A fim de superar o modelo colonial, Francisco Pereira Passos, prefeito do Rio entre 1902 e 1906, perseguiu claramente o reordenamento urbano da cidade. Para isso, instituiu uma série de posturas que regulamentaram o recuo dos prédios, o alinhamento das ruas, as normas de pavimentação e construção de calçadas etc. Apesar de toda a preocupação com a normatização da nova ordem urbana, as demolições e desapropriações culminaram em um grande número de pessoas desabrigadas, que não tinham condições de arcar com o aumento dos impostos e dos aluguéis, encarecidos com o processo de regeneração da cidade.
A população que tinha remuneração estável e suficiente para pagar despesas com transporte, compra de um terreno ou aluguel de uma casa começou a se dirigir aos subúrbios mais distantes. Desde o segundo Império, já vinha ocorrendo o processo de retalhamento de terras suburbanas a partir do processo de inauguração de ferrovias. Os mais pobres, contudo, ficaram concentrados nos bairros da Saúde, Gamboa e Cidade Nova. E os que não tinham alternativa começaram a montar barracos toscos no Morro da Providência, com a madeira dos caixotes de mercadorias descartados no porto e com as folhas de flandres dos latões de querosene. Iniciava-se, assim, o processo de formação de favelas na cidade do Rio de Janeiro.
A atuação de Pereira Passos, segundo vários autores que escreveram sobre sua obra, privilegiou as regiões Centro e Sul e valorizou a orla marítima. De acordo com Maurício de Almeida Abreu, geógrafo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a transformação urbana comandada por Passos promoveu um processo de hierarquização dos espaços da cidade. Se antes essa hierarquização era produzida pelo tipo de habitação em que cada um vivia, agora ela passa a ser focada no lugar da habitação popular, socialmente estratificado e distante do centro.