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Castro Maya, o mecenato e a consolidação do modernismo
13 Janeiro 2015 | Por Márcia Pimentel
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CASTROMAYA-1Às margens da Supervia, na linha do ramal de Santa Cruz, fica Inhoaíba, um simpático bairro com cara de cidadezinha do interior. Lá se localiza o Ciep Raymundo Otonni de Castro Maya (9ª CRE), que homenageia um dos maiores mecenas brasileiros do século XX e também um dos mais ricos empresários do país da época. Com paixão aguçada pelas artes, ele deixou para o Rio de Janeiro, e certamente para o Brasil, um grande legado artístico e cultural, como a maior coleção do mundo de obras de Portinari e a fundação do Museu de Arte Moderna (MAM), só para citar alguns entre tantos outros exemplos.

Filho de família abastada, Castro Maya nasceu no dia 22 de março de 1894, em Paris, quando seu pai – engenheiro culto e renomado, preceptor (responsável pela educação) dos netos de dom Pedro II, e que também se chamava Raymundo – era vice-cônsul do Brasil na capital francesa. Herdeiro de parte da fortuna deixada pela família, multiplicou a herança recebida, lançando-se em inúmeros empreendimentos nas áreas comercial, industrial e financeira. Um dos mais conhecidos foi a Companhia Carioca Industrial, que fabricava a gordura de coco Carioca, amplamente utilizada no preparo dos alimentos pela população da época. Mas a lista de empresas em que ele tinha participação era bem mais extensa, tais como a Cia. Nacional de Óleos Vegetais (no CASTROMAYA-GORDURADECOCORS), os Frigoríficos Nacionais Sul Brasileiros Ltda., a Óleos Vegetais Carioca do Maranhão, o Banco Português do Brasil, a Pneus General S/A, a Cia. Industrial e Comercial Agrícola (na PB), a Empresa Brasileira de Águas e muitas outras.

Incentivo à arte moderna

Nas primeiras décadas do século XX, as elites brasileiras estavam empenhadas em construir uma nova civilidade republicana. A primazia econômica da Inglaterra e a simbologia irradiada por Paris – cidade então associada ao requinte, à cultura e à tecnologia de ponta – resultaram em um afrancesamento de hábitos entre a alta sociedade e em uma anglomania que, segundo o livro A História do Rio de Janeiro, de Armelle Enders, “traduzia-se na valorização do corpo e na aclimatação dos esportes para gentleman”. De extremo bom tom também era associar o próprio nome a instituições culturais, educacionais, filantrópicas e humanitárias.

O patrono do Ciep de Inhoaíba não fugiu a essa regra. Muito pelo contrário, tornou-se um dos principais representantes dessa elite empenhada em construir novos parâmetros de civilidade para o Brasil. Além de praticar e apreciar vários esportes – foi um dos fundadores do Fluminense Yacht Club (atual Iate Clube do Rio de Janeiro) e do Jockey Club Brasileiro –, também colecionava obras de arte e era um incentivador do modernismo brasileiro. Em um artigo escrito a quatro mãos sobre Castro Maya, os museólogos Denise Maria da Silva Batista e Marcio Ferreira Rangel afirmam que a consolidação da Semana de Arte Moderna de 1922 ocorreu de forma bastante lenta. Somente a partir da década de 1930, os ideais modernistas começaram a se estabelecer de forma mais sólida em função do novo discurso adotado pelo Estado e da adesão de parte de membros da alta sociedade, que assumiram a função de mecenas, incentivando o desenvolvimento do mercado dos artistas modernos nacionais.

Chácara do Céu

CASTROMAYA-PORTINARIO interesse de Castro Maya pela arte moderna se iniciou na década de 1940, quando passou a colecionar obras de Alberto Guignard, Di Cavalcanti, Iberê Camargo e principalmente Cândido Portinari. O gosto pelo estilo acabou evoluindo para um projeto de transformar a casa da Chácara do Céu, em Santa Teresa – uma herança recebida dos pais –, em uma nova, que pudesse alocar sua coleção modernista. Para isso, não titubeou em demolir a antiga construção para erguer outra em arquitetura modernista. Com vista privilegiada de 360º para a Baía de Guanabara e o Centro, ele se mudou para a nova residência, inaugurada em 1958.

Hoje transformada em museu, a Chácara do Céu exibe ao público a coleção de arte formada por ele até a sua morte, em 1968. Além dos modernistas Guignard, Di Cavalcanti, Iberê Camargo, Portinari, Volpi, Antonio Bandeira, Bruno Giorgi e Mário Cravo, o acervo é composto por alguns exemplares da arte acadêmica de Castagneto, Visconti, Batista da Costa e Belmiro de Almeida; peças de artistas populares, como Mestre Vitalino, Zé Caboclo e Biquiba Guarany; quadros de pintores europeus, como Seurat, Degas e Miró; e pela coleção Brasiliana, formada por mapas dos séculos XVII e XVIII e obras dos artistas viajantes do século XIX que retrataram o Brasil: Taunay, Bertichem, Monvoisin, Rugendas, Chamberlain e Jean Baptiste Debret – só deste último são 490 aquarelas e 61 desenhos.

Museu do Açude

A casa onde está instalado, desde 1964, o Museu do Açude, no Alto da Boa Vista, foi outra herança que Castro Maya recebeu dos pais. Lá a família costumava passar o verão e promover as festas e recepções que sempre davam o que falar nas colunas sociais dos jornais de maior circulação da época, em função da pompa dos eventos e dos convidados que costumava receber, tais como o presidente Getúlio Vargas, o milionário norte-americano Nelson Rockfeller, os herdeiros do trono japonês...

CASTROMAYA-AÇUDETido como o primeiro museu de artes decorativas do país, o Açude reúne o mobiliário, as pratarias, as porcelanas orientais, os cristais, os tapetes, as cerâmicas e vários outros objetos herdados dos pais ou colecionados por ele. Lá, também pode ser apreciada a exposição Retratos de Raymundo, a Galeria Debret (que reúne várias pedras litográficas do artista) e, ainda, o Espaço de Instalações, com obras contemporâneas integradas à natureza dos jardins.

O patrono do Ciep de Inhoaíba ainda participou de várias ações socioculturais da cidade, como a criação da Sociedade Amigos da Gravura e a remodelação da Floresta da Tijuca durante a gestão do prefeito Henrique Dodsworth. Na época, por receber apenas um salário simbólico para coordenar a empreitada, a imprensa lhe deu a alcunha de One Dollar Man.

 
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