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Relações humanizadas, melhores resultados
21 Março 2016 | Por Sandra Machado
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Lotação completa na sala de aula na Fullworks (Foto: Divulgação)

De acordo com um estudo do departamento de Sociologia da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, um jovem que lê por prazer tem melhores chances de êxito profissional. Concluída em 2011, a investigação comparou as formas de lazer – leitura, prática de esportes, ida ao cinema ou a exposições – de 17.200 pessoas quando tinham 16 anos de idade e sua situação de emprego aos 33. Segundo a pesquisa, a única atividade substancialmente relevante para a ascensão profissional do grupo foi a leitura – de jornais, revistas, livros clássicos e best-sellers –, porque ela amplia o vocabulário, aumenta a compreensão de conceitos abstratos e estimula a imaginação, entre outros benefícios. Felizmente, cresce a cada dia, no Brasil, o número de empresas que oferecem aos empregados mecanismos favoráveis ao seu crescimento pessoal, estimulando não apenas o hábito da leitura, mas criando oportunidades de estudo nas próprias instalações.

Bem mais do que um negócio

Tecnicamente falando, a Fullworks é uma empresa de soluções em comunicação visual. Na prática, no entanto, o que prevalece é uma filosofia de vida que coloca o ser humano no centro de tudo. “Levo a sério a ideia de que a empresa do futuro será um polo de conhecimento e desenvolvimento humano. Por aqui, já caminhamos nesse sentido”, resume o diretor geral, Edward Ponte, ao se referir à Escola de Formação, implantada em paralelo às atividades-fim. Ali, jovens de baixa renda fazem cursos profissionalizantes em serigrafia, marcenaria e solda eletrônica, entre outros, mas também têm contato com uma educação humanista, por meio das aulas de Comunicação Interpessoal e Inclusão Digital, por exemplo. Completado o curso, quando não há nenhuma vaga em aberto, o setor de recursos humanos trata de encaminhar os recém-formados ao mercado de trabalho.

Uma árvore de braços abertos: assim se estrutura a Fullworks. A “cabeça” na produção não a impede de ter uma preocupação com o relacionamento na mão direita e com a educação na esquerda.

Os professores e instrutores podem ser profissionais contratados, voluntários ou os próprios funcionários, que, dessa forma, estão em capacitação permanente. “Valorizamos o conhecimento dos nossos colaboradores mais experientes. Em 2015, tivemos a formatura da primeira turma de tutores que receberam aulas de didática, numa parceria com o grupo Conexalli. Formar esses profissionais possibilitou o empoderamento do seu conhecimento. Com essa nova ferramenta, eles têm a oportunidade de passar adiante, de forma muito mais efetiva, o que aprenderam na prática”, explica Nobuhiro Sudo, gestor de educação.

No ano passado, uma pesquisa de satisfação com os clientes apontou um índice de 100%, sensação compartilhada também dentro da empresa. “Por mais que estejamos lotados de trabalho, há sempre o clima de alegria, com os trabalhos saindo organizadamente e no tempo certo. Alguns ex-alunos, atualmente recém-contratados, são adultos entre 20 e 25 anos e se sentem acolhidos e valorizados”, completa Sudo. Independentemente de haver turmas dos cursos profissionalizantes em andamento, são oferecidas aulas de Língua Portuguesa e Matemática semanalmente na própria fábrica. Novas oficinas, com foco em noções de Direito e em Educação Financeira, estão nos planos para o futuro próximo. Diante de uma maior produtividade e de um melhor ambiente de trabalho, a empresa como um todo também agradece.

Ler no Trabalho É Legal

Ana Maria de Andrade na cerimônia de entrega do prêmio concedido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (Foto: Arquivo pessoal)

Coordenado pela escritora Ana Maria de Andrade e implantado na empresa ICQL Química desde 2005, o programa Ler no Trabalho É Legal tem sobressaído junto às instituições de referência do setor. Em 2013, a proposta de educação corporativa continuada recebeu o reconhecimento da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e, no ano seguinte, o Prêmio Ser Humano Oswaldo Checchia, concedido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH). Em 2015, o projeto de incentivo à leitura também se destacou no Sétimo Encontro da Rede Latino-Americana de Gestão de Pessoas e Organizações Sustentáveis, realizado na cidade mexicana de Puebla, que contou com representantes de 13 países.

