No decorrer dos primeiros anos após o descobrimento, as regiões encontradas ocuparam uma posição secundária por não corresponderem às expectativas da política portuguesa. Aparentemente, não possuíam riquezas que interessassem à Coroa, como metais preciosos e especiarias – produtos obtidos no comércio com o Oriente através da chamada rota das especiarias.
De todo modo, o governo de Portugal entendia que era preciso assegurar o domínio do território. O rei D. Manuel I (1469-1521), diante dos relatos existentes na carta de Pero Vaz de Caminha (1450-1500), escrivão da frota cabralina, decidiu enviar expedições com a finalidade de mapear as potencialidades do lugar, precisar sua localização, reconhecer sua geografia, explorar seu litoral e contatar os habitantes nativos.
As primeiras expedições enviadas para cumprir a tarefa de assegurar e defender a região em nome da Coroa se ressentiam de informações mais precisas, de documentação mais variada, que determinassem com precisão, por exemplo, seus comandantes. Mesmo assim, as expedições chamadas de exploradoras foram conduzidas por nautas experientes e conhecedores das águas oceânicas: a primeira possivelmente liderada por Gaspar de Lemos, o mesmo que retornou a Portugal levando a notícia do descobrimento; e a segunda, por Gonçalo Coelho (?-1554), que combinaria, além das ações da Coroa, as de um grupo de negociantes tendo à frente Fernão de Noronha (1470-1540). Muitos desses ricos comerciantes eram cristãos-novos – judeus recém-convertidos ao cristianismo, para escapar dos rigores da Santa Inquisição e dos seus tribunais.
Os portugueses que chegavam até essas paragens, no século XVI, não se deparavam com uma região vazia. Essa imagem construída, de espaços desabitados, nasceu possivelmente das complexidades encontradas, à época, para realizar uma estimativa precisa das populações nativas. Projeções atuais apontam para uma escala entre 5 e 6 milhões de habitantes. Pela dificuldade de comunicação verbal, os europeus buscaram classificar as inúmeras tribos pelo tronco linguístico. Assim, nos primeiros tempos de ocupação litorânea, manteriam contato com tribos de língua tupi-guarani.
A presença dessas populações foi um estranhamento para os portugueses. Da mesma forma, para os nativos era assombroso deparar-se com aqueles homens vestidos e barbados. Acontecia um encontro das diferenças. Segundo o historiador Ilmar Rohloff de Mattos, nesse “momento de encontro, conhecido pelo nome de Descobrimento, a comunicação entre as culturas europeia e ameríndia tornou-se possível, somente, por meio de gestos. Duas culturas apenas se tocavam, abrindo margem às interpretações que ressaltavam as diferenças entre elas”.