SHIRLEY OLIVEIRA TOLEDO
Me chamo Shirley Oliveira Toledo, sou uma mulher preta, tenho 40 anos, moradora da Penha, bairro da zona norte do Rio de Janeiro. Sou docente da E. M. Conde de Agrolongo, localizada também na Penha, formada em Letras - Língua Portuguesa/ Literaturas de Língua Portuguesa -, pós-graduada em Língua Portuguesa, Linguística e Produção textual, ambas pela Universidade Estácio de Sá. Atuo como docente da SME há 15 anos, e há 10 anos estou nesta U.E.
Em 2024, comecei a participar do GT da GERER da 4a. CRE e da formação do Território Educador, o que potencializou as minhas ações de fortalecimento e valorização da identidade racial e das campanhas de antirracismo nas turmas 1601 e 1602 (6o. ano Carioca), multiplicando essas discussões para toda a escola e comunidade.
CARGO/FUNÇÃO DO AUTOR: PROFESSOR II - 40 horas
LUCIANE ALVES LESSA DE OLIVEIRA
Sou Luciane Alves Lessa, coordenadora do Ensino Fundamental 1 da E.M. Conde de Agrolongo na Penha, anteriormente coordenadora de Fundamental 2 da E.M. Odilon Braga em Cordovil. Formada em Bacharelado e Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Professora da Rede Municipal de Ensino, onde leciono desde 1995, e com dois anos de experiência no EJA na Rede Estadual do Rio de Janeiro. Durante esses anos de Magistério sempre tive a preocupação de trabalhar o protagonismo do aluno, a diversidade e a inclusão, a educação antirracista e o desenvolvimento das competências socioemocionais.
CARGO/FUNÇÃO DO AUTOR: COORDENADORA PEDAGÓGICA
À partir da minha participação no GT da GERER, surgiu a ideia do Projeto "Escrevivências, só nós podemos contar a nossa história", pois identifiquei na potência da escrita da autora "Conceição Evaristo", uma oportunidade de trabalhar com os meus alunos assuntos como: protagonismo, identidade e potência do território em que eles vivem - o bairro da Penha e as comunidades da Vila Cruzeiro, Chatuba e Kelson.
Objetivos:
Valorizar a cultura do território escolar e do seu entorno.
Fortalecer o protagonismo dos alunos valorizando as suas vivências.
Apresentar autores da literatura afro-brasileira, em especial " Conceição Evaristo".
Abordar a importância da favela como espaço cultural, histórico e social.
Propiciar ações para que os alunos compreendam sua importância na construção de uma sociedade antirracista e equânime.
Nosso projeto teve início em uma das ações do plano de ação da nossa Unidade Escolar - Censo da Diversidade - em que os alunos precisaram declarar sua etnia. Essa primeira ação permitiu diversos desdobramentos envolvendo ações com foco na auto aceitação, na valorização dos traços de cada aluno e de suas origens. Cada aluno compartilhou em rodas de conversa, um pouco sobre a sua origem e o tempo da história da sua família no bairro.
Em meio a essas ações de resgate das memórias pessoais e do bairro, surgiu a atividade "Vocabulário de Cria" em que eles trouxeram para a sala de aula gírias locais e seus significados.
Foi criado um glossário com as informações compartilhadas entre eles, sendo produzido um primeiro vídeo sobre esse tempo.
A medida que percebeu-se esse movimento de apropriação e valorização da sua própria cultura e identidade, iniciamos o trabalho da apresentação de escritores relevantes da cultura indígena, africana e afro-brasileira. A autora que mais chamou atenção dos alunos foi a escritora Conceição Evaristo, por sua biografia potente de mulher preta, que viveu por muito tempo em uma favela e precisou lutar muito para ter seu reconhecimento acadêmico.
Os temas que ela trazia em sua obra permitiram diversos momentos de troca e reflexão. Temas relevantes como desigualdade social, a mulher negra na sociedade, a violência contra pessoas negras, as dificuldades da vida em uma favela e principalmente suas "escrevivências", termo que imediatamente gerou curiosidade nos alunos de ambas as turmas.
As turmas também realizaram uma pesquisa sobre expressões racistas e seus significados, o que nos proporcionou a reflexão coletiva sobre a importância de ser antirracista, independente da nossa cor de pele, visto que o público das duas turmas é bastante miscigenado. Esse momento de troca propiciou a compreensão sobre como o racismo é um problema que vai além das discussões escolares, mas um problema social que infelizmente ainda tira a oportunidade de muitos jovens negros e de seus familiares e que ações efetivas devem ser realizadas, principalmente para dissociar a figura de pessoas negras apenas da escravidão e valorizar essa cultura ancestral daqueles que ajudaram, mesmo que forçadamente a construir nosso país.
Com todo o debate gerado produzimos mais dois vídeos: um sobre discriminação, preconceito e racismo e outro sobre os tipos de racismo existentes, com foco no chamado racismo recreativo, que foram postados no Instagram da U.E. Finalizando a atividade com a produção textual, onde cada aluno escreveu sobre a sua "Escrevivência" - escrita que nasce do cotidiano, das lembranças e das experiências de vida - culminando com a confecção de um mural que foi exposto no pátio de entrada da escola.
A partir das ações realizadas percebeu-se uma mudança no comportamento dos alunos e no interesse por obras de autores e autoras negros e brasileiros e até mesmo na sua postura em relação a temas sociais que antes não despertava tanto o interesse deles. Com relação a valorização da sua própria identidade, notou-se uma maior autoaceitação e valorização dos traços étnicos.
Muitas vezes, eles mesmo trazem para as rodas de conversa em sala de aula temas de seu cotidiano, e problemas do território, como violência e falta de ações públicas de melhoria da vida em sua comunidade. Os alunos também foram capazes de externar em sua escrita suas dores e alegrias.
Sendo assim, consideramos que o projeto foi bem sucedido, visto que conseguimos trabalhar temas importantes como protagonismo, etnia e identidade, valorização das culturas dos povos que formaram a nossa sociedade e a importância de conhecer, cuidar e valorizar seu território e ser dono da sua própria história.
Escrevivências: Identidade, gênero e violência na obra de Conceição Evaristo- Ed. Malê.
Grupo de pesquisa " mulheres negras". Conceição Evaristo - Ed. Mostarda
http://www.iea.usp.br/noticias/a-escrevivencia-carrega-a-escrita-da-coletividade-afirma-conceicao-evaristo
ttps://sites.google.com/view/gerer-sme/início