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Embarque de Villegagnon rumo à América (Crédito: Theodore de Bry/Biblioteca Nacional da França)

Para o governo de Portugal, era fato consumado a posse das regiões após a chegada da frota cabralina, com suas caravelas, nas terras americanas. As Grandes Navegações, a partir do século XV, estabeleceram importantes rotas marítimas comerciais que representaram um desafogo nas finanças do Tesouro real. Por algum tempo, esses recursos equilibraram os cofres do Estado português, que, na época, era especialmente dependente desse tipo de negócio. Dados apontam que aproximadamente 65% dos bens do Reino seriam oriundos da rota das especiarias, no decorrer do século XVI.

As certezas da Coroa lusitana apoiavam-se nos termos do Tratado de Tordesilhas, que atribuiu a Portugal a posse das terras descobertas (e por descobrir). Para o rei D. João III (1502-1557), que o negociara, era uma verdade indiscutível. Entretanto, para as demais monarquias europeias, não fazia sentido algum. O rei da França, Francisco I (1494-1597), por exemplo, entendia que apenas os lugares “habitados e defendidos” pertenciam legitimamente a uma Coroa. Os demais “seriam de quem os tomasse”. Seu antecessor, Luís XII (1462- 1515), comentou, com ironia: “Em que artigo de seu testamento Adão repartiu a terra entre portugueses e espanhóis?”.

Em meio a esses questionamentos, ignorando o acordo firmado em 1494, embarcações patrocinadas pela pirataria oficial ou pela criminosa cruzavam o Atlântico, alcançando o extenso litoral da colônia americana submetido à dominação política e jurídica da metrópole portuguesa. Essa movimentação ameaçava as terras pertencentes a Portugal.

Diante desses riscos incalculáveis, não seria apenas a beleza de aquarela da região – contemplada por Américo Vespúcio (1454-1512) em 1º de janeiro de 1502 e descrita nas cartas dos escrivães, viajantes e cronistas – que impulsionaria os portugueses na direção da Baía de Guanabara. O tempo confirmaria seu valor estratégico e sua localização privilegiada – não somente no momento em que a expedição de 1530, comandada por Martim Afonso de Sousa (1490/1500?-1571), alcançou o local, mas principalmente quando Estácio de Sá (1520-1567), diante dos riscos e ameaças que a França Antártica representava, fundou um arraial entre os morros Cara de Cão e Pão de Açúcar. Surgia, no ano de 1565, a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.