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Altas habilidades são um desafio para os professores
03 Junho 2014 | Por Sandra Machado
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DelouTer uma vida bonita e bem aproveitada é um sonho característico da nossa espécie. Já os recursos para buscar essa meta são múltiplos, e vão desde a família, o local de nascimento, a época, até as escolhas individuais. Como os estudos oferecem uma base importante na trajetória de qualquer pessoa, faz parte do senso comum acreditar que, quanto mais inteligente ela for, maiores as chances de sucesso. Mas se engana quem pensa que o caminho fica mais fácil quando se tem amplitude intelectual aumentada em comparação à média, como é o caso dos alunos com altas habilidades/superdotação (AH/S). Exigir demais de si mesmo, reconhecer que nem sempre tudo dá certo e ficar entediado por não conseguir enxergar novos desafios causam sofrimento a quem tem esse perfil.

Há 32 anos Cristina Delou se dedica à causa das pessoas com altas habilidades/superdotação. Ela é professora adjunta da Faculdade de Educação e coordenadora do curso de Mestrado Profissional em Diversidade e Inclusão do Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Desde agosto de 2013, atua como consultora ad hoc do Instituto Helena Antipoff, onde tem como meta principal localizar esses alunos e auxiliá-los no encaminhamento apropriado. “A maior parte deles não é identificada. O professor é a única chance que a gente tem de chegar a esse tipo de aluno.”

A Organização Mundial da Saúde estima em 1% a parcela da população composta por superdotados, o que, no caso do Brasil, chega a 2 milhões de pessoas. Como a Secretaria Municipal de Educação aponta um total de 674.312 alunos matriculados na cidade do Rio de Janeiro, em teoria existiriam 6.743 crianças necessitando de Educação Especial. Mas a realidade mostra índices diferentes. “Atualmente, a gente não tem nem mil cadastrados.” Cristina dá um exemplo de visualização mais fácil. “Em uma escola com 1.600 crianças, se escondem, no mínimo, 16 superdotados. Mas é sempre bom lembrar que precocidade não caracteriza superdotação.”

Daí a importância do Programa de Educação Especial (Proesp), uma iniciativa do governo federal para qualificar professores. Segundo Cristina Delou, o ideal seria a inserção do tema nos cursos de licenciatura, de forma a garantir, já na formação dos professores, a habilidade de identificar a criança com AH/S. A Lei de Diretrizes e Bases do Ministério da Educação só consolidou o direito desses alunos à Educação Especial em 1996.

Desde a década de 1960, no entanto, o IHA já contemplava a atenção aos superdotados. No momento, quando um professor da Rede encaminha algum aluno e sua família para o IHA, é feita uma entrevista e uma avaliação pedagógica. “Dá para saber, na hora, qual a área de talento. Mas é preciso formar os profissionais para que seja natural reconhecer a inteligência, independentemente do comportamento do aluno”, ressalta Cristina. Algumas crianças são atendidas pelas oficinas de Música, Teatro e Artes do próprio IHA, mas a legislação permite que elas recebam atendimento também fora da escola.

 Acompanhamento especializado

A necessidade de programas de enriquecimento ou aprofundamento de estudos passa pelas Salas de Recursos no contraturno das aulas regulares, mas sempre com um horário exclusivo para quem tem AH/S. “A gente pode trabalhar com projetos individuais que, reunidos, convergem em um produto final. Como um jornal, no qual alguém escreve, outro faz a ilustração...”, explica Cristina. No Rio de Janeiro, a Rede Municipal de Ensino conta, ainda, com a colaboração fundamental de quatro instituições parceiras.

“São três empresas privadas importantes, que têm programa de ação social, e uma empresa pública. O Instituto Social Motivar Apoiar e Reconhecer Talentos (Ismart); o Instituto Rogério Steinberg (IRS); o Instituto Lecca (Ilecca), com o Programa Estrela Dalva; e a Vila Olímpica da Maré.” Por causa das grandes distâncias, são encaminhados apenas os selecionados da 1ª à 4ª CRE. “Da 5ª à 11ª, ninguém é atendido. É um drama, porque a Educação Especial faz muita diferença. Tivemos um menino, analfabeto ainda aos 9 anos, que, com o atendimento adequado, em apenas três anos, passou em primeiro lugar no concurso para o 7º ano do Colégio Pedro II.”

Sem o acompanhamento especializado, o aluno corre o risco de ficar desmotivado e entediado, porque não consegue avançar. “Ele desvia a atenção e até abandona a escola. Não deixa de ser contraditório”, avalia Cristina. Por outro lado, todos ganham se existe orientação. “É bom para a turma regular quando o aluno com AH/S mostra aos outros que tem motivação para estudar. Ele exerce uma influência positiva sobre a turma e é positivo se consegue ajudar um colega com maior dificuldade de aprendizado. Só não se pode achar que ele é um substituto do professor. O próprio aluno recebe o benefício de entender as limitações humanas, ao se dar conta de que nem todo mundo consegue ser tão rápido quanto ele."

Interagir sem chamar a atenção e sem parecer diferente, evitando dificuldades de relacionamento, demanda também uma preparação para o convívio do superdotado junto aos familiares, colegas de turma e professores. Nem sempre o amadurecimento intelectual vem acompanhado do amadurecimento emocional. Ninguém nasce preparado, por exemplo, para um curso de Mestrado aos 15 anos de idade, o que não chega a ser raro em se tratando de AH/S. A criança ou o jovem precisa encarar, com segurança, a chamada aceleração de estudo, que é quando o aluno consegue concluir sua formação em tempo reduzido.

Joao GabrielDiante da criança questionadora ou hiperativa, muitas vezes os pais procuram ajuda médica. Mas a circunstância seria facilmente contornada a partir de um novo desafio, como aprender a tocar um instrumento. Há muitos mitos em torno da figura do superdotado. É justamente o fato de ter habilidades surpreendentes em áreas específicas – mas de não ser, necessariamente, brilhante em tudo – o que diferencia o superdotado do gênio.

Ele pode, inclusive, não ter sucesso profissional devido à complexidade de identificar uma carreira condizente com a chamada “multidimensionalidade dos talentos”. A falta de nivelamento se dá, também, nos âmbitos afetivo e social: surge a dificuldade de encontrar até mesmo um parceiro amoroso, capaz de acompanhar e oferecer um feedback acima da média.

Para Cristina Delou, a mídia costuma dar destaque ao assunto sempre que surge algum medalhista, seja de Matemática, seja do esporte, mas não existe uma preocupação da sociedade em geral com as crianças ainda em formação. Contudo, a troca de informações por meio de um núcleo compartilhado em rede está nos planos de quem trabalha com a educação dos superdotados cariocas. Um ponto de partida é o Programa de Atendimento aos Alunos de Altas Habilidades Superdotados, que funciona para avaliação e encaminhamento de pessoas de qualquer idade. Outra referência, segundo a pesquisadora, é o Mensa, uma instituição que funciona em mais de cem países e foi fundada na Inglaterra em 1946. Com representação no Brasil, ela serve para o entrosamento de pessoas com QI reconhecidamente elevado. “A vantagem é que eles criaram uma comunidade. A gente não tem essa cultura no Brasil.”

Inclusive Eu

Altas habilidades/superdotação é um dos temas da série Inclusive Eu, produzida pela MultiRio, que dá voz a pessoas com necessidades especiais. 

 
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