Carla Monteiro Sales - Professora de Geografia no Ensino Fundamental II na Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME/RJ). Possui bacharelado e licenciatura em Geografia pela UERJ, e mestrado em Produção Social do Espaço: Natureza, Política e Processos Formativos em Geografia pela mesma instituição. Atuou como professora substituta do Departamento de Geografia Humana da UERJ, lecionando as disciplinas de Planejamento Urbano e Regional e Geografia da Indústria. Em pesquisas acadêmicas, tem interesse pela análise e importância dos mapas e das imagens para a Geografia, se apoiando em teorias do campo da Geografia Cultural.
Janayna Rocha da Silva - Professora de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental II na Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME/RJ). Atualmente, é doutoranda em Estudos da Linguagem pela Universidade Federal Fluminense, mestre em Estudos da Linguagem pela mesma instituição (2019), especialista em Língua Portuguesa pelo Liceu Literário Português (2017) e graduada em Letras: português/italiano pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2010). Integra o grupo de pesquisa Leitura, Fruição e Ensino (Leifen) e o grupo de estudos e pesquisa em Linguística Textual (Gepelt). Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Portuguesa, atuando principalmente nos seguintes temas: semiolinguística, leitura, interpretação textual e representações de gênero.
- Diversificar a metodologia de aprendizagem em sala de aula, com uso de música.
- Estimular a interdisciplinaridade entre Português, Geografia e as Artes.
- Promover debate de temas atuais da sociedade, relacionado aos conteúdos lecionados.
- Auxiliar na interpretação de textos, através das letras de composições musicais.
- Contextualizar e atualizar as origens dos povos e da história de formação do Brasil.
- Compreender a releitura e adequação de temas e narrativas históricas.
- Questionar os vieses da história enquanto uma narrativa que envolve relações de poder.
- Estimular o respeito de opiniões e a autonomia dos alunos através de suas escolhas para o trabalho.
O conteúdo programático de Geografia do sétimo ano do Ensino Fundamental 2 aborda um tema de muita importância e gerador de debates atuais em nosso país: a formação da nossa população. Além de conteúdos, trata-se de uma oportunidade para que os alunos possam se reconhecer nessa história, identificando as diferentes características tanto físicas como culturais dessa população, bem como sua origem.
Dentro dessa temática, não é difícil encontrar materiais didáticos diversos sobre a participação dos brancos europeus na formação da nossa população, visto que a documentação histórica é mais numerosa, facilitando a elaboração dos livros, dos textos sobre personalidades e feitos marcantes, monumentos, músicas, e tantos outros. Por outro lado, os materiais didáticos que não apenas cite, mas também exalte, a participação dos negros africanos e dos indígenas é mais recente, não tendo tanta abundância nem diversidade.
Nesse universo, o samba enredo apresentado pela Estação Primeira de Mangueira no carnaval de 2019, intitulado “Histórias para ninar gente grande” mostrou-se como potencial recurso didático para enriquecer os conteúdos já trabalhados pelas aulas de Geografia, ressaltando personalidades e feitos históricos da população negra, mostrando uma história complexa e conflituosa da miscigenação brasileira, e propondo um questionamento da historiografia oficial da formação o nosso país.
Para trabalhar de forma consistente a leitura desse samba-enredo, fizemos um trabalho interdisciplinar com as disciplinas de Português e de Geografia. E, após fazermos a discussão dos conceitos e habilidades, seguimos com duas etapas:
Na primeira etapa do projeto, a sala de aula foi organizada em círculo, a fim de que todos os participantes pudessem olhar uns para os outros. No meio do círculo, colocamos a releitura da bandeira do Brasil levada para o carnaval 2019 pela escola de samba, e que virou símbolo dessa música: tem as cores verde e rosa e no lugar de ‘Ordem e Progresso”, lê-se o enunciado: “Índios, negros e pobres”. Cada aluno recebeu a letra da canção transcrita para ser lida. Em seguida, todos puderam ouvir a canção duas vezes, em duas versões. A primeira foi gravada pela escola de samba Estação Primeira de Mangueira, e a segunda gravada pela cantora Marina Íris. Os alunos destacaram os vocábulos, cujo significado era desconhecido. Após uma breve pesquisa, para sanar as dúvidas, fizemos uma leitura coletiva e uma breve explanação acerca do carnaval carioca, dos desfiles das escolas de samba e do gênero samba de enredo. Por fim, adentramos no debate acerca da canção. O diálogo e as reflexões trazidas pelos alunos acerca das periferias brasileiras e da condição do negro e da mulher no Brasil foram muito produtivos. Ao olhar para a “história que história não conta”, eles puderam lançar luz às suas histórias, sendo, portanto, os protagonistas deste Brasil que, na maioria das vezes, “não está no retrato’, mas que urge estar.
- Os alunos puderam refletir acerca do gênero samba de enredo, de forma que, consequentemente, ampliaram o seu conhecimento sobre o carnaval carioca;
- Os conteúdos programáticos teóricos puderam ser experimentados de forma ativa e prazerosa através da música como um recurso didático.
- As habilidades de Geografia e de Português puderem ser trabalhados mutuamente de forma interdisciplinar, ampliando o conhecimento dos alunos.
- A canção proporcionou a ampliação do olhar acerca de temas como racismo, machismo e classismo.
- Uma leitura significativa foi realizada, culminando na produção artística dos alunos ao produzirem ilustrações.