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Paço de São Cristóvão abriga o Museu Nacional
01 Dezembro 2016 | Por Sandra Machado
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Palácio de São Cristóvão (Fonte: Museu Nacional/UFRJ)

O Paço da Imperial Quinta de São Cristóvão, onde funciona o Museu Nacional de Arqueologia e Antropologia, na Quinta da Boa Vista, não se chamou sempre assim. Já foi o Paço de São Cristóvão (1803-1809), o Palácio Real (1810-1821), o Palácio Imperial (1822-1889) e, a partir da instauração da República, até a atualidade, é também conhecido como Palácio de São Cristóvão. Já o museu, criado por D. João VI em 1818, foi transferido do Campo de Santana para o palácio apenas em 1892, por insistência do diretor Ladislau de Souza Mello e Netto, numa tentativa de impedir que parte do patrimônio histórico desaparecesse por obra dos republicanos. O conjunto arquitetônico – de importância inigualável para a memória nacional – só passou a ser definitivamente protegido a partir do tombamento realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1938.

Um palácio, muitas reformas

Palácio retratado por Jean-Baptiste Debret em 1817

O Palácio de São Cristóvão foi residência oficial da família real durante seus primeiros anos no Brasil. Com o retorno de D. João VI para Portugal, em 1821, continuou sendo a moradia do imperador D. Pedro I. Naquele mesmo endereço nasceu D. Pedro II, que viveu no palácio por 64 anos, até ser banido do país com a instauração da República.

Originalmente uma propriedade particular, passou às mãos de D. João VI por doação do comerciante libanês Elie Antun Lubbos, ou Elias Antônio Lopes, no dia 1º de janeiro de 1809. Ele preferiu se adiantar a ter a casa confiscada, como era de praxe para acomodar toda a comitiva vinda da Europa – há quem afirme algo entre 15 e 20 mil pessoas. Situado no alto do terreno, o palácio oferecia uma vista privilegiada: de um lado, a Baía de Guanabara; do outro, o Morro do Corcovado. Daí, inclusive, veio o nome da quinta. O príncipe regente, então, mandou construir um caminho aterrado e margeado de postes com lâmpadas de azeite para ligar a residência ao Paço Imperial, onde despachava, no centro da cidade.

Com projeto original de José Domingos Monteiro e provável participação do também arquiteto José da Costa e Silva, o prédio sofreu inúmeras alterações ao longo do tempo. Assim como ainda acontece na atualidade, as primeiras reformas, inspiradas no Palácio da Ajuda de Lisboa, começaram a acontecer a partir do casamento dos filhos de D. João. Primeiro, da mais velha, Maria Teresa, com o infante espanhol Pedro Carlos, em 1810. Outra obra, das mais importantes, teve início em 1816, por ocasião do casamento do príncipe D. Pedro com Leopoldina da Áustria, e se estendeu até 1821, ficando a cargo do arquiteto inglês John Johnson. Da Inglaterra, o casal recebeu, ainda, um presente especial: o portão monumental, inspirado no pórtico da Sion House – atração turística do século XV localizada na periferia londrina – e que hoje adorna a entrada principal do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, que também fica na Quinta da Boa Vista.

A imperatriz Leopoldina era apaixonada pelas ciências naturais e teve forte influência na criação do Museu Nacional (acesse o Guia de Visitação em PDF), então chamado de Museu Real. Em sua comitiva nupcial, ela trouxe uma verdadeira legião de naturalistas europeus, entre os quais Rochus Schüch, Johann Natterer, Johann Emanuel Pohl, Giuseppe Raddi e Johann Christian Mikan, que passaram a enviar caixotes com exemplares de minerais, da flora e da fauna para o Museu de História Natural de Viena. Logo esses cientistas passaram a realizar suas pesquisas também no Rio de Janeiro, onde iniciaram um acervo. A partir de 1842, o Museu Real recebeu a nomenclatura atual. E, 104 anos depois, passou a fazer parte da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Museu Nacional (Foto: Alexandre Lotti Pereira)

A partir da independência do país, D. Pedro I encarregou o arquiteto português Manuel da Costa de uma remodelação do palácio. Em 1826, o profissional foi substituído pelo francês Pierre Joseph Pézerát, que, cinco anos mais tarde, investido do cargo de engenheiro imperial, concluiu os trabalhos e conferiu o estilo neoclássico ao edifício. A partir de 1847, houve a interferência, ainda, do arquiteto brasileiro Manuel de Araújo Porto-Alegre e, uma década mais tarde, do alemão Theodore Marx, que transferiu a Sala do Trono e a do Corpo Diplomático do térreo para o segundo pavimento. Até 1861, o italiano Mario Bragaldi pintou vários afrescos no interior dos aposentos. Em cima do torreão norte, o engenheiro Francisco Joaquim Bettencourt da Silva construiu, no ano seguinte, o Observatório Astronômico do imperador, todo envidraçado, para permitir uma visão panorâmica do céu.

D. Pedro II foi o responsável pela criação do terceiro pavimento e pela instalação de 30 estátuas de deuses gregos em toda a extensão do telhado. Ele deu especial atenção aos jardins, embelezados, por volta de 1869, por meio de um projeto do paisagista francês Auguste François Marie Glaziou. São dessa época a Alameda das Sapucaias, o lago de pedalinhos e a gruta artificial.

República e sucateamento

Afrescos do teto (Foto: Gabriel Paiva)

As dimensões da Quinta da Boa Vista foram drasticamente reduzidas a partir do advento da República, passando de mais de 1 milhão para os atuais 406.680 metros quadrados, devido a apropriação, cessão e venda de terrenos pelo governo militar. Após o banimento da família imperial, o Paço de São Cristóvão foi brutalmente descaracterizado e seus pertences, vendidos em leilões realizados entre agosto e novembro de 1890. O Governo Provisório tinha pressa em se desfazer dos objetos – com isso, pretendia esvaziar o culto à monarquia. Além disso, no ano seguinte, o palácio foi utilizado para a realização dos trabalhos do Congresso Nacional Constituinte.

Ladislau Netto, que era diretor do Museu Nacional desde 1875, ainda conseguiu a custódia de alguns móveis e objetos. Mesmo assim, com a transferência do museu para as instalações do palácio, promovida por ele, surgiu a necessidade de adaptar o espaço, até então residencial, para um ambiente científico, como conta a historiadora Regina Dantas.

“As armas imperiais que existiam em portões e demais ornatos das paredes foram arrancadas; alguns arcos no interior das salas sofreram alterações, e janelas foram fechadas para serem transformadas em paredes, além de salas do segundo piso terem sido ampliadas, tornando-se salões das exposições. Alguns locais do palácio foram destruídos: o Observatório Astronômico do imperador, a Capela de São João Baptista e a torre do relógio. O portão doado pelo Duque de Northumberland foi transferido para a entrada do Zoológico, na Quinta da Boa Vista.”

Durante a República Velha (1889-1930), sob a administração do Município, o arquiteto Luiz Reys projetou o Jardim Terraço, construído em estilo italiano no pátio em frente ao palácio. O mirante conhecido como Pagode Chinês também data desse período e sua autoria é atribuída ao paisagista francês Paul Villon.

 

Fontes:

DANTAS, Regina. A casa do imperador. Do Paço de São Cristóvão ao Museu Nacional. Dissertação (Mestrado), UniRio, Rio de Janeiro, 2007.

Guia de Visitação ao Museu Nacional – Reflexões, roteiros e acessibilidade. UFRJ, 2013.

Site Casa de Rui Barbosa

 
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