Através do Projeto Político Pedagógico da escola, coletivamente orientamos as práticas pedagógicas pelo olhar das crianças. Nossa escola fica situada no bairro do Méier e atende principalmente estudantes do bairro e do Complexo do Lins. Com a proposta temática do projeto anual versando sobre "Linhagem suburbana" propus para turma de 5º ano uma prática escrevivente de investigação negro-refrencianda de nosso território, que alia a visibilidade das histórias de vida das crianças(em sua maioria negras) com a inserção da contribuição da cultuta afro-brasileira no currículo escolar. O importante levantamento histórico sobre a Serra dos Pretos Forros, presente no Material pedagógico da rede, nos conduziu a pesquisa e interlocução com as experiências das crianças junto as suas famílias para desvendar o nosso território como força ancestral. Nesta pesquisa pudemos conhecer a história de vida e luta coletiva de personalidade negras que moraram nos bairros do entorno da escola, locais de vivência das/dos nossas/os estudantes. Tais como, Lima Barreto,morador de Todos os Santos;Martinho da Vila,que morou no pé da Serra dos Pretos Forros, atual Boca do Mato ;Elza soares, que viveu no Morro da água Santa, também território da Serra; Clementina de Jesus, que morou no Bairro do Engenho Novo; Mussum, morador da favela da Cachoeirinha; Ivone lara,que trabalhou junto a Nize da Silveira no Engenho de Dentro; Luiz Gonzaga, que morou no Cachambi e Cruz e Souza, poeta que morou no bairro do Encantado; A pesquisa sobre a vida e contribuição das personalidades negras indicadas foi feita pelo olhar poético das crianças através da arte do Projeto Negro Muro. No co-laboratório do Ginásio Tecnológico as crianças construíram o GetCast - uma apresentação escrita e oralizada (no aplicativo Canva) das investigações que fizeram sobre o território da escola e do seu entorno. Construímos ainda tabuleiro de jogo de trilha baseado no mapa afetivo do grande Méier, destacando a localização da Serra dos Pretos Forros e as favelas que compõem este espaço e que são invisibilizadas pela cartografia oficial. Ao longo do primeiro semestre de 2024, desvendamos os territórios de pertencimento da comunidade escolar, sob a perspectiva das experiências das crianças e revelando histórias de vida antes silenciadas. Foi possível construir críticas sociais sobre a interdição de corpos e espaços, fomentar a organização coletiva contra o racismo e outras exclusões, mas sobretudo potencializar as identidades que vão se encontrar no espaço plural da escola.

O trabalho foi ampliado na Mostra Cultural da UE, foi possível observar que um currículo na perspectiva da Educação para as Relações Étnico Raciais quando construído com o protagonismo das crianças toma potência sobre a (re)elaboração de identidades, pertencimento ao espaço escolar, adensa atividades mais orgânicas que fazem sentido e fazem sentir. Pudemos observar o envolvemento das crianças com a pesqusia dos seus territórios, despertando o olhar para arte nos muros, significando a presença das personalidades negras grafitadas pelo projeto negro muro. Foi possível marcar o territórios pelos sentidos das crianças que contaram suas histórias e indicaram a localização de suas casas, antes invisibilizadas em uma pesquisa inicial. Pensar que somos a linhagem suburbana, é pensar que outras e outras antes de nós já marcavam este espaço e abriram caminhos que vamos continuar.