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Cores vivas fazem a beleza da arte naïf
19 Novembro 2015 | Por Mércia Maria Leitão e Neide Duarte
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Ousar sem constrangimentos, desenvolver um trabalho sem regras definidas foi o caminho encontrado por alguns artistas autodidatas, que fizeram uma pintura conhecida, no Brasil, como arte naïf.

A palavra naïf significa ingênuo. Arte naïf é a arte produzida por autodidatas, que não têm formação artística erudita. Caracteriza-se por ausência de técnicas tradicionais de representação, pelo uso de cores brilhantes e pela descrição minuciosa de elementos.

naif3Podemos encontrar pintores naïfs entre donas de casa, comerciantes, professores, jornalistas, médicos, advogados. São pessoas que pintam com a alma, de modo espontâneo, retratando a vida com liberdade estética e livre de convenções.

O termo arte naïf foi utilizado pela primeira vez no início do século XX, para identificar as pinturas do francês Henri Rousseau (1844-1910). Autodidata admirado pela vanguarda artística da época, ele abriu, com sua obra, caminhos para outros pintores, conquistando a crítica, ganhando espaço em museus e marcando lugar na história da arte.

Rousseau deixou a natureza entrar nas telas de um modo todo próprio. Plantas exóticas, animais estranhos, lugares inusitados dão caráter ingênuo e fantasioso ao seu trabalho. O uso ritmado dos elementos e a palheta de cores vivas também caracterizam a pintura do artista.

Admirador de Rousseau, o pintor francês Paul Gauguin (1848-1903) buscou no ambiente da natureza e na cultura popular elementos para criar com autenticidade e espontaneidade.

Pintor, escultor e gravador, Gauguin foi um dos maiores renovadores da arte europeia do final do século XIX. Juntamente com Van Gogh e Cézanne, explorou possibilidades do impressionismo, abrindo caminho para vanguardas artísticas.

Desencantado com a civilização ocidental, seguiu para o Taiti, em busca de autenticidade em uma cultura ainda não corrompida pelo progresso. Lá, se interessou pela arte folclórica e estudou as técnicas dos artesãos locais, construindo uma obra mais instintiva, colorida e sensual.

Arte naïf nacional

naif2 novoNo Brasil, o movimento modernista, com sua valorização das raízes nacionais, prestigiou o trabalho de artistas que, sem formação acadêmica em arte, usavam elementos da tradição popular como temática, combinando-os plasticamente com uma intenção poética.

A arte naïf brasileira reflete uma realidade extremamente rica, variada, autêntica e, muitas vezes, otimista e alegre. Entre seus representantes destaca-se Heitor dos Prazeres (1898-1966). Inicialmente compositor, instrumentista e pintor, foi parceiro de Noel Rosa e um dos fundadores da Mangueira e da atual Portela.

Começou na pintura na década de 1930, como autodidata. Seus quadros, muito coloridos e com enfoque na figura humana, representam cenas do próprio cotidiano: a música, os bairros boêmios cariocas, as mulatas e os malandros.

naif4José Bernardo Cardoso Júnior, o Cardosinho (1861-1947), iniciou suas atividades em pintura aos 70 anos, de maneira autodidata, sendo incentivado por Candido Portinari. Identificado como precursor da pintura naïf no Brasil, usava cores puras, tendo uma característica de espontaneidade em suas cerca de 600 telas. A obra de Cardosinho faz parte do acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York (Moma).

A pureza da arte naïf também aparece na obra da pintora Djanira (1914-1979), conhecida pela representação, em linguagem simples, de cenas e costumes brasileiros, pintando o país de norte a sul, sua gente, seus costumes, sua terra, sua luz.

Neta de imigrantes austríacos e de indígenas, era pintora, desenhista, ilustradora, cartazista, cenógrafa e gravadora. A partir da década de 1940, expôs seus trabalhos em salões nacionais e internacionais. Autodidata, uma das mais importantes artistas do século XX no Brasil, afirmava: “Eu é que sou ingênua, não a minha pintura”.

A pintura era, para Djanira, um modo natural de se relacionar com a vida. Sua obra reflete essa espontaneidade em vários aspectos: na procura da pureza das cores e na relação entre elas, na ousadia das combinações vibrantes, nos ritmos que as linhas construíam com a cor, criando formas simplificadas nas superfícies planas.

Arte naïf: onde encontrar

naif1 novoO Brasil, a França, o Haiti, a Itália e a região da antiga Iugoslávia são considerados os “cinco grandes” de naïf no mundo, sendo que os pintores brasileiros ocupam lugar de destaque nos principais museus desses países.

Na cidade do Rio de Janeiro, o colecionador Lucien Finkelstein fundou, em 1955, o Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil, que reúne cerca de oito mil obras de 130 países. Lá, encontram-se as duas maiores telas do gênero, pintadas por Lia Mittarakis e Aparecida Azevedo. Nessas pinturas, observa-se que o espaço e o tempo estão conjugados em perfeita harmonia, em um mesmo plano, transparecendo a profusão de ideias, elementos e cores que as artistas expressam com singular beleza.

(Texto de Mércia Maria Leitão e Neide Duarte, extraído do fascículo Artes, Artistas e Arteiros, da MultiRio).

 
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