Somos professores do Peja da E.M. Padre Manuel da Nóbrega (4ª CRE), situada em Ramos, Zona Norte da cidade. A escola iniciou o Peja em 2012 e, desde então, estamos aprendendo muito com as experiências trazidas por alunos e alunas durante este percurso. Trabalhamos temas que possam trazer reflexões sobre a nossa realidade, trocando experiências, dando voz aos invisibilizados e ouvindo muito daqueles que constituem o ativo mais importante da escola – nossos alunos e alunas, na luta pela conscientização sobre seus direitos, por um país plural e por uma cidadania plena.
Professor I: Marcelo (Hist), Karla (LP), Tania (Mat), Vanessa (Cie); Professor II: Luciana e Ana Maria.
EJA I Bloco 1 , EJA I Bloco 2 , EJA II Bloco 1 e EJA II Bloco 2
Apesar de confrontada por uma herança histórica do sistema social patriarcalista, a mulher tem-se inserido cada vez mais como protagonista na sociedade, assumindo novos papéis que vão além do status de dona-de-casa, mãe e esposa. A mulher passou a ocupar postos no mercado de trabalho e cargos de liderança em escolas, universidades, empresas, cidades e até países.
Assim, foi preciso discutir as questões de gênero considerando a importância da defesa dos direitos e da igualdade entre os indivíduos para a construção de uma sociedade mais justa, equânime e democrática. E a partir do que foi sendo discutido na sensibilização que fizemos com nossas alunas, muita coisa emergiu e muitas abriram os corações, contando-nos seus problemas e sofrimentos. Isso parece ter permitido um encontro de afetividades que levou a um momento de grande troca de experiências e de crescimento humano. Mostrou também o lado do cotidiano das alunas que não é observado durante as aulas, quer pela informalidade das conversas quer pela oportunidade que tiveram de poder falar do machismo e das mazelas de que são vítimas no dia a dia.
Nos quatro encontros que tivemos, utilizamos textos e vídeos para que alunos e alunas pudessem analisar o papel da mulher na história e então discutir e debater seu papel no mundo contemporâneo. Após observar e refletir sobre esses quatro dias de troca, percebemos o quanto foram importantes para alunos e alunas e para nós, professores e professoras. Essa dinâmica permitiu novos olhares e novas formas de trabalhar projetos com nossos alunos de forma que o aspecto humano realmente se desenvolvesse além do conhecimento formal, transformando pessoas, humanizando nosso cotidiano, criando afetos, tornando-nos parte da sociedade e criando uma cidadania humana e afetiva.
Foram quatro encontros, que começaram em uma segunda e terminaram em uma quinta-feira.
1º encontro (segunda-feira)
- Exibimos em todas as turmas do Peja dois vídeos sobre o porquê do Dia Internacional da Mulher, utilizando palavras de incentivo à equidade, respeito às escolhas e engajamento na luta pela igualdade de gênero. Ao final, distribuímos uma lembrancinha a todas as mulheres presentes ao encontro.
No segundo e terceiro encontros, uma dupla de professores ficou com duas turmas e foram desenvolvidas as seguintes atividades:
2º encontro (terça-feira)
Turmas 171 e 191.
- Nesse encontro, os alunos assistiram a vídeos motivadores que falam sobre mulheres que fizeram história no passado e que deixaram seu legado para as gerações futuras.
Turmas 151 e 161
- Inspirados na história de grandes personalidades femininas brasileiras, criamos as próprias histórias de alunos e alunas, de acordo com a identidade de cada um(a), através de redações produzidas por eles(as) mesmos(as) e, por fim, a confecção de cartazes com as biografias dos(as) alunos e alunas.
Turmas 152 e 162
- Em um primeiro momento, a partir do curta Vista a minha pele (2003), de Joel Zito Araújo, fizemos um debate sobre a questão racial. Depois, a partir da exibição de três vídeos da série Projeto Pixaim, discutimos o papel do corpo e da beleza na sociedade. Em um terceiro momento, as turmas assistiram a dois vídeos – um sobre a prisão e assassinato do afro-americano George Floyd por um policial banco nos EUA e outro sobre prisões de jovens negros no Brasil por reconhecimento fotográfico, a partir de uma matéria que revela que 83% dos indivíduos presos injustamente por esse método no Brasil são negros e negras. Então, discutimos o racismo associado à desigualdade social que mutila jovens negros e, principalmente, afeta mulheres negras. Por fim, em um 4º momento, alunos e alunas assistiram a dois vídeos: um sobre uma entrevista com o pugilista norte-americano Muhammad Ali, concedida em 1971 para a BBC, e outro, o curta Bluesman (2018), de Douglas Ratzlaff Bernardt, “um filme que trabalha com a representatividade, abarcando a cultura, existência e identidade negra.” Debatemos novamente a questão do racismo na sociedade e discutimos de que modo isso afeta a vida das pessoas negras, principalmente, a das mulheres.
3º encontro (quarta-feira)
Turmas 171 e 191
- Fizemos uma seleção de algumas personagens femininas que fizeram história utilizando o alfabeto móvel. Depois, uma pesquisa sobre a contribuição de cada uma delas, culminando com a confecção de cartazes no estilo fichamento. Por fim, realizamos uma pesquisa sobre o significado de algumas palavras relativas ao mundo feminino.
Turmas 151 e 161,
- Apresentamos exemplos de mulheres que fizeram história. Dentre elas, algumas mulheres negras. Quantas somos? Elaboramos uma estatística de mulheres na ciência, esclarecemos como se faz ciência e perguntamos aos alunos, se pudessem, o que inventariam de bom para a humanidade como cientistas?
- Apresentamos uma série de fotos de mulheres cientistas e depois, alunos e alunas vestiram trajes característicos e fizeram fotos como possíveis futuros cientistas.
Turmas 152 e 162
- Apresentamos fotos de mulheres cientistas que marcaram o mundo. Depois, fizemos uma apresentação de curtas sobre o aumento do número de mulheres em diversas esferas da sociedade (recorde de mulheres em ministérios), abrindo um debate sobre o assunto. E, por fim, pedimos que os alunos elaborassem um pequeno texto sobre uma figura feminina importante em suas vidas.
4º encontro (quinta-feira)
- Dividimos as turmas não por turma, mas por homens e mulheres. Abrimos uma roda de conversa com todas as alunas e professoras de todas as turmas e, a partir de algumas palavras – amor, empoderamento, misoginia, patriarcado, sexismo, feminicídio, machismo, entre outras – , abrimos a discussão. Os homens, juntamente com os professores, assistiram a dois episódios da série Olhos que condenam e depois abrimos uma discussão sobre o racismo.
Elaboramos cartazes, biografias dos próprios alunos e alunas e também um .ppt com imagens das atividades e da roda de conversa.