Alunos do 5º ao 9º ano da Rede Pública Municipal terão a oportunidade de aprender grafite e colorir os muros das unidades onde estudam. As oficinas, para 80 estudantes, começaram no final de abril e se estendem por todo o mês de maio, a cada segunda-feira, em quatro escolas.
O projeto tem a curadoria de Tomaz Viana, conhecido como Toz, baiano radicado no Rio de Janeiro, artista reconhecido nacional e internacionalmente. Com ele, estão três outros profissionais: Bruno Bogossian, o BR, artista multimídia que atua em campanhas publicitárias e é um dos responsáveis pela expansão do grafite no Rio; Marcelo Jou, o Fins, que já participou de diversos eventos, como a Bienal de Graffiti Fine Art, de São Paulo, em 2015; e Marcos Rodrigo, o Wark, um dos pioneiros na Rocinha, onde mora e forma novos talentos.
É a segunda vez que a E.M. Pedro Ernesto, na Lagoa, participa do projeto. Sandra Mendes, diretora adjunta, conta que é uma atividade muito bem recebida pelos alunos, principalmente os que têm dificuldade de aprendizagem. “Atendemos crianças com problemas de alfabetização, que repetem o ano sucessivas vezes. Grafitando o muro da escola, eles passam a ter satisfação em estudar e melhoram as notas! A escola passa a ser um espaço mais afetivo, onde eles deixam sua marca positiva.”
Esta segunda edição do Paredes Art Zone (P. A. Z.) propõe o tema dos 450 anos de fundação da cidade. Nas escolas participantes, os alunos desenham os pontos turísticos cariocas (Cristo, Pão de Açúcar, Arcos da Lapa, etc.) e os 20 melhores de cada uma delas são selecionados para virar grafite na parte interna dos muros das unidades. O espaço voltado para a rua é ocupado pelos artistas profissionais durante o encerramento das oficinas, no final de maio, com o objetivo de colorir a cidade e proporcionar também aos moradores uma experiência artística.
Luciana Lima, diretora da E.M. Francisco de Paula Brito, na Rocinha, diz que houve uma verdadeira disputa para ver quem desenhava melhor, porque todos queriam ver o próprio traço na parede. “As crianças estavam entusiasmadas!”
Na E.M. Benjamin Constant, em Santo Cristo, os desenhos escolhidos são de alunos entre 11 e 16 anos, segundo a diretora Adriana Andrade. Todos estão “empolgados com a ideia de ter o trabalho visto pelos demais colegas”.
O começo do Paredes Art Zone
O P.A.Z. começou quando a francesa Elodie Salmeron, neta de brasileiro exilado, formada em Literatura na Sorbonne e em Produção Cultural em Paris Saint Denis, resolveu trabalhar com grafite no Brasil. Ela reuniu R$ 20 mil, via crowdfunding, e contactou escolas públicas cariocas para desenvolver o trabalho, recebendo uma resposta positiva da E.M. Pedro Ernesto, em 2012, ano da primeira edição.
Depois de se familiarizar com as possibilidades de fomento no país, inscreveu o projeto em leis de incentivo à cultura e obteve patrocínio da Secretaria Municipal para 2015, ampliando o trabalho para mais três escolas. Elodie fala que o seu sotaque diferente e as tatuagens dos grafiteiros criam uma empatia com os estudantes. Isso torna mais fácil o diálogo sobre valorização da diversidade, revitalização de áreas, força do trabalho coletivo e respeito ao próximo – pilares da cultura do grafite. O projeto P.A.Z se propõe a valorizar os direitos da infância, o estímulo ao pensamento criativo e ao poder de transformação inerente a todas as pessoas.
Tânia Percília, diretora adjunta da E. M. José Pedro Varela, na Pavuna, lembra que a escola já possuía um trabalho nessa área, com o projeto Mais Educação do governo federal, mas que os alunos usavam apenas giz e papel 40 quilos. “O P.A.Z. trouxe uma experiência mais profissional, norteando inclusive o oficineiro da comunidade, que já trabalhava com as crianças. Fazemos questão de explicar aos alunos a diferença entre pichação e grafite – um degrada, o outro embeleza.”