27/05/2025
A iniciativa visa unir gestores públicos e pesquisadores para o desenvolvimento de práticas conectadas às realidades locais. Dois editais com inscrições gratuitas estão abertos.
Notícias
16/05/2025
O que é DIX? E por que jovens buscam formas privadas de interagir on-line no Instagram e no TikTok?
Reportagens
30/04/2025
Iniciativa da MultiRio leva estudantes da Escola Municipal Nicarágua a vivenciar a cobertura de um evento internacional e reforçar a formação cidadã por meio da educação midiática.
Notícias
09/06/2025
Evento pretende promover reflexões pedagógicas e culturais com autores consagrados, espaços interativos e ações voltadas à formação de leitores.
Reportagens
05/06/2025
Debate sobre estratégias de proteção e educação digital e midiática, promovido pelo Governo Federal, apresentou documentos de referência para famílias e educadores.
Reportagens
04/06/2025
O evento de lançamento, apelidado de forma bem-humorada de "A Cúpula na cúpula", aconteceu na noite de segunda-feira, 2 de junho, na Cúpula Carl Sagan do Planetário do Rio.
Notícias
02/06/2025
Iniciativa contribui no desenvolvimento de habilidades socioemocionais por meio de dinâmica de escuta de estudantes.
Notícias
Fazia quase um quarto de século que a Revolta dos Búzios (ou Revolta dos Alfaiates ou Conjuração Baiana) ocorrera transformando a história política da Bahia para sempre. Além dos partidos Brasileiro e Português, que surgiram após o retorno de D. João VI para Portugal, os senhores de engenho temiam o surgimento de um partido negro. Com a Revolução do Haiti (1791-1804), onde os escravos negros se rebelaram e proclamaram a independência, consideravam que algum “espírito mal intencionado” poderia transformar Salvador numa anarquia.
Na Ilha de Itaparica (palavra tupi que significa “cerca de pedra”), 280 escravos recusaram a indicação de um novo feitor. Por não serem atendidos, o mataram a sangue frio, o que elevou suspeitas sobre haver uma organização política por detrás do ocorrido. Como punição, as tropas portuguesas mataram 32 negros.
Moradora da Vila de Itaparica, Maria Felipa de Oliveira era escrava liberta, descentente de sudaneses, marisqueira, capoeirista acostumada a andar de chinelos, saia rodada, bata, torso e turbante, vestimentas estampadas com adinkras, símbolos que representam aforismos africanos, e imagens como a sankofa, a ave africana que olha para trás para aprender com o passado antes de enfrentar o futuro. "Maria Felipa olhou pra trás, para sua ancestralidade, e aprendeu com ela as estratégias de guerra, e na luta pela independência do Brasil na Bahia, ela vem, portanto, com este significado em suas roupas, porque elas são mulheres guerreiras", explica a pesquisadora e mestre em Educação da Universidade Federal da Bahia, Eny Kleide Vasconcelos Faria.
As lutas pela independência da Bahia que incendiavam Salvador deixaram um rastro de mortes, dentre elas a da mártir Joana Angélica de Jesus. As notícias assustadoras da convulsão geral chegavam à Itaparica. A guerra já era realidade para Maria Felipa, voluntária na campanha pela Independência e capaz de reunir gente de diversas etnias, africanas e indígenas, pescadores e até portugueses simpáticos à emancipação. Liderava ainda mulheres vigilantes conhecidas como “vedetas”, que espionavam a movimentação das caravelas portuguesas ao redor da ilha, armavam trincheiras, passavam informações, cuidavam de feridos e ajudavam com mantimentos até Salvador.
Meses após a aclamação de D. Pedro como imperador, a capital baiana continuava sendo território de disputa entre Brasil e Portugal. A ilha de Itaparica transformou-se num ponto central dos ataques portugueses que resistiam à independência da colônia. Certa vez, Maria Felipa reuniu 40 mulheres das “vedetas” numa embarcação enfeitada com flores, aproximando-se de barcos lusitanos que planejavam invadir a praia. De forma a seduzi-los, elas ofereceram-lhes bebidas, conquistaram sua confiança e deram-lhes uma surra de folhas de cansanção, causando-lhes urticárias e queimaduras. Também atearam fogo nas embarcações com tochas de palhas de coco, pólvora e chumbo. A batalha vencida foi decisiva para impedir que os portugueses tomassem a Baía de Todos os Santos e, consequentemente, Salvador.
Pelos serviços prestados contra os portugueses, Maria Felipa de Oliveira virou símbolo da independência da Bahia - e do Brasil, falecendo 50 anos após o fim do domínio português. Tornou-se uma personagem lendária nos escritos de Xavier Marques, no romance Sargento Pedro, de 1921; presente nas páginas de A ilha de Itaparica, de 1942, livro do historiador Ubaldo Osório, avô do escritor João Ubaldo Ribeiro, que a mencionou como Maria da Fé no romance Viva o povo brasileiro, de 1984.
Sua biografia segue sendo construída em novas pesquisas, como da professora Eny Kleyde Vasconcelos Farias e de Álvaro Pinto Dantas de Carvalho Júnior. Em 2004, foi fundada na capital baiana a Casa Maria Felipa, que resgata a memória desta heroína negra. E em 2018, a escola de samba campeã do carnaval carioca, Acadêmicos do Salgueiro, homenageou seu nome, junto aos de Rainha de Sabá, a deusa Ísis, Teresa do Quariterê, e Luiza Mahin, em versos do samba-enredo “Senhoras do Ventre do Mundo”.
Fontes:
REIS, João José; SILVA, Eduardo. Negociação e Conflito: a resistência negra no Brasil escravista. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
FARIAS, Eny Kleide Vasconcelos. Maria Felipa de Oliveira, Heroína da Independência da Bahia. Salvador: Quarteto, 2010.
Agenda GERER "O Bicentenário e as independências: intelectualidades, vozes e movimentos". 2º Bimestre, 2022.