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A nau capitânia, em primeiro plano, e a esquadra que trazia a corte aportando na Baía de Guanabara (Crédito: Geoffrey William Hunt/Coleção particular)

O tempo passava arrastado na viagem que a família real portuguesa, acompanhada de súditos afortunados, empreendia rumo ao Rio de Janeiro – sede do vice-reinado no Brasil. Volta e meia, o marasmo era deixado de lado pelo som de alguma viola em notas saudosas dos fados. Dias e noites vividos na longa travessia em navios, que fizeram vela, superlotados. Os pertences dos viajantes dividiam o espaço com as riquezas da corte: obras de arte, todo o dinheiro do Tesouro português, as preciosas joias da Coroa e outros objetos valiosos. Tudo acomodado nos porões dos navios, prática da época, ao lado de cavalos, bois, vacas e galinhas.

As famílias estavam separadas, viajando em diferentes veleiros da frota. Nem todos tinham suas bagagens à mão, pois inúmeras foram abandonadas no cais do porto de Lisboa, ou extraviadas, em meio àquela intranquilidade que precedera a viagem. A água e os alimentos eram racionados; a higiene, bastante precária, em meio ao calor tropical intenso. No balanço das ondas, motivos não faltavam para gemidos, suspiros e resmungos ouvidos pelo convés, naquela difícil jornada pelas águas atlânticas.

De qualquer forma, apesar dessas desventuras em série, os preocupados viajantes sentiam-se livres dos perigos da guerra. Deixavam para trás toda a agitação e a insegurança existentes, naquele momento, no continente europeu. Também deixavam para trás os amplos espaços de palácios, como o de Mafra e o de Queluz, sem saber que tipo de moradia os aguardava naquela cidade tropical da qual tinham notícias vagas.

A viagem, contudo, para os comandantes e para os marujos, transcorria sem acidentes mais graves e sem óbitos. Em meados de dezembro, na altura da região da Ilha da Madeira, um temporal separou algumas embarcações. Diante disso, os planos de navegação foram mudados: a nau capitânia (Príncipe Real) e os navios que a acompanhavam aportaram em Salvador (sede do vice-reinado do Brasil até 1763), onde permaneceram por um mês, seguindo, posteriormente, rumo ao Rio de Janeiro. Era o dia 22 de janeiro de 1808. Após 54 dias de viagem, terra firme.