Claudio Ferreira Garcia é responsável pelo Núcleo de Vídeo que atende alunos de três escolas municipais: Narcisa Amália e Monteiro Lobato, em Guaratiba (10ª CRE), e Comunidade de Vargem Grande (7ª CRE). Em 12 anos, os estudantes realizaram 150 filmes, vários deles premiados em festivais. O dinheiro arrecadado com os prêmios costuma ser investido na compra de equipamentos como câmera, tripé, computador e luz adequada.
“O objetivo do trabalho é dar voz aos meninos e às meninas da Rede Municipal de Educação, por meio da expressão audiovisual”, explica o professor. Na sala dedicada às aulas, na E.M. Narcisa Amália, há uma frase em destaque na parede, de Alain Bergala, especialista francês em cinema, que traduz a iniciativa: “Se o encontro com o cinema como arte não ocorre na escola, há muitas crianças para as quais ele corre o risco de não ocorrer em lugar nenhum”. De fato, Claudio conta que, para muitos estudantes, a primeira vez que entram em um cinema é para assistir à própria produção. E ficam maravilhados.
As aulas de audiovisual acontecem no contraturno escolar e a matéria é opcional, fruto de um projeto do professor com a 10ª CRE. Todo ano, não faltam candidatos para preencher as cerca de 280 vagas oferecidas para o 7º, 8º e 9º anos, nas três escolas municipais. As 14 turmas têm, no máximo, 20 participantes cada. Quem se inscreve participa de todas as funções da realização do filme. O processo começa com redações, que servem como sugestão da história a ser adotada pelo grupo. A turma escolhe qual é a melhor ideia.
Na sequência, Claudio ensina como se faz um roteiro de filmagem e a história é formatada desse jeito. É comum o grupo reescrever várias vezes, fazendo modificações, até chegar ao script final. O professor dá dicas de livros para inspirar a criatividade e os estudantes também assistem a filmes ou cenas que exemplifiquem noções de enquadramento de câmera e outras linguagens cinematográficas. O acervo do Núcleo é visto e serve como ponto de partida para as novas turmas. Há aulas também de interpretação, gravação e direção. A edição é a única parte que é feita principalmente por Claudio e acompanhada pelos alunos.
Senso de responsabilidade
Os professores das disciplinas obrigatórias relatam que o comportamento dos estudantes melhora graças às aulas de vídeo. Quem é bagunceiro começa a participar de forma mais positiva e eficiente das aulas; aquele que não abria a boca torna-se assertivo. “Eles entendem que precisam ter responsabilidade, senão o filme não fica pronto. Escolhem e resolvem questões o tempo todo, desde a ideia até o corte a ser feito porque o filme ficou grande demais”, explica Claudio sobre a mudança.
O sucesso mais recente do Núcleo atende pelo nome de Ai, cadê meu cartão?. O filme ficou em primeiro lugar no Festival Estudantil de Barra do Piraí de 2016, recebendo R$ 2 mil como prêmio. O curta-metragem também participou do Festival do Rio e foi exibido em Pelotas, durante o 1º Congresso Brasileiro de Vídeo Estudantil, dias 16 e 17 de novembro, sendo premiado com troféus nas categorias melhor atriz e direção.
Outro exemplo de sucesso é o Vida em Manchetes, uma adaptação do livro O Nariz e Outras Crônicas, de Luis Fernando Verissimo, que ficou em primeiro lugar nas categorias roteiro e som, no Festival Literatura em Vídeo, promovido pelas editoras Ática e Scipione em 2012.
Já em 2011 e 2010, os alunos de Cláudio venceram o concurso Tirando a Droga de Cena, da prefeitura do Rio. Pelo feito, os estudantes receberam netbooks e o professor, um Ipod.
Multitarefa
Claudio Garcia se formou em Artes Cênicas na Unirio, em 1998. No ano seguinte, passou no concurso municipal que o levou para a E.M. Narcisa Amália. Nessa época, foi convidado por Fábio Junqueira, então diretor de TV da MultiRio, para fazer um teste na Empresa, sendo selecionado para apresentar o programa Abrindo o Verbo.
Em 2003, outro concurso o designou para a E.M. Monteiro Lobato. Como ambas ficam em Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, mudou-se da Zona Sul, em 2007, para o Recreio dos Bandeirantes, bairro próximo aos locais de trabalho.
Começou a carreira como professor de Artes Cênicas da Rede Municipal dando aulas de teatro, mas, influenciado pelo programa de debates entre estudantes da MultiRio, resolveu reproduzir a experiência na escola, promovendo a discussão de temas como família e relacionamentos amorosos na adolescência. Os alunos revezavam-se nos papéis dos debatedores, do câmera e do apresentador. Em um segundo momento, o grupo partiu para a realização de um documentário sobre Guaratiba, para o qual pesquisou sobre o nome do bairro e suas origens. Em seguida, foi a vez de o tema reciclagem ocupar as cabeças dos documentaristas mirins.
Entusiasmado, o professor buscou capacitação nas áreas de edição e gravação de vídeo. As turmas seguintes começaram a ousar mais, produzindo filmes de ficção. Veio, então, a participação exitosa em festivais de cinema estudantil. Os frutos do trabalho não param por aí, com alguns alunos seguindo carreira como editor, câmera e ator.
Claudio pode ser descrito como uma pessoa multitarefa. Devido a trabalhos anteriores prestados para a Associação Nacional de Desporto para Deficientes, ele foi chamado para narrar os jogos de bocha durante os Jogos Paralímpicos do Rio. Os espectadores que estivessem na arena munidos de celulares ou de um aparelho específico podiam ouvi-lo e entender melhor o que estava em jogo.
Atualmente, além das três escolas municipais, ele leciona em um colégio particular e acaba de encerrar sua participação como ator na novela da TV Globo Haja Coração, na qual interpretava um delegado. Para 2017, escreve uma peça, que pretende dirigir. É casado com uma atriz e tem dois filhos: Rodrigo, 5 anos, e Alice, 10.
Quem quiser assistir aos filmes dos jovens de Guaratiba e Vargem Grande e conhecer mais do trabalho que realizam em conjunto com o professor Cláudio Garcia, é só acessar nvguaratiba.blogspot.com.br.
