Ainda não se completou um ano desde que a aluna da E.M. Rodrigo Otávio Filho (5ª CRE) Anny Vitória Silva Souza, de 12 anos, começou a jogar tênis de mesa. Mas ela já é a melhor atleta do estado do Rio de Janeiro e a quarta colocada do ranking nacional, na categoria mirim. Essa classificação foi conquistada em dezembro de 2017, na capital paulista, durante a seletiva que escolheu os atletas que representarão o Brasil no Campeonato Sul-Americano.
O pouco tempo de prática em relação ao seu desempenho chama a atenção, o que leva o diretor da escola – o professor de Educação Física Paulo César de Souza – a vislumbrar um grande futuro esportivo para ela. Afinal, as três mesatenistas mirins que ficaram à sua frente jogam desde os 7 ou 8 anos de idade.
No que depender de Anny Vitória, a expectativa de Paulo César está garantida: “Quero meter bronca nos treinamentos para ter um futuro”, diz, com a motivação de quem percebe que o tênis de mesa pode ampliar os seus horizontes de vida. Mas quem a conhecia, um ano atrás, jamais diria que o foco em um objetivo era o seu ponto forte.
“Essa menina não ligava para nada. Acordava e ficava do jeito que estava. Era um desânimo para estudar. Hoje, se eu peço para ir à padaria, se arruma toda. E está muito mais esforçada e preocupada com os estudos”, conta a mãe, Joelma Juciléia Brito da Silva, operadora de caixa e moradora da Comunidade da Malvina, em Irajá.
O diretor da escola confirma as palavras de Joelma: “Ela era muito retraída. Vivia sempre com muito sono”. Segundo ele, a mudança mais notável em Anny Vitória, desde que começou a brilhar no tênis de mesa, foi o aumento da autoestima. “Fiz pós-graduação na área de Neurociências e acredito na existência de vários tipos de inteligência. Ela é muito habilidosa para o esporte. Aprende rápido. E quando qualquer pessoa descobre o seu campo de competência, começa a encontrar as oportunidades. É isso o que está acontecendo com a Anny. O mundo está se abrindo para ela”, conta Paulo César.
Agora, ela e a mãe estão na expectativa da próxima viagem, no final de março, para participar da Copa Brasil Sul-Sudeste I, que será realizada em Concórdia (SC). O evento é promovido pela Confederação Brasileira de Tênis de Mesa e, como não se trata de um evento estudantil, Anny Vitória só participará porque irá como representante da Associação dos Amigos da E.M. Rodrigo Otávio Filho (Ame-ROF), entidade criada pela comunidade escolar e moradores do entorno.
Rendimento escolar e "efeito Anny"
Em 2003, os então professores de Educação Física Paulo César de Souza e Ricardo D’Assunção (atual coordenador pedagógico) começaram a trabalhar na ROF – como a unidade é chamada pela comunidade escolar e conhecida nas imediações. “A realidade que encontramos era a de jogo de futebol para os meninos e queimado para as meninas”, lembra o diretor.
Tudo começou a mudar no ano seguinte, quando veio a convocatória para participar dos Jogos Estudantis do Rio de Janeiro e era preciso escolher as modalidades esportivas em que a escola participaria. “Marcamos ‘x’ em todas as opções. Foi uma loucura, mas valeu a pena”, afirma Paulo César.
Além de pôr a mão na massa para treinar os alunos nas diversas modalidades, foram criadas regras de participação. Por exemplo, para representar a escola nos Jogos Estudantis é preciso atingir notas satisfatórias nas matérias e participar do torneio interno, idealizado na época e que, desde então, acontece obedecendo a todos os protocolos esportivos, como o evento de abertura, o respeito ao regulamento etc.
O resultado de todo esse trabalho têm sido as excelentes participações da ROF tanto nos Jogos Estudantis como nos Jogos Escolares da Juventude, promovidos pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB). No tênis de mesa, é a melhor escola do país. E, nas outras modalidades, tem conseguido colocar sua equipe em várias finais.
Mas mais do que isso: vários dos alunos com bom desempenho nos esportes têm passado para as melhores escolas públicas do Ensino Médio ou conseguido bolsa de estudos integral em bons colégios particulares. A equipe de reportagem da MultiRio é testemunha disso. No dia em que foi à E.M. Rodrigo Otávio Filho, chegaram lá duas ex-alunas com o uniforme do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet): “Viemos matar as saudades”, disseram, com ar de orgulho por terem estudado lá.
O diretor diz que a visita de alunos antigos se tornou corriqueira na ROF. “Eles querem ajudar a treinar os novos talentos da escola”, esclarece. Mas a maior novidade que Paulo César tem observado é aquilo que ele chamou de “efeito Anny”: “Agora, todas as crianças do entorno querem estudar aqui”, afirma, sem esconder a satisfação.