A discalculia, ou discalculia do desenvolvimento (DD), é um transtorno específico de aprendizagem que afeta a capacidade de adquirir e desenvolver habilidades matemáticas. “Um aluno com discalculia pode ter dificuldade em processos ou tarefas que envolvam conceitos de números simples – pois muitas vezes não possuem uma compreensão intuitiva sobre eles –, estimativas, tempo, espaço e os procedimentos que os relacionam. Mesmo que o estudante produza uma resposta correta ou use um método correto, pode fazê-lo mecanicamente e sem confiança”, explica Daniela Carrilho, bacharel e licenciada em Matemática, especialista em discalculia do desenvolvimento e integrante do Projeto ELO: escrita, leitura e oralidade, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Discalculia: como identificar sinais de alerta
De acordo com Daniela Carrilho, os sinais de alerta podem ser notados quando a criança inicia os processos de contagem intuitiva e, posteriormente, de contagem biunívoca, quando relaciona números a objetos. “Às vezes, uma criança que conta até vinte pode estar apenas recitando os números, pois não estabelece relação com o objeto. Ela pode contar até 15, mas, se você der 15 objetos, ela não fará a correspondência de pegar um e contar um; pegar dois e contar dois, e assim sucessivamente. Ou seja, a criança não correlaciona o que está recitando com o que de fato está contando. Se isso acontece, deve ser acompanhado e investigado”, orienta a especialista.
“Deve-se ter em mente que a Matemática também demanda um processo de alfabetização; e é neste momento que devemos analisar qualquer dificuldade, a fim de distingui-la de um transtorno.”
De acordo com Daniela, sob consenso internacional, a discalculia pode ser considerada primária – pura ou isolada, quando o transtorno aparece única e exclusivamente nas habilidades matemáticas (o que é menos frequente) – ou secundária, quando aparece acompanhada de déficit “não numérico”, ou seja, quando o indivíduo também apresenta diagnóstico de dislexia ou de outro transtorno.
“Há muita sobreposição entre dislexia e discalculia, já que ambos trabalham memória de curto prazo, sequenciamento e utilização de símbolos. Mas, embora existam casos de comorbidades, uma criança que tem dislexia não necessariamente tem discalculia, ou vice-versa”, pontua, acrescentando que não há estudos sobre DD que comprovem prevalência maior em meninos ou meninas.
O que fazer quando o aluno apresenta sinais de discalculia
“Professores e familiares podem auxiliar uma criança com discalculia desenvolvendo atividades lúdicas que envolvam modelos mentais dos algarismos, como: dominó, jogos de tabuleiro que usem dados e cartas; conceitos musicais/ritmo; jogos esportivos com instruções, regras, sequenciamento, controle e comparação de tempo e pontuação (placar)”, orienta Daniela Carrilho.
Nesse sentido, a especialista destaca a importância da disciplina de Educação Física, que pode ser uma grande aliada no trabalho com questões espaciais e numéricas.
O diagnóstico e o tratamento da discalculia
Segundo Daniela, o diagnóstico é dado por um médico, mas o ideal é que passe por uma análise conjunta de profissionais nos casos em que uma pessoa experimenta a maioria dos itens de uma lista de indicadores, o tempo todo.
Em manuais médicos, a discalculia aparece como transtorno específico da habilidade em aritmética (CID-10) e transtorno específico da aprendizagem com prejuízo na matemática (Diagnostic and Statistical Manual, em português Manual de Diagnóstico e Estatística, 5ª edição – DSM-5).
“Como o assunto é muito novo, o ideal é buscar um profissional experiente na área. Normalmente, o tratamento psicológico é um ótimo aliado do trabalho de um professor ou pedagogo especializado no assunto”, comenta.
De acordo com a especialista, o tratamento consiste num trabalho que busca desenvolver modelos mentais significativos para os numerais ou algarismos que compõem um número, estabelecendo relações entre eles, espaço e tempo.