda pensando nos problemas atuais vividos pelos negros e retomando o gênero textual da poesia, ouvimos as canções Todo camburão tem um pouco de navio negreiro, da banda O Rappa, e A carne, interpretada pela cantora Elza Soares. Com esses versos, reforçamos a estrutura do texto poético e trabalhamos algumas figuras de linguagem presentes nas letras das canções.
Finda essa parte, apresentei o conceito de necropolítica cunhado pelo intelectual camaronês Achille Mbembe e passamos a relacionar este conceito ao conteúdo das canções; depois o relacionamos à experiência de vida dos alunos, em sua maioria negros e moradores de comunidades. Para sedimentar a leitura e compreensão, fizemos exercícios de interpretação e análise linguística.