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Meditação laica nas escolas
18 Março 2016 | Por Larissa Altoé
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livroredimensionadoManter a atenção de uma turma de crianças ou jovens pode não ser tarefa simples. Por isso, professores têm estratégias diversas para desenvolver as atividades previstas no currículo. Quando os profissionais trabalham nas chamadas áreas conflagradas, os esforços precisam ser redobrados, para promover a tranquilidade e a produtividade em sala de aula.

Claudiah Rato, professora do Colégio Pedro II, foi além e criou não apenas uma estratégia, mas uma técnica que auxilia professores e alunos de qualquer disciplina. É a Meditação Laica Educacional – MLE, que promove o relaxamento, o autoconhecimento e um maior controle das emoções, gerando um ambiente mais cordial e colaborativo em sala de aula.

A técnica foi sintetizada em livro de mesmo nome, fruto da tese de mestrado de Claudiah em Ciência da Educação, e ensinada a cerca de 180 professores de escolas públicas do Ensino Fundamental de todo o Brasil, por meio de oficinas práticas. Claudiah Rato e os professores que utilizam o método afirmam que 12 minutos de aplicação de MLE promovem um convívio renovado em sala de aula, melhorando o desempenho da turma.

Historicamente, meditação está ligada a desenvolvimento espiritual, filosofia de vida ou crença religiosa. Esse não é o caso da meditação laica, cujo objetivo é desenvolver a inteligência emocional, ou seja, a capacidade de lidar de forma criativa com os próprios pensamentos e emoções. Como enfatiza a professora: “Meditar educa. Aperfeiçoa a habilidade do aluno em controlar suas emoções; além de promover a concentração, a memória e reduzir o estresse”.

Nas oficinas ministradas por Claudiah, os professores vivenciam o método e terminam com um roteiro de como aplicá-lo em sala de aula. A meditação laica é um momento de interiorização.

 

MLE na Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro

Marcelo Galvan é professor de Artes Cênicas na E.M. Presidente Antônio Carlos, 9º CRE, em Cosmos, Zona Oeste. Praticante de meditação, queria levar a experiência para os alunos em sala de aula, consciente do bem-estar que poderia proporcionar. A primeira tentativa não deu certo, porque o conhecimento que tinha até aquele momento era ligado a referências de tradição taoísta e budista, o que não conquistou os alunos.

Marcelo pesquisou e achou, por meio da internet, o livro de Claudiah Rato. Entrou em contato com ela e fez um workshop. Em 2015, o professor apresentou à coordenação pedagógica e à direção da escola municipal onde leciona a proposta de trabalhar a MLE nas suas turmas. Com a aprovação, aplicou o método no 7º e no 8º anos. Foi um sucesso. Depois de cada sessão de 12 minutos, os alunos estavam mais silenciosos, atentos e interessados.

Marcelo conta que utiliza a técnica no início da aula. Pede que os alunos fiquem na posição em que se sintam mais relaxados. A partir daí, orienta para que todos fechem os olhos e prestem atenção à própria respiração. Depois, que a mente foque em cada parte do corpo, começando pelos pés, e indo, paulatinamente, até a cabeça.

escolapresidenteantoniocarlosO passo seguinte é trazer o pensamento para dentro da sala de aula, prestar atenção ao barulho do ar condicionado, das pessoas que passam pelo corredor. A ideia é não divagar, mas voltar a mente para o aqui e agora, o momento presente.

Por fim, chega a hora de prestar atenção às próprias emoções, como cada um está se sentindo. Se houver algum sentimento ruim, a indicação é respirar e pensar que o incômodo vai embora com o ar que sai dos pulmões.

No encerramento da meditação, o professor diz para os alunos começarem a acionar cada parte do corpo novamente e lentamente abrir os olhos. É então que, de uma forma mais tranquila, Marcelo começa a aula de Artes Cênicas. “Os alunos ficam menos agressivos, já que estão mais contentes consigo próprios”, avalia o mestre.

