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De Pequena Turquia a Pequena ONU
22 Julho 2014 | Por Sandra Machado
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praca do mascateNa época em que predominava ali o comércio de armarinhos e tecidos, a região da Saara era conhecida como a Pequena Turquia do Rio. De acordo com os censos demográficos de 1906 e de 1920, a Freguesia do Sacramento, região que englobava a área atual da Saara, assinalava um expressivo contingente de imigrantes oriundos da chamada Grande Síria ou Turquia Asiática. Para o professor Mohammed ElHajji, da Escola de Comunicação da UFRJ, o acrônimo que dá nome ao mercado mais popular do Rio de Janeiro “erra” propositadamente para gerar a associação com o deserto do Saara, segundo maior do planeta, localizado no norte do continente africano. “O certo seria Sociedade dos Amigos da Rua da Alfândega e Adjacências.”

Com média de público diária estimada em 70 mil pessoas, a associação foi formada em 1962 por um motivo político, embora não partidário: reforçar a posição dos comerciantes locais diante da ameaça de demolição para a realização do projeto Via Diagonal, na gestão de Carlos Lacerda. As lojas, espalhadas num perímetro de 13 ruas, mantêm até hoje a posição de maior contribuinte de ICMS do Rio de Janeiro. Investida deste título, a comunidade árabe-judaica convidou o então governador do estado da Guanabara para um almoço, no qual foram apresentados argumentos irrefutáveis. Em lugar do viaduto que cortaria a área, foi criado o Viaduto da Perimetral – que está sendo demolido como parte do projeto de revitalização paisagística da Zona Portuária.

Das 1.250 lojas situadas nas cercanias da Rua da Alfândega, 300 são associadas da Saara, e há, inclusive, uma rádio comunitária, que funciona desde 1972, com dezenas de alto-falantes instalados nos postes das ruas exclusivas para pedestres. Campanhas publicitárias de forte apelo para a informalidade e para o bom humor tornaram a rádio famosa. Eventos importantes do calendário são bastante celebrados, visando a uma aproximação ainda maior com o público. Tem o Bloco de Carnaval da Saara, criado em 2008, o Arraiá da Saara e a transmissão de jogos da Copa do Mundo, com direito a comemoração na Praça do Mascate, em dias de jogos da seleção brasileira. Graças ao clima de paz, que agrega comerciantes árabes, judeus, chineses e de outras origens na mais perfeita harmonia, há quem se refira à região como Pequena ONU, em referência à Organização das Nações Unidas.

Saara comercioNão há melhor lugar na cidade para uma pré-produção de carnaval, seja adquirindo uma fantasia pronta ou, apenas, plumas e paetês para customizá-la. Existem inúmeros estabelecimentos, como a Casa Turuna, firme na Avenida Passos desde 1918. As marcas da presença sírio-libanesa na Saara revelam um sucesso de longa duração. Há mais de cem anos, na Rua Senhor dos Passos, fica a Charutaria Syria, onde funciona um aconchegante café, num cenário que parece ter parado no tempo. Restaurantes como o Cedro do Líbano, fundado por Narciso Mansur na década de 1940, ou o Árabe Sírio e Libanês, inaugurado por Jawad Salim Ghazi em 1965, são fiéis às receitas originais na preparação dos pratos típicos.

Na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, onde a presença de comerciantes de origem árabe é considerável, as marcas identitárias, como o gestual e a disposição das mercadorias, diferem muito daquelas encontradas no mercadão popular, segundo explica Mohammed ElHajji. Na Saara não existem vitrines, os preços não estão indicados e, se o cliente não toma a iniciativa de barganhar, o vendedor fica desapontado. Lojas concorrentes, uma ao lado da outra, coexistem sem nenhum problema.

 
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