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A Década do Oceano (2021-2030): por que e como falar sobre a cultura oceânica na escola
06 Abril 2021 | Por Fernanda Fernandes
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No final de 2017, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou que de 2021 a 2030 seria realizada a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável – mais conhecida como Década do Oceano.

Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 (Imagem: Reprodução/ Plataforma Agenda 2030)

A iniciativa tem como objetivo conscientizar a população global sobre a importância dos oceanos e mobilizar atores públicos, privados e da sociedade civil organizada em ações que favoreçam a saúde e a sustentabilidade dos mares.

A ação está relacionada, sobretudo, ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, previsto na Agenda 2030, acordo internacional firmado pelos estados-membros da ONU.

As “décadas” da ONU são movimentos intergovernamentais que reúnem diferentes países para pensar em um futuro melhor. Muitas décadas já foram declaradas ao longo dos anos, sobre diferentes temas e, muitas vezes, ao mesmo tempo.  De 2021 a 2030 também acontecem, por exemplo, as décadas do Envelhecimento Saudável e a da Restauração de Ecossistemas.

Mas por que uma década dedicada ao oceano?

“A Década do Oceano é uma oportunidade, uma agenda para discutirmos por dez anos sobre como ter um futuro melhor. Esta é a primeira vez em que uma década traz a ciência como suporte, que mostra o papel da ciência para a sociedade. E não apenas para falar da água do mar, por assim dizer, mas para abordar o desenvolvimento sustentável. É uma década para toda a Agenda 2030, em que os 17 objetivos devem ser olhados à luz do oceano”, explica o professor Ronaldo Christofoletti, membro do Comitê Assessor de Comunicação para a Década do Oceano da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e um dos coordenadores do Programa Maré de Ciência, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

O que é cultura oceânica?

Arte: GEA/ MultiRio

Segundo Christofoletti, o conceito de cultura oceânica já existia, mas vem ganhando força nos últimos anos.

“Cultura oceânica seria o papel do oceano na nossa vida e a influência das nossas ações sobre o oceano. Se pararmos para pensar, o oceano está presente em todos os momentos da nossa vida, mesmo para quem mora longe do mar. Neste exato instante, mais de 50% do ar que todos estão respirando vem dos oceanos. Aprendemos que a Amazônia é o pulmão do mundo, mas não, é o oceano”, afirma.

“A maior parte dos cosméticos que usamos tem componentes vindos do oceano, assim como boa parte dos remédios. A maior parte do pescado vem do oceano. E quem nunca ouviu Garota de Ipanema, música que já foi traduzida para diversas línguas no mundo? A garota de Ipanema só existe porque estava andando na beira do mar”, comenta Christofoletti, que é professor do Departamento de Ciências do Mar da Unifesp.

Ele também destaca a situação do saneamento básico no Brasil e alerta sobre a influência da ação da população no oceano.

“O Brasil é um país que tem baixíssimo tratamento de esgoto. Esse esgoto todo vai parar, de alguma forma, nos oceanos. A purpurina que alguém usa no carnaval, e que sai pelo esgoto depois do banho, vai parar no oceano e demora dezenas, centenas de anos para se degradar”, adverte o especialista.

Universo ainda desconhecido

De acordo com o pesquisador, menos de 20% do fundo do oceano já foi mapeado.

"É como se você fosse colocado em um apartamento novo, no escuro, e não soubesse onde está pisando. É mais ou menos assim quando olhamos um oceano por cima. Não sabemos a riqueza de biodiversidade que existe, conhecemos muito pouco”, compara Christofoletti, citando o vazamento de óleo na costa brasileira há dois anos.

Oceano é menos explorado do que a Lua (Imagem: LuqueStock / Freepik)

“É um exemplo típico e trágico. Até hoje, ninguém conseguiu descobrir de onde veio, como e por quê. Não há um monitoramento para compreender como as coisas estão fluindo”, lamenta.

O oceano é menos explorado do que o universo – do que a Lua, por exemplo –, segundo o professor da Unifesp.

“Talvez pela grandiosidade e por, em relação ao espaço, o oceano estar ‘aqui do nosso lado’, demos menos atenção a ele. Mas temos muito a descobrir, como possíveis remédios, curas para doenças. O oceano necessita do nosso olhar e atenção.”

