CATHERINE LEVENHAGEN LUZ PERTH
Há 23 anos no magistério. Professora da Rede Pública Municipal de Educação do Rio de Janeiro em regência de turma de educação infantil desde 2001. Pedagoga formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pós-graduada em Psicopedagogia pela Universidade Cândido Mendes.
CARGO/FUNÇÃO DO AUTOR: Professora de Educação Infantil
JAQUELINE DE OLIVEIRA COSTA MELO
Há 12 anos no magistério. Professora da Rede Pública Municipal de Educação do Rio de Janeiro em regência de turma de educação infantil desde 2021. Pedagoga formada pela Universidade do Estado do Pará. Pós-graduada em Educação Especial Inclusiva e mestranda na temática de ensino da pessoa com deficiência visual. Formadora de professores na área de comunicação aumentativa e alternativa.
CARGO/FUNÇÃO DO AUTOR: Professora de Educação Infantil
CAROLINA FERRAZ LOUREIRO
Há 5 anos no magistério. Professora Adjunta da Rede Pública Municipal de Educação do Rio de Janeiro de educação infantil desde 2024. Pedagoga formada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pós-graduada em Neuropsicopedagogia pela Uyleya.
CARGO/FUNÇÃO DO AUTOR: Professora Adjunta de Educação Infantil
O E.D.I. Chácara do Céu atende a temática étnico racial desde 2014, com a desmistificação do tom salmão, que normalmente é atribuído à uma cor de pele universal e natural, através da oferta de materiais que contemplem a paleta de cores de peles diversas para produções infantis, ofertados diariamente.
Em 2022 a reflexão se estendeu para a representatividade no brincar, levando à criação de bonecos racializados para inclusão nos brinquedos da turma.
O objetivo é incentivar a autoestima, a autoidentificação e a representatividade com o desenvolvimento da proposta do produto educacional Desvirando do avesso, nascendo o boneco (Ferreira, 2023), além de reconhecer e trabalhar questões que surjam, colaborando com uma Educação Antirracista responsável, visto que é acompanhada por uma constante e consistente formação de professores , além de espaços de reflexões e/com extensão do tema para familiares e adultos que estão em convívio com essas crianças e com toda a sociedade.
Neste ano, percebemos a necessidade de renovação do nosso acervo de bonecos.
Para introdução da prática, escolhemos o livro “Nossas cores”, onde as crianças observando o que entenderam da página fotografada , exclamaram: : "É o arco-íris das cores de pele!”
Destacamos essa frase não só pela sua grandeza poética, mas porque mostra a importância da oferta de materiais para a produção infantil (giz de cera, canetas e lápis de cor nos tons de pele).
O assunto que mais movimentou as descobertas das crianças da turma EI-41 foi o tom de pele da própria professora, branca (auto identificada) em tonalidade muito clara. E em dinâmica de roda de escuta, uma fala sobressaltou a equipe pedagógica, que descrevemos:
A professora perguntou “Vocês gostam da cor da pele de vocês?”
Dentre os sins e outras demonstrações corporais de auto amor e aceitação (comparações alegres entre colegas, “auto carinhos”,...) uma criança preta (auto identificada) respondeu: “Não!”. E ao ser perguntado sobre o porquê, disse: “Eu me machuco muito”. Na sequência, mesmo com a professora dizendo que os machucados físicos que incidem sobre a pele dele, também incidem na dela, da mesma forma (sangramento, casquinhas, roxidão), ele disse que se fosse da cor da professora, não se machucaria tanto.
A escola mobilizou-se para entender a dor dessa criança e trouxe a família para uma conversa de acolhimento, oferecendo materiais afro referenciados (a professora da turma possui preocupação de buscar e oferecer materiais de qualidade e interessantes além dos presentes na U.E.) para o espelhamento positivo dessa criança, e também da mãe.
Na turma EI-51 as crianças, ao lerem o livro, demonstraram curiosidade numa criança ilustrada com “a pele com manchas” (vitiligo) e a professora explicou o motivo.
Após a leitura, foi apresentado o material para a confecção dos bonecos e bonecas (Ferreira, 2023).
As crianças participaram ativamente de todo o processo, observando as tonalidades de pele, colocando o enchimento, escolhendo o tipo e cor de cabelo, vestindo a roupa que representa o uniforme e finalizaram fazendo o rosto sendo incentivados a reconhecerem-se nesses momentos.
Foi então que a turma EI-51 pleiteou um boneco com “manchinhas” (vitiligo) também para compor com acervo e os brinquedos da sala, mesmo não tendo entre as crianças matriculadas esse caso.
Com essas vivências fomos atravessadas e entendemos que o preconceito e a discriminação estão presentes também em cotidianos infantis, mas não necessariamente partem das próprias crianças, sendo necessária a intervenção também para os adultos. O tema foi tratado em reunião de responsáveis (cuidando da ética de não citar nomes, como aqui) e há ainda a proposta de uma roda de escuta adulta para este tema.
Nossas crianças estão mais seguras de si, com uma melhora na autoestima, além de reconhecer, registrar e nomear seu tom de pele naturalmente. Reconhecer e trabalhar essas questões nos traz a importância de uma Educação Antirracista responsável, com formação de professores consistente e espaços de reflexões, além da extensão do tema para familiares e adultos que estão em convívio com essas crianças e com toda a sociedade.
Destacamos que a criança mencionada no relato verbaliza, atualmente, que gosta do seu tom de pele.
MILLER, Edward. Nossas cores. Happy Books. 2022.
FERREIRA, Kamilla Augusta Broedel. Desvirando do avesso, nascendo o boneco: um olhar descolonizador sobre os acervos escolares. trabalho de conclusão de curso (pós graduação) do IFMG – Campus Bambuí, Curso pós graduação latu sensu em Educação para as Relações Étnicos-Raciais.- 2023.