As práticas nasceram a partir das experiências das crianças com a plantação da horta da escola e das atividades investigativas e brincantes, no quintal da escola. Durante o semestre, questionamentos e hipóteses sobre como as árvores crescem e florescem, sobre os cheiros das "plantinhas da horta", o porquê das flores caídas no chão e a possibilidade de fazer perfumes com elas fizeram parte das conversas das crianças. A partir disso, decidimos aprofundar essas investigações transformando a sala referência da turma EI-44/2024 em um grande laboratório científico. Confeccionamos um microscópio, separamos lupas, provetas, funil e elementos da natureza. Além disso, usamos o computador, a internet, imagens e vídeos para ampliar nossos estudos sobre a produção de perfumes. Nossas pesquisas foram pautadas em conhecimentos ameríndios, conhecimentos africanos e afrodiaspóricos sem descartar os conhecimentos de base europeia para a confecção desse produto. Conhecemos o trabalho de Moctar Dembele e Gerard Niyondiko, jovens africanos, que criaram um sabonete que repele o mosquito da Malária feito de ervas locais, manteiga de karité e citronela. Descobrimos que algumas plantas podem ser usadas como repelentes, há plantas que curam e alimentam e nos dedicamos sobre o uso da natureza para a criação de sabonetes e perfumes. Tem sido interessante descobrir a origem do cheiro de muitos cosméticos com cheiro de lavanda, erva-doce, rosas, camomila e etc. A experiência com a criação do perfume das flores permitiu que as crianças observassem as transformações oriundas das misturas de ingredientes, o trabalho com medidas, receitas e outros saberes. A prática também reforçou a ideia de toda criança ser um cientista nato. Tivemos a escola como um grande laboratório, a natureza como objeto de pesquisa e os saberes ancestrais como referencias teóricos-metodológicos. Tem sido incrível pesquisar e descobrir a origem de tantos cheiros de perfumes e de sabonetes… São os cheiros da natureza. E as práticas de pesquisas seguem, já que as crianças seguirão produzindo trouxinhas aromáticas com os cheiros das plantas e das ervas da horta da escola e da natureza que nos cerca, culminando em uma exposição artística e cultural, no pátio da escola, para toda a comunidade escolar, em dezembro de 2024.

Para além dos saberes compartilhados e adquiridos, ao longo das vivências das práticas, observa-se o aumento da autoestima das crianças da turma. É comum ouvir frases do tipo "eu sou muito inteligente. Eu sou cientista". "Eu sei pesquisar e fazer perfumes." "Aquela cientista da foto é igual a minha tia...", entre outros impactos. Dito isso, é possível sustentar a ideia da importância de uma educação que permita que crianças negras, indígenas e brancas cresçam naturalizando a presença desses povos em lugares de pesquisa, de ciência, de estudos e não de forma estereotipada e estigmatizada. É preciso imagem para recuperar a existência de uma identidade positiva a respeito de pessoas não brancas. É preciso olhar o currículo e as práticas antirracistas dentro do espaço escolar para além de apenas a cultura africana e indígena. Faz-se necessário ampliar as discussões e as práticas sob essa perspectiva da ciência, tecnologia e entre outros saberes desses povos. Assim essa prática foi ancorada