Meu nome é Debora, tenho 40 anos, sou mãe da Bia, que é extremamente curiosa, como todas as crianças, e sempre disposta a desafios. Apaixonada pela minha profissão, atuo em sala de aula desde os 17. Lecionei por 15 anos em uma grande escola da rede particular e tomei posse na rede municipal do Rio há três anos.
Em 2021, assumi minha primeira turma de alfabetização, quando vivenciei a alegria que é ver um aluno florescer e se tornar leitor. Conseguir um bom resultado com essa turma e poder apresentar aos pequenos um mundo letrado é uma grande satisfação e conquista profissional.
Sou formada em Pedagogia e estou retornando à pós de Psicopedagogia, que é um sonho antigo.
O trabalho com rimas começou com os alunos ainda no ensino remoto, com atividades voltadas ao levantamento de conhecimentos prévios. Logo nos primeiros contatos, mandei a eles um vídeo com parlendas e sugeri que fizessem parlendas em suas casas.
Assim, estabeleci que partiria do trabalho individual de letra por letra até chegar à conclusão da relação entre letras e sons – que é um dos princípios básicos da leitura –, utilizando para isso textos em versos com a presença de ritmos, rimas e aliterações.
Depois de uma seleção de parlendas populares, trava-línguas e cantigas que os alunos escutavam e decoravam fora da sala de aula, apresentei à turma diversos conteúdos literários com o propósito de despertar curiosidade no grupo sobre a musicalidade de cada texto. A sequência de atividades começava com a escrita que fiz do texto trabalhado, em que, propositalmente, registrava sílabas finais rimadas com cores diferentes.
Assim, para trabalhar aliteração e consciência silábica, criamos jogos em que a criança precisava identificar e discriminar sílabas – processo muito importante para o sucesso da alfabetização.
Os poemas curtos e cordéis que também levei à turma proporcionaram não só momentos de ludicidade como aprimoraram o gosto pela leitura e a compreensão do texto, além de estimularem as crianças a se tornarem leitoras e escritoras de poesias.
Essa proposta teve o apoio do professor de Música Dalmo Motta que, ao violão, enriqueceu nossas aulas com o encantamento trazido pelas canções que tocava. Com letras simples, repetições e trocadilhos, essas canções eram registradas no papel de comum acordo com os alunos sobre como isso deveria ser feito.
Por meio desse diálogo, decidíamos os materiais a serem usados e as crianças eram protagonistas com desenhos e a construção da escrita. Alunos em níveis avançados eram convidados a escrever e a turma fazia a análise das palavras e os ajustes necessários.
Como culminância da nossa sequência de atividades e desdobramentos sobre rimas, realizamos um trabalho em que buscamos encontrar rima para o nome de cada aluno da sala de aula e para cada funcionário da escola. O registro foi feito em cartazes com a fotografia de todos e a relação de nomes e rimas.
Esse processo, que envolveu todos os componentes da escola, foi muito prazeroso e motivador. Fizemos uma exposição desses cartazes no pátio e pude perceber alunos buscando rimas para tudo que era falado e visto ao redor.
Após o início do trabalho com as rimas, ficou visível o avanço dos alunos nos níveis de letramento e alfabetização, tanto nas produções espontâneas feitas em sala quanto nos resultados das avaliações posteriores. Se inicialmente as crianças não atentavam à sonoridade das rimas, agora elas conseguem reconhecer essa característica dentro de diferentes gêneros textuais. Agora sabem brincar de rimar!
Os avanços no campo da alfabetização também são claros: no início do ano, encontrava um número grande de pré-silábicos e silábicos sem valor sonoro, em sala. Todos conseguiram avançar e, hoje, a maioria está no nível alfabético e aprimorando seus conhecimentos ortográficos. Embora existam diferenças nos avanços, ninguém permaneceu no nível em que estava no início do ano.
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bu. 2. ed. São Paulo: Scipione, 2009.