A psicóloga Juliana Ferrari e o designer Vinicius Matsuei bem que poderiam ser apenas mais um casal de afortunados que, há alguns anos, viaja pelo mundo. Só que não. Eles viajam com um propósito: publicar em seu site, apropriadamente batizado de Teachers of the World, as histórias de vida de professores que, até então, poderiam ser chamados de ilustres desconhecidos. Com entrevistas realizadas em países distantes como a Indonésia, o Japão e a Nova Zelândia, a meta da dupla é chegar a cem depoimentos. Até agora, o que vem chamando a atenção é que, independentemente do meridiano em que têm sido relatados, os dramas individuais são muito semelhantes, girando, quase sempre, em torno de questões que já são velhas conhecidas dos professores brasileiros – baixos salários, falta de recursos e sobrecarga de trabalho.

A caminho da República Tcheca, uma paradinha estratégica permitiu a Juliana algum tempo livre para conceder uma entrevista exclusiva ao Portal MultiRio.

Portal MultiRio – Como e quando começou a aventura do Teachers of the World?

Juliana Ferrari – Nossa aventura começou bem antes de deixarmos o Brasil. Eu trabalhava em um colégio privado de São Paulo, enquanto fazia Mestrado em Psicologia Escolar. No Mestrado, eu pesquisava toda a teoria acerca da desvalorização do docente e, no trabalho na escola, via tudo acontecendo na prática. Foi quando resolvi que sairia desse trabalho, porque estava tudo muito pesado. Meu marido e eu decidimos que tentaríamos montar uma escola e que viajaríamos para conhecer um pouco mais do mundo e trazer isso para uma nova realidade educacional. Quando finalizei o Mestrado, o projeto foi ficando claro na nossa cabeça e, depois de dois meses na estrada, conseguimos estruturar o modelo que você pode acompanhar hoje.

PM – Como vocês chegam aos professores?

JF – No começo, pedimos ajuda para as escolas. Muitas vezes, nos lugares em que nos hospedávamos, perguntávamos por escolas na região. Mas percebemos que os professores que alcançamos por essa via sentiam certa "obrigação" de falar sobre a escola e o sistema, uma espécie de propaganda. Então começamos a buscar entrevistas mais pessoais. Sempre que chegamos num lugar novo, perguntamos por professores e, assim, temos conseguido conversas mais honestas e humanas.

PM – Qual o objetivo do projeto?

JF – O objetivo principal é dar voz aos professores. É colocar o professor no centro do debate educacional. Acreditamos que eles têm muito a dizer sobre a educação e sobre suas histórias, e nós queremos ouvir tudo isso.

PM – A que conclusões já deu para chegar até agora?

JF – Muitas entrevistas confirmam a tese de que os professores não são ouvidos pelo sistema em que atuam. Há diferenças entre os países, mas alguns temas, como a solidão do educador e a dificuldade em manejar a grande carga de missões que lhe são atribuídas, são algo bastante comum. Poderíamos dizer que quase a totalidade dos professores descreve com clareza a distância entre os "trabalhos" que tem que realizar e o ensino como prática profissional. Muito tempo é dedicado aos aspectos administrativos e registros (muitas vezes, sem razão).

PM – Vocês têm um número de entrevistas em mente?

JF – No momento temos 45 entrevistas feitas. Quando começamos, queríamos chegar a cem entrevistas e vamos continuar a buscar isso. Estamos voltando ao Brasil e continuaremos pelo território nacional e países vizinhos.

PM – E qual a proposta do documentário?

JF – No momento, estamos escrevendo um livro sobre tudo que aprendemos com os professores do mundo. O documentário é a forma como conseguiremos divulgar essas vozes que ouvimos. A ideia é que no próximo ano consigamos lançar o filme, contendo as falas dos professores e os registros desses encontros tão ricos e maravilhosos com os educadores.

Confira na Galeria de Imagens a seguir os depoimentos dos professores.