UNIDADE DE ENSINO
EM Gonçalves Dias - 1ª CRE
Campo São Cristóvão 115 - São Cristóvão
Unidade não vocacionada
AUTOR(ES)
Bruno Guimarães CarvalhoMeu nome é Bruno Guimarães Carvalho, sou professor da Rede municipal desde 2009, onde atuo desde então na Escola Municipal Gonçalves Dias. Sou licenciado em Geografia pela UFF e especializado em Ensino de Geografia pela UERJ-FFP. Dentro de minha trajetória profissional enquanto professor da Rede municipal, estive atuando boa parte deste período em turmas do segundo segmento do Ensino Fundamental Regular. Desde 2022, sou professor regente das turmas do PEJA II (Blocos 1 e 2). Além do vínculo com a SME-Rio, sou professor de Geografia da SEEDUC desde 2008, onde hoje estou com lotação na SEEDUC. A pedagogia por projetos sempre me moveu por entender que ela é capaz de dinamizar e trazer uma maior significância ao processo de ensino-aprendizagem. E dentro desta pedagogia, sempre adotei o trabalho a partir da identidade como um potente aliado no incremento da efetividade e engajamento dos estudantes dentro do espaço escolar. Sou entusiasta de um currículo-espelho, onde o estudante se enxerga.
CARGO/FUNÇÃO DO AUTOR
Professor I (Geografia)
EJA/Bloco
EJA II Bloco 1 e EJA II Bloco 2
COMPONENTE CURRICULAR
/
PERÍODO DE REALIZAÇÃO
Janeiro/2022 até atualmente
PÁGINA(S) DA PRÁTICA/PROJETO NA INTERNET
Problematização
A partir do momento de sensibilização, imediatamente diversos estudantes (volto a dizer: em boa parte nordestinos) se colocaram de forma contundente e bastante emocionada. Em seguida, fiz o convite informal para que eles se debruçassem em torno de indagações curtas e diretas do tipo: "Por que o nordestino ainda é mal tratado no sudeste?", "Seria possível o Rio e SP serem o que são sem os nordestinos? Por quê?", "Quais as principais contribuições nordestinas para o crescimento do sudeste?", "Quais histórias bem-sucedidas de nordestinos aqui no Rio que vocês conhecem?", "Como está o ritmo atual de migração nordestina dentro do Brasil? Mudou? Por quê?", "O que você mais se orgulha ou não abre mão dos valores tradicionalmente ligados à cultura nordestina?". Logicamente, parte destas indagações/provocações foram respondidas imediatamente pelo retumbante pertencimento, outras foram separadas para serem respondidas após os desdobramentos das aulas de História/Geografia.
Texto base
Dentre todas as referências utilizadas para dar luz a este trabalho, destaca-se a obra "Documentos de Identidade: uma introdução às teorias de currículo" (Tomaz Tadeu da Silva, 1999). Este livro discute as diversas concepções sobre o currículo (da tradicional às pós-críticas) e ressalta que o currículo se estabelece sobretudo enquanto um espaço de poder onde as diversas perspectivas se relacionam em posição de desigualdade, reproduzindo os contextos estruturais da sociedade. E a nossa identidade, também se forma nessa conjugação desigual entre grupos hegemônicos e oprimidos. Essa perspectiva sobre o conceito de identidade foi fundamental para desmistificar a ideia quase que folclórica com que o termo é tratado. Ou seja, o currículo e o trabalho pedagógico construídos a partir do olhar atento sobre a identidade deve tratá-la como inevitavelmente atrelada às relações de poder inscritas na sociedade. Sendo assim, a escola e a sala de aula, não estão salvas das contradições sociais.
Desenvolvimento
O desenvolvimento do trabalho foi orientado majoritariamente pelas perguntas contidas na problematização. Aquelas perguntas com um alto grau emotivo de respostas, foram registradas nos cadernos para posterior reavaliação. As perguntas com pouco grau de exatidão ou convicção foram levadas para orientar as pesquisas de casa. Após os resultados da pesquisa, promovemos um círculo de debate para incrementar o entendimento das indagações trazidas pela problematização. Em seguida, nova solicitação de pesquisa foi realizada para ser compartilhada em outro círculo de debate. Após o segundo debate, registraram-se as respostas no caderno e coletivamente discutimos qual seria o encaminhamento daquilo que fizemos em um mês. Os estudantes chegaram ao consenso de realizarem uma feira de culinária nordestina expondo pratos típicos com elevado grau afetivo para provar na prática a capacidade e o valor nordestino através do sabor.
Produto Final
A feira de culinária afetiva nordestina foi espaço de troca de saberes/sabores carregados de lembranças ancestrais e que visou empoderar os estudantes pelo que foram capazes de trazer e contar. Se fez enquanto materialização da força e importância da presença nordestina dentro da região sudeste, desmistificando o papel de subalternização contido nos discursos xenófobos recentes.
Objetivos das Orientações Curriculares da EJA
Conhecer a geografia e a história da cidade do Rio de Janeiro e seu entorno, sobre o processo de evolução e ocupação urbana, a fim de fortalecer a identidade dos alunos como cidadãos.
Sensibilização/Contextualização para o tema
Após as eleições de 2022, afloraram nas redes sociais diversos casos de discursos xenófobos contra a população nordestina. Boa parte destes insultos eram proferidos por grupos concentrados na região Centro-Sul do Brasil e que tentavam desqualificar o voto, subalternizar a inserção nordestina no Brasil e deslegitimar sua atuação enquanto cidadãos. Somado a isto, o PEJA da Gonçalves Dias tradicionalmente concentra um percentual significativo de migrantes nordestinos e/ou descendentes diretos deles. Nada supreendente se formos contextualizar os processos de ocupação territorial do bairro de São Cristóvão a partir da segunda metade do século XX. A Escola Municipal Gonçalves Dias (uma das escolas do Imperador), desde sua fundação (1872), sempre foi ocupada por pessoas oprimidas dentro de cada conjuntura. Desde os descendentes de escravizados recém-libertos do final do século XIX à população fragilmente inserida na urbanização brasileira; a Gonçalves Dias se habituou a resistir.
Dentre os resultados mais perceptíveis estão o incremento da expressão oral, do senso de coletividade, da preocupação em inibir soluções imediatistas e da necessidade de se aprofundar o pensamento analítico a partir da pesquisa. Além disso, é indiscutível a elevação da autoestima a partir do trato identitário trazido pelo projeto.