No dia a dia da empresa, especialmente nos processos seletivos, eram observadas dificuldades de leitura e de escrita em colaboradores de diferentes níveis hierárquicos – mesma deficiência que tem sido apontada como uma das principais causas da baixa produtividade em empresas latino-americanas, se comparadas às europeias. Com o objetivo de estimular a formação do hábito de leitura e do prazer de ler em uma escala ampliada, desde o início o projeto se estende aos colaboradores internos, aos seus familiares e aos estudantes da comunidade, no município de Duque de Caxias. Monitorados e avaliados por indicadores de desempenho, os avanços têm sido surpreendentes, com elevação do nível de produtividade, da cultura em prol da qualidade, da autoestima e da motivação individual.

Trabalho de formiguinha

O projeto teve início há dez anos, com a criação de um departamento de Comunicação Social, que rastreou as dificuldades dos profissionais da casa, entre as quais a falta de acesso a bibliotecas públicas e espaços culturais, escassos na região da Baixada Fluminense. A primeira providência foi criar um clube de leitura. “Os encontros de leitura são realizados no horário de trabalho, uma vez por mês. Todos participam durante uma hora e meia, com autorização e estímulo da diretoria. Por isso, o nome do projeto é Ler no Trabalho É Legal: legal com significado de prazer e também de legalidade – é permitido ler no trabalho, é uma atitude bem-vinda”, explica Ana Maria.

Clube de leitura na ICQL Química: debate e troca de experiências literárias no horário de trabalho (Foto: Arquivo pessoal)

No auditório, um armário passou a guardar material doado, que foi catalogado e organizado em forma de biblioteca. Os funcionários que levassem qualquer publicação para engordar os novos pontos de leitura eram recebidos no setor de Comunicação com um sorriso de boas-vindas e com uma pequena guloseima. Semanalmente, nos encontros de capacitação chamados de Rodas de Leitura, material selecionado era lido em voz alta e o doador daquele livro aplaudido pelo grupo. “Após alguns meses de prática, já estávamos lendo textos maiores e com nível de interpretação mais complexo. Espontaneamente, os colaboradores com nível de escolaridade mais elevado ou melhor habilidade de leitura assumiram o papel de monitores e auxiliavam outros que apresentavam mais dificuldades, o que gerou laços de solidariedade e colaboração entre a equipe”, conta Ana.

Por fim, a empresa estruturou o programa de incentivo à leitura em ações bem definidas. Passou a investir uma quantia mensal para a aquisição de livros e filmes, exibidos semestralmente. Estabeleceu uma doação mensal de livros infantis para crianças visitantes das escolas da comunidade e uma doação comemorativa para os filhos dos empregados no Dia das Crianças e no Natal. Criou uma atividade chamada de Produção Textual – em que os empregados são estimulados a escrever seus próprios textos, publicados depois no jornal on-line –, bem como uma iniciativa de produção artística, que estimula a criação de pequenas peças teatrais e peças de artes plásticas.

Também são oferecidos encontros mensais para reciclagem de Língua Portuguesa e um plano de desenvolvimento individual, que incentiva a elevação do nível de escolaridade com auxílio da empresa: seja na cessão de horas de trabalho, seja com ajuda financeira. Além disso, prêmios são concedidos aos colaboradores que têm a maior pontuação no cartão de leitura, que é a soma do número de livros lidos com o número de empréstimos e de doações durante o ano. As vantagens de toda essa mobilização são apontadas pela assistente comercial Estiviana Cravieri: “A maior aprendizagem, sem dúvida, é o fato de compartilhar informações e dividir minha opinião com o grupo, o que nos dá a oportunidade de conhecer uns aos outros”.

Fontes: Entrevistas, Dossiê do Projeto Ler no Trabalho É Legal, folder Fullworks (jan. 2016), Revista Veja – maio de 2011.

 
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