Comemorado em 21 de maio, o Dia Internacional da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento foi criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2002, para celebrar a originalidade e a pluralidade das identidades dos diversos grupos sociais humanos. Embora a questão não seja explicitamente citada em nenhum dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, Irina Bokova, diretora-geral da Unesco (agência da ONU voltada para a Educação, a Ciência e a Cultura), afirmou que a comunidade internacional reconheceu que será impossível cumprir os ODS sem o envolvimento das diversas culturas em um diálogo que garanta os benefícios do progresso a todos os membros da sociedade.
Apesar disso, nas comemorações de 2017, em mensagem no site da Unesco, Irina Bokova lamentou a ameaça à diversidade cultural, em função do crescimento de grupos “extremistas que transformaram as minorias culturais em alvo”. Simone Ribeiro da Conceição (Simone Ricco), ativista dos direitos humanos e civis, mestre em Literatura Africana e professora de Língua Portuguesa da E.M. Nações Unidas (8ª CRE), em Bangu, diz que, no Brasil, o quadro não anda diferente: “A intolerância aumentou muito desde que o Estado passou a adotar políticas afirmativas”.
Bolha linguística
No Congresso Nacional e na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, deputados apresentaram, recentemente, projetos pelo fim das cotas para negros e indígenas. Um dos argumentos é que elas dividem, negativamente, a sociedade, gerando ódio racial e ressentimento. Os ativistas não compartilham dessa visão. Para eles, a divisão sempre existiu. “O problema é que uma parte da sociedade nunca enxergou a diversidade. Os negros vêm de uma outra cultura, de matriz oral, e aqui no Brasil a maioria deles não teve acesso às escolas até algumas décadas atrás. Esta é uma realidade bastante diferente daquela vivida pelos alunos da Zona Sul e de outros bairros de classe média, descendentes de famílias de origem europeia, com tradição escrita e acesso à cultura”, diz Simone Ricco.
Essa divisão, segundo a professora, é perceptível no ambiente escolar e se reflete nas aulas: “Há poucos dias, uma aluna do 7º ano me perguntou qual era o significado da palavra “cotidiano”. Outra, não sabia o que era “botequim”. Por uma questão histórica, o vocabulário dos afrodescendentes costuma ser reduzido, cheio de gírias e sem traquejo com a norma culta. A cidade é partida e a maioria desconhece o mundo para além da bolha em que vive. É como naquela música (de Aldir Blanc): o Brasil não conhece o Brasil”.
Arrancada no final
A professora Simone Ricco, de Língua Portuguesa da E.M. Nações Unidas, também discorda de quem afirma que as cotas só existem porque o ensino da escola pública é ruim. A questão, segundo ela, é que os docentes precisam se adequar às lacunas culturais da sociedade, que adentram a sala de aula. É por esse motivo que tem feito ditado com seus alunos, com o objetivo de ampliar não apenas o conhecimento deles em ortografia, mas também para alargar seu vocabulário.
“Outro dia, ditei 100 palavras. A sala ficou atordoada porque não conhecia quase nenhuma. Então, nós, professores, fazemos o que temos que fazer. Se precisamos voltar um pouco atrás no conteúdo, voltamos. E tenho observado que, depois que dominam a base, aprendem rápido e dão um sprint, uma arrancada. Vários ex-alunos da E.M. Nações Unidas ingressaram no Colégio Pedro II, nas universidades e até mesmo na pós-graduação”, explica.
História e representação
As políticas de cotas são intimamente relacionadas aos movimentos identitários que surgiram nos Estados Unidos, nos anos 1960, quando reivindicações por direitos civis de negros e mulheres ganharam força e visibilidade. O então presidente John Kennedy decidiu validar ações afirmativas que tinham como objetivo a redução das desigualdades sociais. Mas mais do que isso: as manifestações, questionando a “cultura dominante, branca e machista”, reverberaram pelo mundo.
Na Europa, os milhares de trabalhadores, oriundos da África e do Oriente Médio, que tiveram papel importante no desenvolvimento europeu, após a Segunda Guerra, também começaram a se afirmar como grupos com identidade própria, abalando as políticas assimilacionistas – aquelas em que as chamadas minorias absorvem a cultura dominante. Segundo Daniel Aarão Reis, professor de História da Universidade Federal Fluminense (UFF), esse processo foi ampliado com o advento da internet, que facilitou os imigrantes a manterem laços afetivos e culturais com suas comunidades de origem.
Várias reações extremistas, contra os movimentos identitários e as minorias, surgiram tanto nos Estados Unidos como na Europa, a exemplo dos supremacistas brancos e neonazistas. No Oriente Médio e na África, a questão é inversa. Grupos étnicos minoritários e fundamentalistas, sufocados pelos governos, é que se constituíram em organizações terroristas (como o Estado Islâmico e o Boko Haram). Em mensagem da Unesco, a diretora geral Irina Bokova deixa claro que a instituição não compartilha do objetivo de enfraquecer os vínculos essenciais entre as pessoas e sua história e que aposta no diálogo intercultural para a promoção da paz e do desenvolvimento sustentável.
Quantidade e qualidade
No Brasil, os movimentos identitários e as políticas afirmativas também não são unanimidade, muito embora, em 2017, o Supremo Tribunal Federal tenha votado a favor da constitucionalidade das cotas raciais.
Nos Estados Unidos, ativistas americanos reclamam que não é viável ter um sistema de Ensino Superior em que as melhores universidades sejam reservadas aos brancos. Afirmam que, na Califórnia, por exemplo, a maioria dos alunos que termina o ensino médio é negra ou hispânica. E criticam a redução da representatividade deles em universidades estaduais de prestígio, como Los Angeles e Berkley.
O estabelecimento das cotas, no Brasil, tem garantido o aumento do número de pretos e pardos que concluíram o nível superior. Eles eram 2,2% dos formandos em 2000 e saltaram para 9,3% em 2017. De posse desses números, as lideranças negras tentam abrir canais de diálogo com o Congresso Nacional e a Alerj para barrarem os projetos de lei que buscam dar fim às políticas afirmativas raciais.
Apesar do crescimento de reações radicais contra as cotas, a professora Simone Ricco não está pessimista em relação ao futuro. Sua convicção positiva está relacionada ao aumento qualitativo de pessoas interessadas nas causas e nos estudos das questões étnicas. Segundo ela, não se trata mais da onda que surgiu no início dos anos 2000, quando a Lei 10.639/03 instituiu a obrigatoriedade do ensino de História da África e da Cultura Afrobrasileira, nas escolas. “Naquela época, muita gente buscou conhecer melhor esses conteúdos por uma questão de trabalho. Hoje, o número de pessoas é menor, mas há muito mais engajamento e qualidade de reflexão. E isso faz toda a diferença”, conclui.
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