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Cavalaria guarani em aldeamento de jesuítas. Imagem da segunda metade do século XVIII (Crédito: Florian Paucke/Wikimedia Commons)

No tempo das navegações, desde a primeira vez que aconteceu o encontro das diferenças, os portugueses “alteraram completamente seus centros de interesse no convívio com o indígena” por necessitarem inseri-lo no processo de colonização, diante da “substituição do escambo pela agricultura”. A partir de então, o nativo passaria a ser visto como “um obstáculo à posse da terra, uma fonte desejável e insubstituível de trabalho e a única ameaça real à segurança da colonização", segundo o sociólogo Florestan Fernandes.

Aqueles nativos, antes uma revelação do estranho para os portugueses, descritos nas cartas de achamento do Brasil pelo escrivão da frota cabralina, Pero Vaz de Caminha (1450-1500), como “resistentes, saudáveis e inocentes”, diante das circunstâncias passaram a ser vistos de forma menos fantasiosa. Interesses e desejos ficavam mais claros e explícitos. Autoridades coloniais civis e religiosas empenhavam-se em retirar os índios das matas onde viviam. Submetê-los (aliados ou inimigos) à escravidão, na base da força, dispondo, segundo Caminha, “de suas pessoas, de suas coisas e de suas mulheres”, era a forma como os colonos encaravam a situação.

Por sua vez, os padres da Companhia de Jesus, cujas atividades constantemente contrariavam os interesses dos colonos, desejavam aculturá-los, trazendo-os para a convivência religiosa por meio da catequese. Entretanto, os lados em questão concorriam para alcançar o mesmo fim: dispor dessa mão de obra valiosa, reduzindo-a, nesses tempos, à dominação do europeu. Conflitos e entrechoques nas terras luso-tropicais se estendiam para além do campo de guerra.