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Ocupação do espaço urbano e cidadania
25 Outubro 2011 | Por Márcia Pimentel
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PORTO_OLMPICO2_com_creditoOs tempos de cidade olímpica são de grandes intervenções urbanísticas no Rio de Janeiro. As obras de revitalização da zona portuária, a construção da linha 4 do metrô, dos corredores para VLT (Veículo Leve sobre Trilho) e para BRT (Bus Rapid Transit) são alguns dos projetos que, além de mexerem com a mobilidade urbana e as feições da cidade, movimentam empreendimentos privados e tangenciam interesses diretos de segmentos da população. 

A cidade, segundo o sociólogo Marcelo Burgos, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), é palco de interesses diversos e de visões de mundo que se refletem nas formas de ocupação do espaço. A maneira de intervir nesse espaço gera consequências à esfera pública, ou seja, ao ambiente do convívio comunitário, onde os cidadãos se encontram, compartilham experiências, formam e transformam a cultura e as opiniões. Esse ambiente de trocas é fundamental para a dinâmica da democracia, por reunir as condições e os pressupostos para fazer política em seu sentido mais pleno e amplo.

BARRAMARES_2_com_creditoUm dos vieses de ocupação do espaço urbano mais em voga nas últimas três décadas – os condomínios fechados, aos moldes dos que proliferam na região da Barra da Tijuca e Recreio dos Bandeirantes – espelharia, de acordo com Burgos, a opção pela autossegregação e pela redução do espaço de convivência dos diversos grupos sociais da cidade. Moradores do Barramares chegaram a declarar ao programa Cidade Inteligente, produzido pela MultiRio, que sua relação com o resto da cidade é quase zero, pelo fato de o condomínio oferecer praticamente tudo o que precisam – diferentes tipos de comércio, transporte próprio, segurança, áreas de lazer, apresentações culturais e outros serviços.

Por ser ícone de uma visão de ocupação do espaço que enfraquece os laços de convivência com o resto da cidade, esse tipo de empreendimento, quase sempre distante do centro urbano, tem sido alvo de duras críticas por parte de urbanistas.

– Algumas das conseqüências desse tipo de visão são o esvaziamento do espaço público e a criação de territórios de ricos e de pobres que não se comunicam – avalia Cristovão Duarte, professor da Faculdade de Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Também tem sido muito criticada a forma pela qual os autossegregados usufruem dos benefícios urbanos – como empregos, oportunidades de negócios, saúde, educação, comércio e outros serviços – pelo fato de tal uso ser seletivo, ligado apenas a interesses individuais e pontuais, sem constituir laços sociais.

Para o arquiteto Roberto Anderson, outro grande problema da autossegregação é a consolidação do medo do diferente, o que enfraqueceria a democracia, que é fruto do exercício da alteridade, ou seja, da experiência da convivência com o outro. Por isso, ele considera fundamental que o poder público crie e fortaleça atividades e lugares, onde os mais diversos tipos de pessoas possam se socializar. No caso do Rio de Janeiro, a praia e o carnaval de rua atenuariam as conseqüências do fenômeno da autossegregação, por possibilitarem o encontro entre os diferentes. Mas este não é o caso de todas as cidades.

O sociólogo Marcelo Burgos acredita que a lógica de constituição de guetos pode atingir níveis dramáticos, caso as cidades não sejam capazes de trazer de volta ao espaço coletivo o contingente populacional que se isolou. Ele considera que, diante do cenário da autossegregação, as escolas públicas ganham importância estratégica, pois, nelas, crianças e adolescentes de todos os matizes sociais, econômicos e culturais podem se encontrar.

– Mas se a criança estuda em escola do próprio condomínio, a perspectiva se torna aterradora – opina Burgos.

Ruas e áreas degradadas

INTERIOR_SHOPPING_com_crditoEmbora o fenômeno da autossegregação seja mundial, Burgos avalia que ele não se expande na velocidade que alguns teóricos imaginaram. Essa proposta de ocupação do espaço encontra resistência de parcelas setores da população que têm visão de mundo diferente e não abrem mão de viver na cidade. Por outro lado, no Brasil, proliferaram os shopping centers, que seguem a mesma lógica dos condomínios fechados – a de trocar os serviços oferecidos na via pública por aqueles ofertados nos espaços privados, vigiados por forte esquema de segurança.

Essa troca do espaço público pelo privado acabou por reduzir a força do comércio de rua em várias regiões da cidade. Alguns grupos de comerciantes tentaram reagir a esse processo de esvaziamento. Foi o que aconteceu no bairro da Lapa, na região central do Rio de Janeiro, onde donos de antiquários encontraram no associativismo a forma de enfrentar essa tendência. A movimentação dos empresários se refletiu em todo o bairro, que passou a viver o processo que ficou conhecido como revitalização da Lapa.

A autossegregação não é a única dinâmica espacial globalizada enfrentada pelas cidades. Dezenas delas – como Boston, Nova York, Baltimore, Amsterdã, Londres e Rio de Janeiro, só para citar algumas – passaram pela deterioração de suas zonas portuárias e viram grande parte de suas classes médias optarem por morar em bairros cada vez mais distantes do Centro. Muitas delas revitalizaram as regiões no entorno de seus portos por meio de incentivos fiscais e obras públicas estruturais que atraíram investidores e empreendedores.

De acordo com Abílio Guerra, professor da Faculdade de Urbanismo da PUC-Campinas, as cidades pioneiras no processo de recuperação das zonas portuárias acabaram por forjar procedimentos de planejamento urbano que se tornaram modelos para as outras. Este é, agora, o caso do Rio de Janeiro, que passa pelo processo de revitalização da região do porto. A desmontagem do viaduto da Perimetral no trecho da Avenida Rodrigues Aves, a abertura de uma nova via no antigo caminho dos trens, a inauguração de novos espaços culturais e a construção de edifícios com até 50 andares são algumas das obras que alterarão a dinâmica da cidade.

 
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