Na colônia, ainda no século XVI, os portugueses já haviam dado início ao tráfico negreiro, atividade comercial bastante lucrativa. Os traficantes de escravos negros, interessados em ampliar esse rendoso negócio, firmaram alianças com os chefes tribais africanos. Estabeleceram com eles um comércio baseado no escambo, no qual trocavam tecidos de seda, joias, metais preciosos, armas, tabaco, algodão e cachaça por africanos capturados em guerras com tribos inimigas.
Segundo o historiador Arno Wehling, "a ampliação do tráfico e sua organização em sólidas bases empresariais permitiram criar um mercado negreiro transatlântico que deu estabilidade ao fluxo de mão de obra, aumentando a oferta, ao contrário da oscilação no fornecimento de indígenas, ocasionada pela dizimação das tribos mais próximas e pela fuga de outras para o interior da colônia". Por outro lado, a Igreja, que tinha se manifestado contra a escravidão dos indígenas, não se opôs à escravização dos africanos. Dessa maneira, a utilização da mão de obra escrava africana tornou-se a melhor solução para a atividade açucareira.
Os negros trazidos para o Brasil pertenciam, principalmente, a dois grandes grupos étnicos: os sudaneses, originários da Nigéria, Daomé e Costa do Marfim, e os bantos, capturados no Congo, Angola e Moçambique. Estes foram desembarcados, em sua maioria, em Pernambuco, Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Os sudaneses ficaram na Bahia. Calcula-se que, entre 1550 e 1855, entraram nos portos brasileiros cerca de 4 milhões de africanos, em sua maioria jovens do sexo masculino.
Os navios negreiros que transportavam africanos até o Brasil eram chamados de tumbeiros, porque grande parte dos negros, amontoados nos porões, morria durante a viagem. O banzo (melancolia), causado pela saudade da sua terra e de sua gente, era outra causa que os levava à morte. Os sobreviventes eram desembarcados e vendidos nos principais portos da colônia, como Salvador, Recife e Rio de Janeiro. Os escravos africanos eram, de forma geral, bastante explorados e maltratados e, em média, não aguentavam trabalhar mais do que dez anos. Como reação a essa situação, durante todo o período colonial foram constantes os atos de resistência, desde fugas, tentativas de assassinato do senhor e do feitor, até suicídios.
Essas reações contra a violência praticada pelos feitores, com ou sem ordem dos senhores, eram punidas com torturas diversas. Amarrados no tronco, permaneciam dias sem direito a comida e água, levando inumeráveis chicotadas. Eram presos nos ferros pelos pés e pelas mãos. Os ferimentos eram salgados, provocando dores atrozes. Quando tentavam fugir, eram considerados indignos da graça de Deus, pois, segundo o padre Antônio Vieira, ser "rebelde e cativo" é estar "em pecado contínuo e atual"...