Este relato parte da formação realizada pela Escola de Formação de Paulo Freire (E/SUBE/EPF), idealizado e implementado pela Gerência de Formação de Educação Infantil (GEFEI) em parceria com os formadores de Educação Infantil das Gerências de Educação das Coordenadorias Regionais de Educação. O tema abordado neste encontro foi a importância da Corporeidade na prática docente.
Após a dinâmica de apresentação dos participantes, a formação teve como primeira proposta o levantamento dos conhecimentos prévios sobre a temática abordada.
Essa proposta inicial visa a percepção dos conhecimentos que os professores trazem consigo, para que sejam refletidos, discutidos e tensionados.
“O que é corporeidade?”
A partir dessa pergunta, é possível refletir acerca da Corporeidade e como esse tema tem conversado com o cotidiano escolar.
É trazido para os professores as concepções de um corpo integral e integrado com a natureza, com a vida e com a ancestralidade. (GEFEI,2023)
Quando analisamos esse corpo na escola, percebemos que nem sempre as práticas escolares atendem a demanda do brincar como linguagem e a livre expressão deste corpo.
Para ampliar o debate, é feita a indagação: Estamos conseguindo garantir liberdade, expressão e autonomia para as crianças? Por que e como?
Há uma diversidade de respostas para essa pergunta, que vai desde garantir segurança a criança para que não se machuque até o engessamento dos corpos pela rotina escolar.
Neste contexto, iniciamos um debate sobre como garantir segurança a um corpo que não se move, que não se conhece, que não se expressa. Refletimos que manter as crianças enfileiradas nos “trenzinhos” para se locomoverem pelo espaço escolar, não garante segurança, somente o controle dos corpos destas crianças.
A proposta seguinte visa perceber que nosso corpo comunica afeto, rejeição ou tensão por meio do gesto. A violência não está só na agressão física!
Os professores foram separados em dois grupos. O primeiro grupo se vendou e se organizou em roda, enquanto o segundo grupo orientado pela formadora passava pelos colegas vendados, em silêncio e reagiam com encontrões e pegavam pelas mãos, ombros e queixos com firmeza. No segundo momento, o grupo vendado trocava de lugar com o que estava sem venda. Nesta hora, os professores vendados que esperavam pela mesma conduta de seus colegas, eram surpreendidos, pois o grupo sem a venda, sob orientação da formadora, agia com carinho, beijos na testa, na mão e abraços fortes.
Essa dinâmica foi primordial para disparar sentidos diversos sobre as relações entre adultos e crianças no cotidiano escolar.
Por fim, as provocações de Daniel Munduruku e Azoilda Trindade sobre o tempo circular, as dimensões do passado e presente que se auto reforçam mutuamente, além da valorização do corpo preto trazido da África e a importância de valorizá-lo como patrimônio ancestral, foram excelentes para a proposta seguinte de conclusão do encontro: a dança circular.
O uso da brincadeira como linguagem foi disparador para diversas observações, sobre a rotina fracionada e como as experiências podem ser atravessadas pelas demandas na “rotina de cuidado”. A partir dessas observações, foi possível trazer para o grupo que a rotina não precisa ser um tempo duro e que podemos pensar em viver a rotina do dia de forma a atender a liberdade e autonomia das crianças por meio da relação e ludicidade. A hora da entrada e saída, pode se tornar chegadas, reencontros e despedidas, um tempo oportuno para conversas com as famílias convidar para um tour pela escola etc. Neste contexto, pode-se pensar também sobre a organização dos espaços de forma diferente para cada ação, com materiais adequados para o jogo simbólico, espaços que propiciem autonomia, a identidade, a fantasia e, ao mesmo tempo, acompanhar e interagir com as crianças, pois o cuidado se dá de maneira relacional.
Os relatos acerca das possibilidades pensadas a partir das reflexões feitas na formação, foram diversos, principalmente no diálogo com a gestão sobre tempos e espaços que considerem a corporeidade, respeitando a criança como um sujeito que se expressa também através do movimento.
Artigo - CORPOS CHEIOS DE SI E DO OUTRO: ENCONTROS ENTRE CRIANÇAS E ADULTOS NA CRECHE Adriane Soares dos Santos, Daniela Guimarães, Deise Arenhar - Acesso 24/02/2023
EDUCAÇÃO INDÍGENA: DO CORPO, DA MENTE E DO ESPÍRITO Daniel Munduruku
O CORPO NOSSO DE CADA DIA: CORPOREIDADE E FORMAÇÃO DE PROFESSORES Adriane Ogeda Trindade. Azoilda Africanidades brasileiras e educação [livro eletrônico] : Salto para o Futuro / organização Azoilda.