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Símbolos da maçonaria. Na época, o movimento maçon tinha um caráter libertário por se antepor ao absolutismo. Desenho publicado  em 1859 no livro The Gems of Masonry: Emblematic and Descriptive, de John Sherer. Domínio público

As lojas maçônicas da colônia, surgidas no século XVIII, tiveram grande importância no movimento de emancipação política. Nelas discutiam-se os ideais democráticos e liberais e combatia-se o absolutismo. Ao chegar à América, a maçonaria adquiriu caráter libertador. Segundo o historiador Caio Prado Júnior, "o papel da maçonaria foi articular uma situação própria e interna de uma colônia europeia à política geral da Europa. A maçonaria só se interessa pela colônia (Brasil) na medida em que contribui para atingir um dos redutos do absolutismo europeu, contra quem, de uma forma geral, ela se dirigia. Tratava-se, no caso, da monarquia portuguesa".

No Brasil, as ideias liberais e democráticas chegaram trazidas pelos filhos dos grandes proprietários de escravos e de terras, que, ao retornarem de seus estudos em universidades europeias, ingressaram nas lojas maçônicas. Viajantes, principalmente franceses, de passagem pela colônia também foram responsáveis pela propagação das ideias do Iluminismo. Figuras expressivas da sociedade colonial, como fazendeiros, comerciantes, funcionários, professores e muitos padres, reuniam-se nas lojas maçônicas, tomando consciência da situação da colônia e de sua condição de colonos.

Quando D. João chegou ao Rio de Janeiro, em 1808, encontrou a maçonaria já plenamente estabelecida. Nas lojas maçônicas foram articuladas a Conjuração Baiana, a Conjuração do Rio de Janeiro e a Revolução Pernambucana de 1817. No Nordeste, havia um grande número de lojas que foram, aos poucos, espalhando-se pelo resto da colônia. Após a Revolução de 1817, D. João VI, pelo Alvará de 3 de maio de 1818, proibiu, sob pena de morte, as sociedades secretas, em especial a maçonaria, por considerá-las centro de conspiração contra o Estado. No entanto, elas se reorganizaram e, a partir de 1821, já estavam funcionando novamente, tornando-se mais numerosas no Sul. Fala-se até na presença de maçons nas agitações ocorridas na Praça do Comércio, em fevereiro de 1821, pouco antes da volta de D. João para Portugal.

Depois da Revolução do Porto, na qual a maçonaria desempenhou papel importante no estabelecimento da monarquia constitucional, as sociedades maçônicas no Brasil passaram a ser o centro mais ativo de trabalho e da propaganda emancipadora, sobretudo após a partida de D. João VI. Segundo a historiadora Célia de Barros Barreto, "a maçonaria aparece, então, funcionando como verdadeiro partido, dentro do qual começam a surgir as primeiras discórdias oriundas de interesses diversos".

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Com a liberdade de imprensa, as ideias discutidas nas reuniões secretas puderam ser publicadas. Nesta edição do Correio do Rio de Janeiro, a metrópole portuguesa é acusada de cobrar até mesmo o ar que os brasileiros respiram. Domínio público, Biblioteca Nacional Digital

Democratas e aristocratas reuniam-se nas lojas maçônicas para discutir suas ideias e projetos. Defendiam a emancipação, mas não chegavam a um acordo sobre como esta emancipação se realizaria. O grupo de Gonçalves Ledo, os democratas, predominava no Grande Oriente do Brasil, enquanto que os aristocratas, liderados por José Bonifácio, dominavam o Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros da Santa Cruz. Os dois grupos tentavam atrair D. Pedro para a maçonaria. O príncipe agradou ambos os lados, ingressando nas duas lojas.

Assim como a maçonaria, a imprensa desempenhou papel importante em favor da Independência. Livre da censura, a partir de agosto de 1821, passou a divulgar as ideias discutidas até então somente em reuniões secretas.

Em 15 de setembro, surgiu o Reverbero Constitucional Fluminense, fundado por Gonçalves Ledo e pelo cônego Januário da Cunha Barbosa – o jornal que mais se destacou na defesa da autonomia. Defendendo as ideias dos democratas, pregava a liberdade por meio da representação, isto é, a convocação de uma assembleia constituinte. Adotando linha semelhante, aparecia o Correio do Rio de Janeiro, de João Soares Lisboa, e A Malagueta, de Luís Augusto May. Os aristocratas expressavam-se no Despertador Brasiliense, de Francisco de França Miranda, e em O Espelho, de Manuel Ferreira de Araújo.

No Rio de Janeiro, a partir do segundo semestre de 1821, começaram a aparecer panfletos que, distribuídos nas ruas ou pregados nos muros, pediam a permanência do príncipe no Brasil. Exortavam, ainda, a separação de Portugal e criticavam as medidas recolonizadoras das Cortes.

Quando, em dezembro de 1821, chegaram ao Rio de Janeiro as novas ordens de Lisboa, os protestos só cresceram. Em meio a grande agitação, as forças políticas brasileiras uniram-se para impedir o regresso de D. Pedro, o que significaria para o Brasil voltar à situação de colônia. José Joaquim da Rocha criou o Clube da Resistência; emissários foram enviados às províncias de São Paulo e Minas Gerais em busca de apoio; José Clemente Pereira, presidente do Senado da Câmara do Rio de Janeiro, começou a colher assinaturas pedindo ao príncipe que ficasse.

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Após receber abaixo-assinado com oito mil assinaturas, o príncipe D. Pedro decidiu desobedecer às ordens das Cortes portuguesas para que retornasse a Lisboa. Miniatura de Simplício Rodrigues de Sá, c. 1822. Domínio público, Museu Imperial

Em 9 de janeiro de 1822, uma comissão levou ao palácio um abaixo-assinado com oito mil assinaturas. Em cerimônia solene e festiva, conhecida como o Dia do Fico, D. Pedro concordou em desobedecer às ordens das Cortes, ficando no Brasil. Na ocasião disse: "Como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto, diga ao povo que fico". O Dia do Fico representou não só a desobediência às Cortes mas também marcou o início do processo de separação, apesar de que, entre os vivas que o saudaram, ouvia-se também "Viva a União de Portugal com o Brasil".