NAYARA CARDOSO MARIANO
Pedagoga formada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), com especialização em psicopedagogia pela Faculdade São Judas Tadeu, e pós-graduanda em História da África e da Diáspora Atlântica pelo Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), é professora Antirracista e apaixonada pela alfabetização. Atuante em uma escola com público-alvo de duas grandes favelas do Rio, Cidade de Deus e Gardênia Azul, começa a despertar seu olhar para as singularidades presentes no processo de alfabetização de crianças desses Territórios repletos de histórias, memórias, identidade, resistência e cultura! Em sua prática, visa alfaletrar para além do nosso sistema linguístico, possibilitando também um letramento racial – afrobetização! Acredita na Educação para as Relações Étnico Raciais como potente ferramenta emancipadora e libertadora para uma formação social mais equânime que valorize e respeite nossas raízes ancestrais e a população afro-brasileira e indígena.
CARGO/FUNÇÃO DO AUTOR: Professor de Ensino Fundamental Anos Iniciais
O projeto desenvolvido com a turma de 2º ano do Ensino Fundamental tem por objetivo central o conhecimento e valorização, através de pesquisas e experiências práticas, do Território ao qual a escola está localizada, bem como seu entorno, com destaque para as Favelas da Cidade de Deus e Gardênia, exaltando as contribuições culturais que emergiram das periferias do nosso país e do mundo, como o Graffiti, o samba e o charme.
Em contrapartida, e não menos importante, outros objetivos vão sendo desenvolvidos e alcançados. Não há como falar de favela e não trabalhar as contribuições e memórias afro-brasileiras presentes nela e na formação social brasileira. Foi possível também conhecer e valorizar o território dos estudantes para além de estigmas bem difundidos pela mídia, exaltando suas potencialidades em representatividade e produção artística-cultural; Além do resgate a memória e formação da identidade, subjetividade e pertencimento dos alunos a esses territórios e a cultura que os cerca.
Em 2024, o GET Azerbaijão tinha como PPA o tema “De onde venho, para onde vou”, pautado na Educação Antirracista e valorização do território, memória, identidade e ancestralidade dos estudantes e familiares da comunidade escolar.
Já muito reflexiva e sensibilizada pelas falas diárias das crianças sobre seus territórios, mas sempre de forma negativa e pejorativa, percebi que já havia passado da hora de valorizar esses espaços destacando suas potências – que são muitas!
O projeto (Favela: Cultura que nos cerca) foi desenvolvido durante todo o ano escolar, caminhando lado a lado com a ERER e a entendendo como currículo. De forma geral, é possível dividi-lo em 3 grandes momentos: Mapeamento Afetivo do Território; Conhecendo a Cultura do Graffiti; E Ritmos das Periferias.
No primeiro momento muitas Rodas de Conversa com o tema FAVELA surgiram com o objetivo de ouvir as crianças e entender mais sobre sua relação com o Território em que vivem ou que convivem. Um trabalho de investigação, curadoria, pesquisa, para compreender múltiplas realidades e projetar as futuras intervenções pedagógicas. Nas Rodas de Conversa foram compartilhados assuntos referentes a origem das favelas do Rio (incluindo as deles), etimologia da palavra, características desses espaços, e pontos positivos e negativos dos seus territórios. Além da oralidade, a escrita de textos individuais e coletivos, também se fez presente em todas as etapas. Nesse primeiro momento ficam bem marcados 3 valores civilizatórios afro-brasileiros, como nos ensina Azoilda Loretto: a oralidade, a circularidade e o axé, através do fortalecimento e autoestima da energia vital.
Foi usado, nesse primeiro momento, como sensibilização, o livro “Da minha janela” do autor Otávio Júnior (2019), que desencadeou produção de poemas com o tema “Da minha janela vejo...”, e a construção de seus Mapas Afetivos sobre o Território através de fotografias tiradas de suas janelas e a utilização do “Google Earth” no colaboratório da escola.
O segundo e o terceiro momentos são marcados pela experiência de vivências afetivas e sensoriais com os movimentos culturais que emergiram das periferias e com seus representantes do próprio Território escolar. No segundo momento tivemos a parceria do artista plástico Henrique Lopes, cria da comunidade, onde os alunos participaram de uma oficina de Graffiti e protagonizaram junto com suas famílias a confecção de um painel no muro da escola. No terceiro momento, a musicalidade, outro valor civilizatório afro-brasileiro, se tornou destaque. Embalados pelo livro “De passinho em passinho”, também do autor Otávio Júnior(2021), conhecemos sobre alguns ritmos nascidos nas periferias, entre eles o funk, jongo, samba e charme. Para a Feira Literária da escola, aberta à comunidade, os estudantes prepararam uma "batalha de passinhos" e participaram de uma aula de charme, também com um representante da nossa comunidade. Para exposição, a maquete de uma favela e trabalhos feitos durante todo ano letivo.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional. Brasília, DF: Ministério da Educação, 1996.
BRASIL. Lei10.639/03. Brasília: 2003.
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: 2004.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno. Resolução 3. Brasília: 2004.
BRASIL. Lei 11645/08. Brasília: 2008.
CAVALLEIRO, Eliane. Racismo e Antirracismo na Educação: Repensando nossa escola. 7ª Ed. Editora: Selo Negro, 2024.
GERER. Guia: Educação para as Relações Étnico-Raciais. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Educação, 2023.
JÚNIOR, Otávio. Da minha janela / Otávio Junior: Ilustrações de Vanina Starkoff. 1ª Ed. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2019.
JÚNIOR, Otávio. De passinho em passinho: um livro para dançar e sonhar / Otávio Junior: Ilustrações de Bruna Lubambo. 1ª Ed. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2021.
TRINDADE, Azoilda Loretto da. Valores Civilizatórios Afro-brasileiros na Educação Infantil. Salto para o futuro. CEERT. Disponível em: https://educacaoinfantil.ceert.org.br/pdf/artigos/Valores_civilizat%C3%83%C2%B3rios_afrobrasileiros_na_educa%C3%83%C2%A7%C3%83%C2%A3o_infantil%20_Azoilda_Trindade.pdf
SILVA, Rodrigo Torquato da. Escola-Favela, Favela-Escola. 1ª Ed. Rio de Janeiro: DP et Alii, 2012.