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Os imigrantes italianos e a Cidade Maravilhosa
15 Abril 2014 | Por Luís Alberto Prado
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italianos mercado_praca_15_2A imigração italiana no Brasil aconteceu entre 1880 e 1930, principalmente em São Paulo, sendo impulsionada pelas transformações socioeconômicas em curso no norte da Península Itálica, logo após sua unificação, em 1861.

No Rio de Janeiro, os maiores registros estão entre 1906 e 1920. Conforme estudos, antes da segunda metade do século XIX já havia italianos na cidade, a serviço da corte portuguesa.

De acordo com dados do IBGE de 1906 e 1920, os italianos foram o segundo maior grupo de estrangeiros em terras cariocas, atrás só dos portugueses. Estima-se que, de 1870 a 1920, chegaram ao Brasil 1,4 milhão deles. Em 1906, eram 25.557 no Rio, e, em 1920, 21.929.

Ao contrário do que sucedeu no restante do Brasil, no Rio de Janeiro esses imigrantes eram majoritariamente urbanos. Eles não vinham diretamente da Itália, e sim de outros estados brasileiros, atraídos pelas oportunidades de emprego. Falavam dialetos distintos, tinham espírito empreendedor e eram focados na família. Nesse período, trabalhavam, em sua maioria, como vendedores ambulantes, mas havia também muitos alfaiates, sapateiros, pedreiros, barbeiros, carpinteiros, hoteleiros e garçons.

É interessante registrar que a maioria das bancas e das distribuidoras de jornais da cidade ainda pertence a italianos e a seus familiares.

Nos primeiros anos da República, um projeto de reurbanização da cidade deslocou muitos imigrantes que viviam nas regiões centrais para o subúrbio e para as zonas Norte e Oeste da cidade, sobretudo para bairros que cresciam à margem das linhas férreas, como os distritos de Andaraí, Irajá, Inhaúma, Campo Grande, Guaratiba e Santa Cruz.

Pioneiros

Os italianos do Rio de Janeiro representavam um grupo heterogêneo, com diferentes origens sociais, regionais e culturais. Além disso, criaram distintas estratégias de sobrevivência, contribuindo historicamente para o desenvolvimento da cidade em vários aspectos: social, político, cultural e econômico.

Felinto Santoro, graduado em Engenharia na Real Academia de Nápoles, iniciou sua atividade profissional no Rio, no final do século XIX, como engenheiro-chefe da Companhia Evoanes Fluminense, construtora pertencente aos irmãos Januzzi, conterrâneos que trabalhavam na construção de casas populares. Durante o governo do presidente Floriano Peixoto, Santoro foi o autor do projeto para a nova estação central de estradas de ferro.

Em 1910, os irmãos Pedro e Bartolomeu Ruggiero inauguraram o primeiro cinema da Zona Oeste, chamado de Ítalo-Brasileiro. Também integravam a banda do Bangu Atlético Clube e participavam do carnaval carioca. Dizem até que seriam os responsáveis pela introdução de fantasias de arlequim e colombina nas festividades momescas.

Machado de Assis, Lima Barreto, Aluísio Azevedo e João do Rio já mencionavam, em suas obras, a presença dos italianos na cidade do Rio.

Os filhos desses imigrantes acabaram privilegiando a nacionalidade brasileira. Esse rápido processo de assimilação, porém, não significou a perda automática da identidade italiana, que ainda continuava a se manifestar de diversas maneiras, seja na língua ou na culinária. Não houve dificuldade para se inserirem no novo ambiente, pela própria facilidade com a qual os brasileiros os acolheram, inclusive absorvendo alguns hábitos e costumes que trouxeram.

Os Ferrareses

Claudio Ferrarese, milanês que chegou ao Rio de Janeiro aos 22 anos, um dia após o suicídio de Getúlio Vargas, em 25 de agosto de 1954, conta um pouco de sua história depois de chegar aqui.

“O Brasil e, sobretudo, o Rio de Janeiro, foram por mim facilmente assimilados. Por isso, não vivi momentos de forte saudade. Aos 82 anos, sinto-me feliz pela escolha, apesar de sempre considerar marcante minha ascendência. Sou um italiano que vive no Rio respeitando o comportamento da sociedade brasileira, na qual encontrei um espaço amigo.”

Casado com a conterrânea Olivia, ainda hoje preserva as tradições de sua infância, traduzidas em festas e comemorações.

“Sempre intensificamos a realização de festas e hábitos tradicionais. A presença de todos os membros da família nas comemorações dos aniversários e nas datas religiosas não pode faltar. Sexta-Feira Santa, bacalhau à Vicentina à mesa, e cabrito no domingo de Páscoa integram o cardápio oficial. No Natal, não abrimos mão do cântico mais popular da Itália (Tu Scendi Dalle Stelle), da árvore e do presépio.”

Integrante da primeira geração da família nascida no Brasil, seu filho Massimo Ferrarese, de 53 anos, diz que muitos dos hábitos culturais de seus avós foram preservados, principalmente o culto à família e aos amigos.

“Em casa, todos deviam sentar-se juntos à mesa, e isso se mantém até hoje, nas gerações seguintes. A mesa é o ponto de encontro da família. Festas religiosas e feriados sempre foram motivos para reunir parentes e amigos. Quando pequeno, nossa casa era um entra e sai de italianos que por aqui passavam, e aos sábados havia os jogos de scoppa e scoppone scientifico (ambos jogos de carta).”

As festas tradicionais italianas também são celebradas: “Comemoramos a Befana, no Dia de Reis (6 de janeiro). Antes de se criar a figura do Papai Noel bonzinho, que presenteia todo mundo, já existia a Befana, uma bruxa que traz presentes (doces colocados nas meias) e chama a atenção das crianças para algumas malcriações feitas ao longo do ano (carvão e cebola colocados na meia). Em 6 de janeiro, era realizada a troca de presentes, conforme fizeram os Reis Magos na tradição católica. Outra festa importante na Itália acontece no dia 2 de junho, quando se celebra a criação do estado italiano, e normalmente os consulados promovem atividades para lembrar as tradições e unir a comunidade”.

 
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