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O papel da família na aprendizagem da criança
19 Março 2010 | Por Márcia Pimentel
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É praticamente unânime entre os profissionais de educação de hoje que a participação da família na vida escolar dos filhos é uma grande aliada do bom desempenho acadêmico. Os professores e diretores, por exemplo, das escolas onde estudam os alunos que tiraram as melhores notas na prova de avaliação realizada pela Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME), no final de 2009, destacaram, sem exceção, a importância das famílias na vida escolar de cada um desses estudantes.

Em tempos em que a família está se transformando e grande parte das mulheres não tem mais tempo de acompanhar integralmente os passos dos filhos, qual seria o papel a ser desempenhado pelos pais e responsáveis em relação à escola? Para a pesquisadora Cynthia Paes de Carvalho, que foi professora do ensino básico durante 15 anos e hoje é vice-coordenadora da pós-graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o papel da família não pode ser, definitivamente, o mesmo da escola. “Ensinar os conteúdos das matérias é papel e obrigação dos professores, que não podem pressupor que os responsáveis tenham tempo para ensinar, ou conheçam os assuntos que estão sendo dados em sala de aula”, afirmou.

Valorização da escola

O papel que a família deve exercer, segundo Cynthia, é o da valorização da escola, papel que requer engajamento no processo educacional das crianças. ”Valorização e engajamento não exigem qualquer formação acadêmica por parte dos responsáveis. O fundamental é dar valor à escola, cobrar compromisso com os estudos, estar atento ao desenvolvimento dos filhos e buscar entender, sempre, e se for o caso, porque eles estão tendo alguma dificuldade ou comportamento intempestivo na escola”, afirmou a pesquisadora, que está elaborando um livro sobre a interação escola-família em parceria com a Unesco.

Para compreender os motivos que estão dificultando o aprendizado ou interferindo no comportamento da criança é preciso que pais, professores e direção da escola criem canais de diálogo. Isto aumenta a margem de acerto em relação à medida a ser tomada. “Se for o caso, a família pode aplicar à criança alguma sanção que julgar necessária. Mas jamais sem entender o que está gerando a dificuldade ou o comportamento indesejado”, disse Cynthia.

O aluno da Rede Pública Municipal do Rio de Janeiro Vinícius Gomes Soares (foto), por exemplo, quando começou a frequentar a creche aos 3 anos, tinha dificuldade de interagir com outras crianças. Além de retraído, não conseguia realizar várias atividades propostas pelos agentes da creche, que acabaram sugerindo à doméstica Cosma Gomes da Silva, mãe de Vinícius, o encaminhamento dele a um fonoaudiólogo. Ficou constatado que ele tinha um desenvolvimento tardio da fala, o que o levava a ter vergonha de conversar com os colegas e de tirar suas dúvidas com os professores, postura que acabava se refletindo na aprendizagem.

Feito o devido tratamento, Vinícius, hoje com 10 anos, está cada vez mais falante e é ótimo aluno. Na prova de avaliação realizada pela SME, no final de 2009, tirou, junto com outros três alunos, a melhor nota de Matemática entre os 69.426 alunos do 3º ano da Rede Municipal de Ensino. “Eu sempre corria para conversar com a escola, quando percebia que ele estava com alguma dificuldade incomum. Também sempre exigi dele uma hora de estudo por dia, depois de chegar em casa. Se não tem dever para fazer, que arrume algum livro para ler”, disse Cosma, mãe de Vinícius.

Engajamento

O papel proposto por Cynthia Paes de Carvalho para a família – o de valorização da escola e engajamento no processo educacional dos filhos – é bastante semelhante à postura exercida pelos pais dos demais alunos que conquistaram as melhores notas nas provas de avaliação da SME, no final de 2009. João Jerônimo de Souza (foto), aposentado e pai da aluna Estefânia Soares de Souza, que tirou a melhor nota em Português, entre os 57.540 alunos do 7º ano da Rede Municipal, afirmou: “Incentivo muito meus filhos a estudar, porque nunca tive a oportunidade de frequentar uma escola. Tinha que ir pra roça trabalhar. Passei muita dificuldade por conta disso. Então, sou muito atento aos estudos deles e ao comportamento que têm na escola. Qualquer probleminha que percebo, converso com a diretora para saber o que está acontecendo”.

Postura semelhante à de João Jerônimo tem Vera Lúcia Coelho Vieira (foto), empregada doméstica e mãe do aluno João Henrique Coelho Vieira Nascimento, que tirou, tal como Vinícius Gomes Soares, a melhor nota em Matemática do 3º ano da Rede Municipal. “Todo dia vejo os cadernos dele e negocio o horário que ele vai estudar. Brincar o dia todo não dá. Sempre digo a ele que, se quiser uma vida melhor que a minha e a do pai, tem que estudar”, disse Vera Lúcia.

Maria Elizabete Barbosa da Silva, diretora da Escola Municipal Barão Homem de Mello, onde João Henrique estuda, ainda contou que Vera Lúcia acompanha de perto o comportamento do filho na escola. “A opinião dela nem sempre coincide com a da escola, mas o fato é que ela cobra muito do filho bom comportamento e rendimento escolar. Essa expectativa em relação ao aprendizado dele acaba gerando muitas expectativas em relação à escola. Isso nos leva a querer melhorar sempre a qualidade do nosso ensino. Essa cobrança é boa para todos – alunos, professores e escola”, observou a diretora.

Cynthia Paes de Carvalho ainda considera fundamental que pais e professores tenham como o principal foco da relação família-escola o aprendizado da criança. “A valorização do ensino e a cobrança de aprendizagem agregam, por si só, uma série de comportamentos, tal como senso de responsabilidade, compromisso e disciplina, entre outras coisas”, afirmou a pesquisadora.

 

 
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