O ensino sobre oceanos em cada etapa de escolaridade

Para Ronaldo Christofoletti, a escola tem um papel fundamental na promoção da cultura oceânica e na formação de valores que acompanham o aluno por toda a vida.

Desde a Educação Infantil, de acordo com o especialista, o Oceano pode ser abordado com as crianças por meio de conexões que dialoguem com o interesse e as demandas dos pequenos.

“Crianças se interessam por organismos como tartaruga e baleia. Gostam de molhar o pezinho no mar e perceber o movimento das marés, reconhecer a água, explorar sem medo. É possível mostrar que, apesar de não habitarmos no oceano, ele faz parte da nossa vida. E para a criança isso vai sendo natural, há uma questão afetiva, uma curiosidade que pode ser explorada”, sugere, destacando que filmes como Procurando Nemo (Disney Pixar) podem instigar as crianças a pensar sobre os oceanos.

Para os alunos do Ensino Fundamental, o leque de opções é ainda maior. De acordo com Christofoletti, a ideia é entender que o Oceano não deve ser tratado apenas nas aulas de Ciências, e, sim, como um tema transversal.

“Em Matemática, cálculos relacionados com a biodiversidade. Em Educação Física, falar sobre exercícios aquáticos. Em História e Geografia, a economia do mundo passa por oceanos, portos, navios, com importações e exportações. Nas aulas de Língua Portuguesa, literatura associada ao Oceano. Nas Artes, as músicas. Há muitas maneiras de se pensar o oceano em diferentes disciplinas”, exemplifica.

Arte: GEA/ MultiRio

Cultura oceânica para todos: material da ONU reúne informações científicas e propostas de atividades pedagógicas

A Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da Unesco elaborou um material on-line que reúne informações científicas e uma série de recursos e atividades sobre processos e funções do oceano, para públicos de todas as idades.

A ideia é que o material, intitulado Cultura oceânica para todos, possa ser usado por educadores de diferentes disciplinas para trabalhar conteúdos voltados à conscientização sobre conservação, restauração e uso sustentável do oceano e de seus recursos.

O kit pedagógico foi traduzido para a língua portuguesa por meio de uma parceria entre o Projeto Maré de Ciência/Unifesp e a Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Santos (SP).

A primeira parte da publicação apresenta a história da cultura oceânica e descreve os sete princípios essenciais que a estruturam, além de trazer pequenas entrevistas com cientistas e educadores marinhos de diversos países.

A Parte 2 é voltada para as atividades pedagógicas. A abordagem é baseada em uma estrutura multi-perspectiva, que inclui as perspectivas científica, histórica, geográfica, da igualdade de gênero, dos valores, cultural e da sustentabilidade.

Cada uma das 14 atividades práticas apresentadas vem acompanhadas da indicação de faixa etária do público-alvo, do princípio da cultura oceânica abordado, da meta do ODS relacionada e dos vínculos com outras ODS.

A ideia é que os exemplos sejam adaptados por educadores em diferentes contextos geográficos e culturais.

Conheça algumas ações do Programa Maré da Ciência para 2021: Olimpíadas do Oceano, Escola Azul Brasil e Escola Azul Atlântico

SOS Mar: game da MultiRio aborda preservação dos oceanos

Em game criado pela MultiRio, jogador combate a poluição no Oceano

SOS MAR é um jogo digital que busca conscientizar crianças e adolescentes sobre a importância da preservação dos oceanos.

Baseado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e no Plano de Desenvolvimento Sustentável da Cidade do Rio de Janeiro, o game foi produzido pela MultiRio em parceria com a Secretaria Municipal de Educação e com o Escritório de Planejamento da Casa Civil da Prefeitura do Rio de Janeiro.

Num cenário que simula o fundo do mar, o jogador tem como missão percorrer o oceano a bordo de um submarino, coletando lixo e outros detritos lançados ao mar por navios poluidores.

O objetivo é recolher a maior quantidade de lixo possível, evitando o acúmulo no fundo do mar. Mas o jogador precisa ter cuidado com ataques repentinos de tubarões e com o nível de oxigênio do submarino, acionando o reabastecimento quando necessário.

O jogador também conta com uma força extra do mascote do Plano de Desenvolvimento Sustentável do Município do Rio de Janeiro.

Para jogar, acesse: http://multirio.rio.rj.gov.br/index.php/interaja/jogos-educativos/15019.

O game também está disponível para celulares Android.

 
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