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A criança e a cidade
01 Outubro 2018 | Por Fernanda Fernandes
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Livro propõe reflexões a professores e atividades para serem realizadas com crianças de 5 a 10 anos (Imagem: Cecip)

Com o objetivo de discutir a importância da participação das crianças na construção da cidade, o Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip) organizou uma roda de conversa com profissionais de diferentes áreas, no Museu de Arte do Rio (MAR), no último dia 18. Na ocasião, foi lançada a publicação Crianças e seus caminhos, realizada pelo projeto Criança Pequena em Foco (Cecip), em parceria com a Coordenadoria de Educação para o Trânsito e Relacionamento com o Cidadão, da Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro (CET-Rio). 

O evento, mediado por Mariana Koury (Criança Pequena em Foco), contou com a participação de Claudius Ceccon, arquiteto e diretor do Cecip; Virginia Salerno e Mauro Ferreira, diretora-presidente e diretor da Coordenadoria de Educação para o Trânsito, ambos da CET-Rio; Léa Tiriba, doutora em Educação e professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio); e Danielle Hoppe, arquiteta e urbanista do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP, sigla em inglês para Institute for Transportation and Development Policy).

Claudius Ceccon abriu a roda de conversa ratificando a relevância de se incluir os pequenos e as pequenas no planejamento da cidade. “A criança é cidadã de direito hoje, e não apenas amanhã, quando crescer. É hora de lembrarmos que a participação dela é fundamental para uma educação cidadã. Uma cidade planejada para ser amiga das crianças é agradável para todos que nela vivem.”

Virginia Salerno explicou que, hoje, o orçamento da CET-Rio é equilibrado entre fiscalização e educação. “Ambas têm o mesmo status. Conseguimos olhar para o curto prazo, que é a fiscalização; o médio, referente à parte de engenharia; e o longo, ou seja, a educação”, comentou.

Danielle Hoppe, do ITDP, criticou o fato de a cidade não ser desenhada para humanos, e sim privilegiar o automóvel. “Uma cidade mais permeável, com circulação fácil a pé ou de bicicleta, traz benefícios em diferentes esferas, como educação e saúde. Na rua, a criança aprende a lidar com a diversidade, aceitar o diferente. Com exercícios físicos, diminui-se o risco de obesidade”, exemplificou.

A educadora Léa Tiriba defendeu a necessidade de se buscar uma relação democrática e horizontal, em que as crianças sejam dignas de escuta. Para ela, pequenos e pequenas têm uma visão de mundo própria, e não sabem menos do que os adultos – apenas sabem outras coisas. “Elas não são o futuro, e sim a esperança”, destacou.

A professora da Unirio também alertou para o curioso fato de a cidade se acalmar em períodos de férias escolares e, no retorno às aulas, tornar-se caótica. “As crianças saem dos parques para se emparedar nas escolas. Salas de aula que muitas vezes não têm nem janela. Um processo de emparedamento real, que vai contra o desenvolvimento do humano. Somos seres da cultura, mas também da natureza. Precisamos estar em estado de conexão com outros humanos, com árvores, com rios. É fundamental retomar isso.”

Escola: um espaço público da criança

“Devemos garantir que a escola seja, de fato, um espaço das crianças, onde elas possam andar da sala para o pátio com liberdade, sem que sejam sempre conduzidas; escolher as atividades de que irão participar; e circular pelo entorno, por mais que a vizinhança seja violenta. Como professores, isso exige criatividade da nossa parte”, afirmou Léa Tiriba.

A educadora acredita que o maior desafio seja a construção de outra sociabilidade, mais democrática, e que pense na apropriação do espaço público pelo uso coletivo.
“Micropolíticas são fundamentais para essa transformação. Inventar pequenas ações, aliados a nossos pares: moradores se unirem para fechar uma rua, professores se aliarem para levar as crianças a brincar na rua da escola”, exemplificou.

Léa Tiriba alertou, ainda, para que não se elaborem cartilhas com um “passo a passo”, mas que cada grupo possa encontrar o que está de acordo com suas necessidades, para que não se repita a crença de que o povo não é capaz de criar suas regras.

“Nós, urbanos, precisamos aprender com grupos que vivem em conexão com a natureza, que não vivem em função do mercado de trabalho, mas na continuidade da vida. Brincar é o que não tem valor de mercado. A gente brinca porque é bom. E não é algo só de criança. Lutar demais também cansa, temos que brincar.”

Projeto da CET-Rio é desenvolvido em escolas do município

Mauro Ferreira apresentou o projeto A Caminho da Escola, cujo objetivo é discutir questões ligadas à segurança no trânsito, visando capacitar os alunos para a tomada de decisão por meio de comportamentos adequados à prevenção de acidentes.

O projeto parte de uma apresentação teatral sobre educação no trânsito, em escolas do município do Rio, e da capacitação de professores para a realização de dinâmicas com as crianças, incluindo a elaboração de um mapa de risco sobre o caminho entre suas casas e a escola. Ao final de uma semana de atividades, o material é recolhido e analisado pela CET-Rio.

“A partir dos mapas desenhados pelas crianças, do olhar infantil sobre o entorno da escola, tentamos viabilizar uma intervenção com os técnicos. Já houve, por exemplo, mudança de sentido no trânsito a partir desses apontamentos. O olhar da criança surpreende pela precisão na identificação dos problemas. Pela nossa experiência, por exemplo, um local onde elas dizem ter medo de passar é onde ocorrem mais acidentes”, comentou Mauro, destacando que diferentes visões se complementam na construção de um espaço democrático.

Crianças e seus caminhos

De acordo com Mariana Koury, a publicação Crianças e seus caminhos é fruto da experiência do projeto Criança Pequena em Foco (Cecip) ao longo de três anos, sobretudo na região de Manguinhos.

Voltado para crianças de 5 a 10 anos, o livro propõe reflexões ao professor e atividades para serem realizadas com as crianças, como dinâmicas de entrosamento, oficinas etc. A gincana principal divide-se em três etapas: conhecer o caminho, imaginar o que fazer para melhorá-lo e fazer a diferença no caminho, pontuando o que as crianças podem fazer sozinhas, com um adulto ou o que é responsabilidade do governo.

O livro está disponível on-line  e também será distribuído aos professores e professoras da rede pública municipal do Rio de Janeiro por meio do projeto A Caminho da Escola.

 
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