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Dia do “Índio”: questionamentos, desconstruções e abordagens possíveis
12 Abril 2017 | Por Fernanda Fernandes
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Em 19 de abril comemora-se o Dia do “Índio”. Muitos não sabem, mas um erro conceitual já pode ser visto nessa frase. Em seu blog, o escritor indígena Daniel Munduruku, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor-presidente do Instituto UKA, afirma que, embora o senso comum tenha sempre levado a crer que as palavras índio e indígena tenham relação direta, isso não é uma realidade.

“Mesmo os dicionários têm alguma dificuldade em definir com precisão o que seria o termo índio. Quando muito, dizem que é como foram chamados os primeiros habitantes do Brasil. Isso, no entanto, não é uma definição, é um apelido, e apelido que se dá para quem parece ser diferente de nós [...]. Por este caminho, veremos que não há conceitos relativos ao termo, apenas preconceito: selvagem, atrasado, preguiçoso, canibal, estorvo, bugre são alguns deles.”

Por outro lado, o termo indígena significa “original do lugar”, “nativo”. “Pode-se notar, assim, que é muito mais interessante reportar-se a alguém que vem de um povo ancestral pelo termo indígena do que índio”, conclui.

Daniel considera “traiçoeira” outra palavra corriqueiramente usada para identificar povos indígenas: “tribo”. O emprego do termo é criticado por trazer conotação pejorativa, associando a um suposto estágio “primitivo”. “A palavra tribo está inserida na compreensão de que somos pequenos grupos incapazes de viver sem a intervenção do estado. Ser tribo é estar sob o domínio de um senhor ao qual se deve reverenciar. Observem que essa é a lógica colonial, a lógica do poder, a lógica da dominação.” Dessa forma, o indicado é substituir a palavra por “povo”.

“A palavra chegou até o século XXI e continua sendo um fantasma a assustar os nativos brasileiros. [...] Ao conseguir se livrar deste modo genérico de referir-se aos povos indígenas, a sociedade brasileira irá dar um passo enorme na sua capacidade de conviver com a diferença. [...] Aqui não há índios, há indígenas; não há tribos, mas povos; não há uma gente indígena, mas muitas gentes, muitas cores, muitos saberes e sabores.”

A comemoração do “Dia do Índio” nas escolas

Aquitã, o indiozinho: personagem da série Que medo!, produzida pela MultiRio (Foto: Reprodução)

A escolha do dia 19 de abril é uma referência à data em que lideranças indígenas se reuniram pela primeira vez em assembleia, no Primeiro Congresso Indigenista Interamericano, realizado no México em 1940. Fora do continente americano, a homenagem é feita no dia 9 de agosto, por determinação da Organização das Nações Unidas (ONU).

Na visão de Munduruku, a comemoração nas escolas é, em geral, um equívoco, porque costuma generalizar a diversidade indígena, criando uma imagem equivocada e distante da realidade. “Dessa maneira, as crianças acabam aprendendo a discriminar em vez de se aproximar. Isso naturalmente gera uma desinformação capaz de alimentar o preconceito contra nossos povos.”

A saída seria, então, esquecer o Dia do Índio como data comemorativa e pensar em como aproveitar a ocasião para fazer uma leitura crítica das questões que afetam esses povos. “É importante que as escolas comecem a pensar os indígenas como seus contemporâneos, ou seja, como grupos que estão vivendo este mesmo tempo, com todas as suas facilidades tecnológicas e, mesmo assim, procurando manter vivas suas tradições. Assim, todos poderão perceber que são povos que lutam por dignidade e pelo direito de manter suas formas ancestrais de vida.”

Segundo Munduruku, atividades como brincadeiras de roda, jogos de cooperação, contação de histórias e confecção de materiais são algumas possibilidades pedagógicas para tratar do assunto, adaptadas à faixa etária dos alunos. “Com isso se trabalham valores humanos, respeito às diferenças, solidariedade. O importante é mostrar às crianças que os indígenas são pessoas normais, com problemas, dificuldades e criatividade. Mas também cheios de vida, imaginação, crenças e respeito pelo meio ambiente.”

Legislação e mudança de conduta

A inclusão da história e da cultura afro-brasileira e indígena nos currículos da Educação Básica brasileira é prevista pelas leis 10.639, de 2003, e 11.645, de 2008.

De acordo com Daniel, a legislação é fundamental porque obriga as escolas a repensarem suas ações, os professores a saírem de seu comodismo, o Estado a propor mudanças e as instituições a criarem novos mecanismos pedagógicos.

“A lei obriga. No entanto, a lei não muda as pessoas. Pessoas mudam pessoas. Para isso, precisam estar dispostas a rever seus modelos, seus paradigmas, suas crenças. A mudança passa pelas pessoas. Os educadores precisam assumir que pouco sabem sobre as culturas indígenas e buscar constante atualização, para sair da prisão mental a que estão submetidos pela educação colonizadora que ainda impera no Brasil. Apenas assim os conteúdos mudarão e as possibilidades de transformar serão efetivas e verdadeiras. Esse é um movimento que não pode parar nunca, para o bem da educação e dos educandos.”

 

Fontes:

http://danielmunduruku.blogspot.com.br
http://www.funai.gov.br/index.php/comunicacao/noticias/1893-por-que-dia-19-e-dia-do-indio
http://www.museudoindio.gov.br/educativo/pesquisa-escolar
http://www.epsjv.fiocruz.br/noticias/reportagem/historia-e-cultura-africana-e-indigena-nas-escolas

 
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