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Os riscos das notícias falsas
08 Outubro 2018 | Por Fernanda Fernandes
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No mundo todo, mentiras e boatos sempre foram contados, atendendo a diversos interesses. “A mentira é algo antigo. O que mudou é a escala, a velocidade e o volume. Em minutos ou horas, uma falsidade pode atingir milhões de pessoas, trazendo riscos a pessoas e desastres nacionais, como a eleição de Donald Trump”, destacou o jornalista Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicação Social da Universidade de São Paulo (USP), durante debate no encontro internacional Educação 360, referindo-se à campanha eleitoral dos Estados Unidos em 2016, marcada pela disseminação de fake news, sobretudo em favor de Trump. 

A jornalista Olga Yurkova, durante palestra do TED (Imagem: Reprodução)

Para a jornalista ucraniana Olga Yurkova, cofundadora do site StopFake – organização de comprovação de fatos em 11 idiomas –, as fake news não são apenas um mal para o jornalismo, mas uma ameaça à democracia e à sociedade. Foi o que ela afirmou em sua apresentação no TED (acrônimo de Technology, Entertainment, Design; em português: Tecnologia, Entretenimento, Planejamento) este ano, no Canadá. 

“Quando os fatos são falsos, as decisões são erradas. Muita gente para de acreditar absolutamente em qualquer pessoa, e isso é ainda mais perigoso. Elas facilmente se tornam presas para os populistas nas eleições, ou até mesmo se engajam em confrontos”, pontuou.

A fala de Olga Yurkova remete a alguns exemplos de notícias falsas que tiveram repercussão mundial. Um deles é o caso da menina kuwaitiana de 15 anos que denunciou atrocidades cometidas por invasores iraquianos em seu país, em 1990. O depoimento da jovem foi repetido diversas vezes por políticos e pela mídia, mobilizou o Congresso dos Estados Unidos, e o país acabou votando a favor da participação na guerra para expulsar as tropas de Saddam Hussein.

A verdade só apareceu em 1992, quando uma investigação conjunta da Anistia Internacional, da Human Rights Watch e de jornalistas independentes revelou que o depoimento, na realidade, havia sido preparado por uma agência de relações públicas nos Estados Unidos ligada à monarquia do Kuwait; e a menina que havia testemunhado era filha do embaixador do Kuwait em Washington (EUA).

Outro exemplo diz respeito à disseminação de uma série de imagens falsas, agravando a crise dos rohingya, povo muçulmano que representa 5% da população de Mianmar, e que a Organização das Nações Unidos (ONU) afirma ter sido alvo de limpeza étnica. Em setembro de 2017, a apresentação de uma equipe da BBC criada para identificar e reportar notícias falsas – BBC Reality Check – confirmou que as imagens eram de conflitos ocorridos há décadas, e que foram usadas como propaganda para acusar os rohingya de serem violentos. Segundo a empresa de comunicação britânica, as fotos circularam antes do aumento da violência no norte de Mianmar e, por causa da onda de violência que se seguiu, mais de 600 mil rohingya tiveram de deixar o país e buscar refúgio em Bangladesh.

No Brasil, um dos casos mais emblemáticos é o de uma dona de casa espancada por dezenas de moradores da cidade de Guarujá, em São Paulo, por conta de um boato gerado por uma página em uma rede social, que afirmava que a dona de casa sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra. A mulher não resistiu aos ferimentos e morreu.

 
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