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200 anos da Missão Austríaca no Brasil
30 Maio 2017 | Por Larissa Altoé
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As Margens do Rio Itaípe na Província da Bahia. Litografia sobre papel, 1840, de Carl von Martius

Em 1817, a Missão Austríaca reuniu naturalistas e artistas não apenas da Áustria, mas também do Reino da Baviera (atualmente, um dos estados da Alemanha) e da Itália. O grupo integrou a comitiva da arquiduquesa Leopoldina, que, aos 20 anos, atravessou o Atlântico para se casar aqui com o imperador D. Pedro I (já haviam se casado por procuração). A vinda da família real e a abertura dos portos às nações amigas, em 1808, criaram um ambiente propício para que profissionais das ciências e das artes viajassem pelo Brasil a fim de conhecê-lo e retratá-lo.

Na esperança de estreitar os vínculos entre Áustria e Brasil e também agradar à filha, que gostava de estudar ciências naturais, o pai de D. Leopoldina, o imperador Francisco I, financiou a empreitada que deveria descrever e colher exemplares da fauna e da flora para museus, jardins zoológicos e jardins botânicos de seu país.

São Cristóvão, aquarela sobre lápis, 1817/1818, de Thomas Ender

A expedição nos deixou muitas obras científicas e artísticas importantes, mas uma delas se destaca pela sua atualidade: Flora Brasiliensis (em latim científico). Trata-se, ainda hoje, da mais completa publicação sobre flora brasileira, na qual, pela primeira vez, Carl Friedrich Philipp von Martius, botânico bávaro, identificou os cinco ecossistemas do país: caatinga, cerrado, Mata Atlântica, pampa e Amazônia.

Os 15 volumes encontram-se integralmente digitalizados e disponibilizados on-line, em um projeto de mesmo nome feito pelo Jardim Botânico de Missouri, nos Estados Unidos, e pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, com patrocínio privado e estatal. “Há poucos originais da obra e os muitos volumes que a compõem dificultam o manuseio. Buscamos facilitar o acesso ao documento”, afirma George J. Sheperd, professor aposentado do Instituto de Biologia da Unicamp, responsável pelo trabalho.

Von Martius e Spix

Roteiro da viagem de Von Martius e Spix pelo Brasil

A obra só foi possível graças ao empenho de Von Martius e Johann Baptist von Spix, respectivamente botânico e zoólogo da Real Academia de Ciências de Munique, do então Reino da Baviera. Ambos se reuniram à Missão Austríaca graças às relações de parentesco entre o imperador Francisco I e o rei da Baviera, Maximilian Joseph I, seu sogro.

O objetivo da dupla era visitar regiões ainda pouco exploradas e, assim, partiram em dezembro, com o auxílio de tropeiros e guias nativos. Começaram por São Paulo e Minas Gerais até a fronteira com Goiás. De lá, foram para o litoral, cruzando a província da Bahia. Durante quatro meses, atravessaram o sertão de Pernambuco, do Piauí e do Maranhão. Seguiram para Belém e viajaram durante oito meses pela bacia do Amazonas até a fronteira com a atual Colômbia. Retornaram em abril de 1820 a Belém, de onde seguiram para o Reino da Baviera. Ao todo, percorreram mais de 10 mil quilômetros em território nacional.

Levaram com eles uma enorme coleção de materiais zoobotânicos, etnográficos e minerais. Em 1823, publicaram o primeiro volume de Reise in Brasilien (Viagem pelo Brasil). Spix faleceu em 1826; Von Martius usou as anotações do companheiro de viagem para escrever os dois volumes restantes. No último deles, há um atlas com litografias, retratando paisagens urbanas e rurais, objetos, plantas, animais, tipos humanos e cenas da vida cotidiana, além de canções populares e indígenas. Em 1839, Von Martius começou a se dedicar à publicação da Flora Brasiliensis, concluída apenas em 1906, depois de sua morte, em 1868.

Os outros integrantes da Missão

Logo que desembarcaram no Rio de Janeiro, os demais naturalistas exploraram os arredores da cidade. Queriam aproveitar a volta dos navios para enviar espécimes do Brasil. Em 1o de julho de 1818, embarcaram 36 caixotes contendo animais empalhados, plantas secas e vivas, sementes e minerais. E assim foi feito sucessivamente até 1831, somando 11 remessas.

Johann Natterer, assistente do Jardim Zoológico Imperial, foi um dos que mais se esforçaram para formar a coleção sobre o Brasil. Ele permaneceu no país por 18 anos, coletando e enviando a Viena uma infinidade de animais, plantas e minerais, além de objetos etnográficos de povos indígenas.

Natterer percorreu o Brasil em companhia de Dominik Sochor, caçador pessoal do príncipe imperial Ferdinando (irmão de D. Leopoldina), especialista em empalhar animais. A partir de outubro de 1822, viajaram em lombo de burro para Goiás; em seguida, Mato Grosso, onde Sochor morreu em 1826. Natterer subiu, ainda, o Rio Negro até a fronteira com a Venezuela. De lá foi a Barcelos, no Amazonas, e ao Pará – de onde voltou à Europa, chegando a Viena em 1836.

Em 1821, foi criado, em Viena, o Museu Brasileiro – Brasilianum –, para abrigar a coleção. Os visitantes podiam observar, além dos itens citados acima, desenhos dos arredores do Rio de Janeiro, de Thomas Ender. O museu não teve vida longa, fechando em 1836 por ordem do imperador. O que pode ser compreendido, levando-se em conta que D. Leopoldina, sua filha e forte motivo para estreitar laços com o Brasil, morreu apenas nove anos após chegar ao Rio, depois de um casamento infeliz.

 

 
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