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A baía e a Vila de Paranaguá, ponto mais ao sul da ocupação portuguesa até o século XVII. Mapa de Pedro Souza Pereira, 1653. Domínio público

Durante muito tempo, o litoral extremo sul da América não foi ocupado efetivamente pelos portugueses. Pelo Tratado de Tordesilhas, o limite sul das terras de Portugal no continente americano ficava mais ou menos em torno da atual cidade de Laguna, em Santa Catarina. Mas ninguém sabia ao certo onde eram os limites dessas terras.

Até o século XVII, a presença portuguesa restringia-se à capitania de São Vicente e a alguns pontos do litoral paranaense. O último ponto da ocupação portuguesa era a Vila de Paranaguá. Abaixo dela havia um vasto território, onde praticamente nada existia, chamado pelos portugueses de Continente do Rio Grande.

Em meados do século XVII, os paulistas começaram a explorar as baixadas do litoral sul, descobrindo ouro no leito dos rios – ouro de lavagem. Essa descoberta atraiu povoadores, ocasionando, já na segunda metade do século, a fundação de vilas no litoral: São Francisco do Sul, em 1658, Desterro (atual Florianópolis, na ilha de Santa Catarina), em 1675, e Laguna, em 1688. O nome dado ao povoado de Desterro (solidão, banimento) dimensiona o isolamento e a distância desses novos núcleos que surgiram.

No entanto, o sul do continente americano abrigara as missões jesuíticas, destruídas pelos bandeirantes apresadores de índios. O gado criado pelos jesuítas ficou abandonado, espalhando-se livremente pelos campos do Viamão (atual Rio Grande do Sul). Esse gado serviria de base para a ocupação dessa área, na medida em que os paulistas perceberam que podiam dedicar-se a seu apresamento, atividade mais rendosa do que o ouro de aluvião, que, além de escasso, não apresentava muita lucratividade. O surgimento desses povoados coincidiu com o declínio do ouro de lavagem.

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Fachada da Casa da Moeda de Potosí, fundada em 1572. Com a União Ibérica, os portugueses tiveram mais acesso à cidade mineradora. Domínio público, Archivo Particular de La Casa Pardo 

A União Ibérica (1580-1640) favoreceu a penetração portuguesa em território que, de direito, pertencia à Espanha, segundo o Tratado de Tordesilhas. Enquanto Portugal esteve sob o domínio espanhol, o estuário do Prata tornou-se importante centro de comércio entre portugueses e espanhóis. Intensificaram-se os contatos comerciais com Buenos Aires, inclusive com o estabelecimento de portugueses naquela cidade. Os peruleiros – mercadores ambulantes e comerciantes portugueses – subiram o Rio da Prata, alcançando as ricas minas de Potosí (atual Bolívia) e garantindo, por meio de seus negócios, o aumento do fluxo da prata para a colônia portuguesa na América. Potosí era o principal centro produtor de prata da América espanhola.

Inúmeras embarcações navegavam ao longo da costa, da capitania de São Vicente ao Rio da Prata, para trocar tecidos ingleses, escravos africanos e açúcar do Rio de Janeiro pela prata de Potosí que chegava ilegalmente a Buenos Aires. O monopólio comercial exercido pela Espanha não permitia que nenhum navio estrangeiro atracasse nos portos de suas colônias na América. Todo o comércio entre colônias e metrópole deveria ser feito, exclusivamente, através do sistema de frotas oficiais, em portos únicos, determinados pela Coroa espanhola.

No entanto, apesar da repressão, o contrabando no estuário do Rio da Prata sempre foi intenso. Muitos interesses estavam em jogo. Portugueses e ingleses queriam continuar a colocar seus produtos no mercado platino, e os mercadores de Buenos Aires queriam romper o monopólio que os impedia de comercializar pelo Atlântico, obrigando-os a usar as rotas terrestres ou fluviais permitidas pelo governo espanhol, pelo Pacífico. Restava a opção do comércio clandestino com a América portuguesa.

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Descrição da parte meridional da América do Sul. Levinus Hulsius (colaborador), 1602. Domínio público, Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos

À época da Restauração (1640), o Reino português vivia uma situação difícil. Retomara sua autonomia, mas perdera praticamente seu império colonial no Oriente e alguns dos entrepostos africanos. A economia estava em crise. Para manter sua independência, Portugal procurou firmar alianças com a Inglaterra. Os tratados assinados com os ingleses em 1642, 1654 e 1661 possibilitaram à Coroa portuguesa tanto lutar contra as Províncias Unidas dos Países Baixos (Holanda) como obter o reconhecimento de sua independência pelos espanhóis em 1668. Livre da ameaça dos holandeses e dos espanhóis, o governo português dedicou-se à reorganização do que restava de seu império ultramarino.

A política mercantilista tornou-se ainda mais severa, e uma série de medidas centralizadoras foram tomadas objetivando intensificar a exploração colonial e recuperar as finanças do Reino. Com o incentivo real, expedições foram enviadas ao sertão em busca de metais preciosos.