Utilização de materiais locais, que evitam a necessidade de transporte, e de fontes de energia renováveis. Adoção de sistemas de iluminação e ventilação naturais. Captação de água da chuva e reuso da água. Estas são algumas das orientações da chamada bioarquitetura, ou arquitetura viva, que, devagar, começa a marcar presença no Brasil. Sua ideia básica, concebida nos anos 1960, recomenda que o abrigo construído pelo ser humano seja encarado como parte do metabolismo do meio ambiente onde está inserido. Duas décadas mais tarde, o termo “bioarquitetura” começou a ser empregado por arquitetos europeus e norte-americanos, preocupados em diminuir os efeitos negativos gerados pela indústria da construção civil, que ainda hoje é uma das maiores poluidoras do planeta.
A escala do impacto promovido pelos assentamentos urbanos só tende a aumentar: segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), aproximadamente 85% da população mundial estará morando nas grandes cidades até 2027. O que ganha contornos alarmantes, considerando-se o atual déficit habitacional, de onde se originam as submoradias e seus consequentes reflexos sociais e ambientais.
Situação do país hoje
Na década de 1990, Estados Unidos, Canadá e União Europeia adotaram critérios padronizados para avaliar o grau de sustentabilidade das construções. No momento, o sistema de referência no Brasil é a Certificação Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), do US Green Building Council (GBC), ou Conselho Norte-Americano de Prédios Verdes. Ela contempla a redução da emissão de gases de efeito estufa e a economia de recursos na construção civil, além de questões de acessibilidade, mobilidade, qualidade do ar e demais aspectos referentes ao bem-estar dos usuários.
Apesar de os prédios ecológicos custarem 5% mais na fase de construção, seus imóveis são mais valorizados e o custo adicional é rapidamente recuperado pela taxa de condomínio, comparativamente 30% mais baixa, graças à economia de água e de energia elétrica. Quatro em cada cinco desses edifícios, a maioria em São Paulo, são comerciais e costumam contar com elevadores que consomem até 40% menos energia, vidros isotérmicos, que melhoram a iluminação sem elevar a temperatura, e até áreas cobertas com vegetação, o que reduz a necessidade de uso do ar-refrigerado.
Atualmente, um em cada cinco lançamentos imobiliários possui características de sustentabilidade. O Brasil ocupa a terceira posição entre os países com maior número de edifícios com certificação Leed, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Quanto à participação do poder público, algumas mudanças já se fazem perceber. A Política Nacional de Resíduos Sólidos representa uma evolução no sentido de propiciar o aumento da reciclagem de materiais e da reutilização de resíduos, por meio da substituição dos velhos lixões por complexos modernos em todo o país. O maior desafio, no entanto, está em mudar a cultura da população, disseminando uma postura de cidadania sustentável e de consumo mais consciente, com a inclusão curricular do tema nas escolas.
Volta às origens conta com reforço das tecnologias limpas
Uma fonte de inspiração para a bioarquitetura têm sido os sistemas tradicionais de construção, únicos existentes até o advento da era industrial, que resgatam o valor dos trabalhos manuais e dos materiais naturais renováveis e não poluentes. Pesquisas têm apontado novas formas de utilizar cimento e alumínio, que são agressivos ao meio ambiente, diminuindo a quantidade empregada em um canteiro de obra. Bambu, palha e madeira reflorestada ou proveniente de manejo certificado são escolhas preferenciais. Além disso, a tecnologia para tratamento natural dos efluentes domésticos impede que o esgoto chegue in natura aos rios e aos lençóis freáticos.
Medidas simples sempre podem ser implantadas. Em relação à água, escolhendo torneiras com temporizador, chuveiros com redutor de volume e instalando um sistema de armazenamento de água da chuva para utilização nas áreas externas dos prédios. Quanto à energia, adaptando áreas de exposição para captação de energia solar, a fim de iluminar áreas comuns. Para o lixo, disponibilizando infraestrutura de seleção e reciclagem e para a transformação do material orgânico em compostagem e adubo. E até pintando telhados e lajes de branco, o que ajuda a reduzir a temperatura interna, porque faz refletir até 90% dos raios solares.
Fontes:
Agência Senado, Site MBE Coppe UFRJ, Site do Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica, Blog Reciclaflores, Revista Vida Simples