Meu nome é Luana. Sou professora de Educação Física na rede municipal do Rio de Janeiro desde 2017; mestranda em Educação Física pelo Programa de Mestrado Profissional em Educação Física da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (ProEF/UFRRJ); especialista em Inclusão em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e psicomotricista educacional pelo Centro Universitário IBMR, no Rio de Janeiro. Sou apaixonada por manifestações artísticas, em especial, as danças da cultura popular.
Nossa atividade foi desenvolvida entre maio e junho de 2022 em uma turma de 26 alunos de 5º ano do Ciep Gregório Bezerra (4ª CRE), Penha Circular. Minha proposta de ensino de dança inspirou-se na coreografia protagonizada pelo grupo folclórico Ciranda de Tarituba, de Paraty (RJ). Meu objetivo foi estabelecer uma relação com outras danças, de modo a garantir aos sujeitos escolares a oportunidade do acesso a uma cultura diferente da que vivenciam, ampliando, assim, suas percepções de mundo.
A atividade se iniciou com a produção de um desenho feito pelas crianças a partir da seguinte provocação: “Qual a primeira lembrança que te vem à cabeça quando falamos a palavra dança?” Depois desse primeiro levantamento de informações, assistimos a vídeos sobre três ritmos musicais: o kuduro, o samba de roda e o passinho do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Na sequência, além de discutirmos as características comuns aos conteúdos dos três vídeos e as diferenças entre eles, perguntei aos alunos quem já conhecia todas aquelas danças. Sobre os elementos em comum, as respostas apontaram “a roda”, “as pessoas pretas”, “a periferia”, “os gestos” e “a exibição”. Também tivemos comentários como “são muito habilidosos”, “parece o beco lá da rua”, “lugar pobre”, entre outros.
Munanga (2005) fala sobre aproveitar esses momentos para que as crianças possam ter orgulho e assumir com dignidade suas características, mostrando que diversidade não é um fator de superioridade/inferioridade entre grupos humanos, mas um elemento de enriquecimento da humanidade em geral.
Outros pontos como as origens e questões históricas de cada dança, o que influenciou o surgimento de cada uma delas, a motivação, os locais em que elas acontecem, o preconceito e a discriminação que sofrem seus dançarinos foram abordados em nossas discussões:, entre outros aspectos.
Em seguida, fizemos a leitura do livro De passinho em passinho – um livro para dançar e sonhar, de Otávio Júnior (2020). Como amplificação do livro, recebemos o grupo Passinho Carioca, também do bairro da Penha Circular, para uma oficina com a turma sobre esse estilo de dança urbana, criado e desenvolvido por jovens das favelas cariocas.
Foi um encontro rico e que ajudou a ampliar as discussões que eu já havia iniciado com a turma sobre a discriminação e o preconceito que a prática de danças consideradas periféricas sofre na sociedade.
Depois dessas experimentações, propus que ampliássemos ainda mais o nosso acervo cultural conhecendo uma nova dança, que carrega consigo influências indígenas e africanas: a Ciranda de Tarituba.
Os alunos, então, conheceram a história do local, a origem da dança e suas influências. Assistimos a vídeos da Ciranda de Tarituba e refletimos que, mesmo tendo a diferença de ser uma dança de pares, pudemos perceber características comuns como a formação em roda, a intenção de ser um encontro festivo, um baile popular, e que compartilha o cotidiano da comunidade, trazendo a afirmação do seu valor e o orgulho de sua cultura.
Foi também uma oportunidade de debater as questões de gênero que surgiram. Seguimos com a construção de uma coreografia, discutindo os pares, os figurinos e conciliando discussões sociais e culturais e prática corporal.
A escolha do tema se mostrou bastante significativa para os alunos, que puderam construir um processo que partiu das “memórias dançantes” de cada um e foi se ampliando para outras discussões tão relevantes no processo formativo deles.
Compreendo que o ensino da dança, além de uma exigência legal/curricular, pode e deve proporcionar experiências educativas que envolvam a Erer (Educação das Relações Étnico-Raciais) na trilha do combate ao racismo.
Percebi que valorizar os conhecimentos e identidades desses alunos por meio das danças nas aulas de EF (Educação Física), favorece a compreensão cultural da sociedade e que o trabalho desenvolvido nas aulas foi capaz de reverberar e mobilizar os atores como um todo, provocando mudanças e transformações positivas no cotidiano escolar e comunitário.