A Educação para as relações étnico-raciais ganhou força de lei (10.639/03) há 18 anos no Brasil. Nessas duas décadas, a legislação foi se solidificando (Lei 11.645/08 e pareceres do Conselho Nacional de Educação - CNE) e sendo implementada nos diversos sistemas educacionais municipais, estaduais e federais.
Fruto dessa trajetória, o acolhimento dos 823 novos professores da Rede Pública Municipal do Rio de Janeiro em 2021 foi baseado na Educação para as relações étnico-raciais, em uma parceria entre a Gerência que trata da área na Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro (SME), a Gerer, e a Escola de Formação Paulo Freire (EPF). “Os professores precisam refletir e levar para a sala de aula um modo de lecionar que auxilie as classes populares a furar a barreira da mobilidade social e não fortaleça preconceitos”, disse Morgana Rezende, diretora da EPF.
Essa primeira formação em serviço acolhe os profissionais que ingressam na Rede Pública com um encontro presencial, no qual são apresentados os objetivos da Gerer (formação, projetos intersetoriais e currículo) e sugeridas atividades a serem desenvolvidas já a partir do estágio probatório por meio da plataforma EAD da EPF e Canal do Professor no aplicativo Rioeduca em Casa.
Formação na Educação para as relações étnico-raciais
A primeira aula do curso na plataforma EAD da EPF é Griot: brinca e conta, que promove as brincadeiras e histórias africanas nos Espaços de Desenvolvimento Infantil e turmas de 1º ano. O projeto promove uma educação antirracista, valorizando as histórias afro-brasileiras, africanas e também indígenas através da literatura, das artes visuais, da música e da dança. São indicados livros como O Mundo no Black Power de Tayó, de Kiusam de Oliveira, e Kaba Darebu, de Daniel Munduruku; além de brincadeiras como Terra e Mar, vinda de Moçambique; e peteca, de origem indígena.
Outra fonte de formação em relações étnico-raciais são as lives da Gerer. São exemplos as formações intituladas Que há de Áfricas em nós? Uma conversa com Mônica Lima, professora da UFRJ, especialista no tema; e Etnomatemática, com Luane Bento dos Santos, cuja tese de mestrado traz o ensino da Matemática por meio das tranças africanas, penteado comum entre as meninas e os meninos da Rede Pública Municipal do Rio.
O trabalho de Luane mostra como é possível trabalhar desde operações básicas como adição e subtração, até figuras geométricas, feixe de paralelas e Teorema de Thales, assim como segmento (distância entre as tranças), frações, divisão e simetria, entre outros conteúdos. O fato de as tranças serem usadas por muitos alunos da Rede e terem a ver com identidade aproxima o conteúdo, muitas vezes considerado abstrato e distante.
Outros espaços no Rio
Além dos espaços promovidos pela SME, existem outras possibilidades de formação em relações étnico-raciais no município do Rio de Janeiro. Veja abaixo, alguns deles:
• MAR – desde 2013, o Museu de Arte do Rio oferece em novembro a Jornada de Educação e Relações Étnico-Raciais com seminários, cursos, palestras e oficinas. Além da jornada, o MAR costuma oferecer formações exclusivas para professores e educadores com essa temática, como Pardo é Papel, que desenvolveu identidade, representatividade, poder e pertencimento, baseada no trabalho do artista Maxwell Alexandre, residente na Rocinha. Outro curso foi Arte, ação e pensamento anticoloniais. E ainda Negra Nobreza – Nossa história não começa na diáspora, que falava sobre o Egito antigo para crianças pequenas com o objetivo de mostrar a cultura desta civilização como parte da trajetória do povo negro.
• Especialização em Educação das Relações Étnico-Raciais no Ensino Básico Colégio Pedro II (Ererebá)
• Mestrado no Cefet - Programa de Pós-Graduação em Relações Étnico-Raciais
Pedro Bárbara, que assessorou a Gerer desde sua criação no início de 2021 e que recentemente assumiu a Gerência de Anos Finais da SME, conversou com o Portal MultiRio sobre o tema e disse que os professores em geral estão sensibilizados para o tema, no entanto, há os que se sentem impelidos a buscar informação e levá-la para sua prática com os alunos e os que são resistentes à ideia. “Não é uma questão de preferência”, afirmou Pedro, “é obrigatório por lei que os professores de todos os componentes curriculares tenham uma perspectiva antirracista em suas práticas diárias ”.
A MultiRio possui uma coletânea de materiais em diversas mídias que auxiliam os professores na abordagem das relações étnico-raciais em sala de aula.