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Tradição do karatê brasileiro deve pesar em Tóquio
21 Março 2018 | Por Sandra Machado
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O tempo estimado para se chegar à faixa preta é de 19 anos (Fonte: Federação Mundial de Karatê)

Dentre os cinco novos esportes incluídos nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020 – skate, surfe, escalada, beisebol e karatê –, as probabilidades de medalhas no último talvez sejam as mais altas. De acordo com a Federação Mundial de Karatê (FMK), o Brasil aparece logo em quarto, atrás apenas de Japão, Irã e Austrália, que são os melhores do ranking na atualidade. O número de praticantes brasileiros vem crescendo exponencialmente desde o primeiro registro da atividade, na década de 1950. Estima-se que existam, hoje, cerca de 250 mil caratecas ligados à Confederação Brasileira de Karatê (CBK), que congrega 2.085 associações e clubes filiados em todo o país, por meio de 27 federações estaduais. 

Mãos vazias

O karatê desembarcou por aqui com os imigrantes nipônicos, que começaram a chegar em 1908 e ensinavam a chamada arte das “mãos vazias” – significado da palavra em japonês – não apenas aos seus descendentes, mas a todos aqueles que por ela se interessassem. A primeira academia, no entanto, só veio a se instalar no centro de São Paulo por iniciativa do professor Mitsuke Harada, em 1956. Na sequência, outros mestres fundaram escolas em diferentes lugares: Yasutaka Tanaka e Sadamu Uriu no Rio de Janeiro; Higashino em Brasília; e Eisuku Oishi na Bahia.

O número de adeptos cresceu a partir da fundação da Associação Brasileira de Karatê, em São Paulo, em 1960, pelo professor Shikan Akamine. No entanto, o 1º Campeonato Brasileiro de Karatê foi realizado no Rio de Janeiro, nos dias 2 e 3 de dezembro de 1969, no Ginásio de Esportes do Botafogo de Futebol e Regatas.

Símbolo de tenacidade remonta a eras imemoriais

A arte marcial do karatê se estruturou na Ilha de Okinawa, que pertencia à China mas passou ao domínio japonês no fim da dinastia Ming, em meados do século XVII. A fim de impedir rebeliões, o porte de armas foi proibido, o que fez com que os mestres promovessem treinos secretos que utilizavam golpes corporais como forma de defesa. De maneira semelhante ao que aconteceu com os escravos no Brasil, no início da capoeira, durante muito tempo o karatê sobreviveu na clandestinidade, sofrendo perseguição da elite imperial japonesa.

Com o fim da repressão, no século XIX o karatê passou a ser praticado para o condicionamento físico e como base espiritual, sendo introduzido oficialmente como prática de Educação Física no Japão em 1905. O principal responsável pela popularização fora de Okinawa foi o mestre Gichin Funakoshi (1868-1957), ao levar a modalidade para Tóquio nos anos 1920, por solicitação do Ministério da Educação. Na ocasião, a nova arte foi introduzida em várias universidades. Até que, no fim da Segunda Guerra Mundial, a ocupação norte-americana proibiu, mais uma vez, o karatê no território japonês, e a resistência só foi vencida porque soldados dos Estados Unidos mostraram interesse em aprender a prática. Por força das migrações de japoneses, com o tempo a luta marcial chegou aos quatro cantos do mundo.
Uma lenda muito antiga atribui a criação do karatê a Bodhidharma, monge budista que teria vivido no século V ou VI e migrado do sul da Índia para a China, a convite do imperador Liang Wu Ti. Como se desentenderam por terem visões diferentes quanto à ênfase nos aspectos meditativos ou nos rituais, Bodhidharma resolveu se retirar, se instalando no Templo Shaolin do Reino de Wei, onde encontrou os monges adoentados pela inatividade. Por isso, decidiu ensinar a eles uma técnica que reunia exercícios físicos e ensinamentos filosóficos, estruturando um sistema completo de autodefesa e interrompendo a ação de bandoleiros que, frequentemente, assaltavam o templo.

Princípios de honra, lealdade e senso de compromisso

Por causa de sua origem clandestina, existe uma série de estilos diferentes de karatê nas escolas do Japão. Entre os mais conhecidos estão o Shotokan, o Goju-Ryu, o Shito-Ryu e o Wado-Ryu. Em comum está um objetivo maior, que é a perfeição do caráter, conseguida por meio do árduo treinamento e da rigorosa disciplina da mente e do corpo. Mãos, braços, pernas e pés são usados como armas, levando ao desenvolvimento da força, da velocidade, da coordenação motora e do condicionamento físico. 

Douglas Brose: gaúcho foi um dos articuladores para a inclusão do karatê nos Jogos Olímpicos de Tóquio (Foto: Renan Koerich/Globo Esporte)

Para evitar ferimentos graves durante as competições esportivas, foram estruturadas regras de combate simulado. Durante as competições, todos os movimentos devem ser controlados com precisão antes do contato com o corpo do adversário. Na década de 1950, as universidades japonesas começaram a promover torneios, até que, em 1970, foi realizado em Tóquio o 1º Campeonato Mundial de Karatê. Na época, participaram 33 países e, desde então, o evento se realiza com frequência bienal. No mesmo ano, foi criada a União Mundial das Organizações de Karatê (Wuko), reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) em 1985. A fim de se adaptar às regras do Comitê, em 1993 a Wuko foi transformada na FMK. 

Campeão mundial em 2010 e em 2014, o gaúcho Douglas Brose foi um dos grandes articuladores para a entrada do karatê nos Jogos Olímpicos de Tóquio, quando serão disputadas duas categorias de kata – quando o atleta faz, sozinho, a demonstração de golpes, e a divisão é meramente por gênero – e seis categorias de kumitê – que é a modalidade de confronto. Entre os homens, as divisões de peso vão até 67 kg, até 75 kg e acima de 75 kg. Para as mulheres, as categorias são até 55 kg, até 61 kg e acima de 61 kg. A CBK pretende participar com dez atletas para cada divisão.

Em relação às regras, disputas femininas duram dois minutos e masculinas, três. As pontuações têm o mesmo nome do judô: yuko, que vale um ponto; waza-ari, que vale dois; e ippon, que vale três. Mas, diferente desta arte marcial que também é japonesa, o ippon não termina a luta, que só acaba antes do tempo regulamentar se um atleta abre oito pontos de vantagem sobre o concorrente.

Brasil bem na fita 

Valéria Kumisaki: ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2015, no Canadá (Foto: Sergio Dutti/Exemplus/COB)

Antes de chegar aos Jogos Olímpicos, o karatê já era modalidade dos Jogos Pan-Americanos. A delegação brasileira conseguiu cinco medalhas na mais recente edição desses jogos, realizados em Toronto, no Canadá, em 2015 – três de ouro e duas de bronze, ficando em primeiro lugar na modalidade. Além de Douglas Brose, medalhista de ouro na competição, outros nomes têm boa colocação no momento. Como Valéria Kumizaki, medalha de prata na categoria até 55 kg no Mundial de Karatê realizado em Linz, na Áustria, em 2016, e terceira melhor do mundo segundo o ranking atual da FMK. Outros atletas que têm boas chances de subir ao pódio em Tóquio são Vinícius Figueira, da categoria até 67 kg, e Sabrina Pereira, até 55 kg.

 

Fontes:
Portal Educação
Revista Isto É
Site da Confederação Brasileira de Karatê
Site do Globo Esporte

 
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