 

Turma em defasagem avança na aquisição de leitura e escrita

Roberta Batista Pereira acaba de ingressar como professora concursada na Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro, onde começou a lecionar para o 5º ano da E.M. Olegário Mariano, em Rocha Miranda, 5 ª CRE.

De 2012 a 2015, recém formada, deu aulas para o 4º ano da E.M. Waldick Cunegundes Pereira, na zona rural do município de Queimados, região metropolitana do Rio de Janeiro – uma turma heterogênea, com problemas de alfabetização e comportamento. Roberta relata que os alunos progrediram graças à MLE e à abordagem lúdica que adotou para transmitir o conteúdo.

Dos 21 alunos entre 9 e 12 anos, 6 não conheciam as vogais e apenas 4 escreviam de forma autônoma. Além disso, mostravam-se desinteressados e inquietos. Em um dia especialmente agitado, em que ela não conseguia iniciar a aula por causa do barulho na turma, decidiu começar a MLE, que tinha aprendido no Programa de Residência do Docente, realizada no Colégio Pedro II.

Diante da balbúrdia, em vez de gritar para ser ouvida, ela ofereceu o silêncio. Permaneceu muda durante 1 hora e 20 minutos, com um semblante bom, de espera receptiva, esperando para iniciar a aula. Durante esse tempo, as crianças gritaram, escreveram no quadro e se desentenderam a ponto de trocarem sopapos. Roberta continuou esperando. Ao verem que a professora não interferiria, os próprios alunos trataram de acalmar os colegas que estavam brigando e foram sentando em seus lugares.

A professora explicou que queria desenvolver com eles uma atividade diferente, de meditação aplicada à educação. Os alunos a ouviram por 15 minutos, atentamente. Roberta aplicou a técnica e, para sua surpresa, os dois meninos que tinham brigado brincaram durante o recreio e, no retorno à sala de aula, um abriu a porta para o outro. A partir desse dia, em agosto de 2015, até o fim do ano letivo, Roberta usou MLE uma vez por semana, e, quando não o fazia, os próprios alunos cobravam porque estavam sentindo falta da experiência.
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 No trabalho final apresentado por Roberta à Residência do Docente do Colégio Pedro II, ela escreveu que, graças à MLE e a métodos lúdicos de ensino, conseguiu que todas as seis crianças da turma que não conheciam as vogais no início do ano tivessem progressos expressivos na aquisição da leitura e escrita, como escrever frases simples.

O comportamento da turma de um modo geral mudou para melhor. O aluno W., por exemplo, que só se sentava no fundo da sala e não fazia os deveres, passou a se sentar na frente e cumprir com as tarefas. Em 2016, Roberta pretende usar a MLE na E.M. Olegário Mariano, onde leciona atualmente.

 Retrospectiva

Claudiah Rato, precursora da MLE, formou-se em Psicologia e Educação Física. Foi como professora de Educação Física que ela prestou concurso no Colégio Pedro II, em 1984. Ao dar aulas para o Ensino Médio, enfrentava a falta de interesse dos alunos pela matéria. Para atraí-los, decidiu incluir alongamento e relaxamento na disciplina e viu o interesse e a procura por parte dos estudantes crescer de forma notável, principalmente devido ao relaxamento. Começou, então, a incrementar as aulas com técnicas de controle da atenção e da mente.

Em 2009, com a autorização de Maria Helena Sampaio, diretora da unidade Humaitá II, do Colégio Pedro II, Claudiah passou a oferecer Meditação Laica Educacional aos alunos daquela instituição entre as outras possibilidades da Educação Física, como futsal e handebol.

Atualmente, a professora promove seminários para ensinar a técnica a colegas interessados em implementá-la, além de oferecê-la no Programa de Residência Docente do Colégio Pedro II ou por meio de workshops a grupos avulsos.

 
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