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A Guerra de Canudos
31 Outubro 2016 | Por Jeanne Abi-Ramia
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Aquela campanha (de Canudos) lembra um refluxo para o passado. E foi, na significação integral da palavra, um crime. Denunciemo-lo.

Euclides da Cunha

Quatrocentos jagunços prisioneiros (Flavio de Barros/Acervo Museu da República)

Considerações
“Ante o olhar dos futuros historiadores”

As imagens singulares capturadas pelas lentes do fotógrafo Augusto Flávio de Barros, como a de 02 de outubro de 1897 que apresentou a rendição e a destruição do Arraial de Canudos, teriam possivelmente realizado uma vontade do repórter e escritor Euclides da Cunha, presente nos derradeiros atos da Guerra, encerrada em 05 de outubro. O autor de Os Sertões, lançado em dezembro de 1902 e originado das anotações e observações feitas durante a sua incursão no interior da Bahia, se interessava pela técnica inovadora. Enviado à frente de batalha, como correspondente do Jornal Província de São Paulo (hoje, Estado de São Paulo), para cobrir os fatos dos enfrentamentos que se desenrolavam no sertão baiano, teria levado uma câmera em sua bagagem. Acredita-se que se Euclides efetivou algum registro fotográfico não obteve os resultados práticos ambicionados.

Historiadores atribuem especial importância às imagens obtidas por Flavio de Barros. Embora inexista consenso se foi contratado pelas autoridades republicanas, ou não, possivelmente teria permanecido na região até 12 de outubro de 1897. Décadas após o final da guerra seus trabalhos auxiliam, extremamente, a aprofundar os conhecimentos sobre os episódios que se desenrolaram no interior baiano.

Citado como um cronista anônimo do conflito sertanejo, seus registros exprimem, simbolicamente, as contradições vividas pela sociedade brasileira na época da passagem do Império para a República. Historiadores assinalam que, especificamente no caso de Canudos, as tomadas que realizou, incluindo aspectos como as igrejas, as habitações, a paisagem árida da localidade ou a população, são enfoques diferenciados. As imagens, de alguma forma, dizem, contam; mesmo que não tenham tido a intenção de dizer ou de contar. Por meio delas, é possível enxergar, tempos depois, os contrastes dos “dois Brasis” – expressão consagrada pelo sociólogo Jacques Lambert. Realidade que, singularmente, Flávio de Barros presenciou.

São registros que colocam em xeque outros, geralmente posados, efetivados por fotógrafos contratados pelo Exército para documentar as ações das forças militares pertencentes à Divisão de Artilharia Canet, que partiram de Salvador em 30 de agosto, sob o comando do general Carlos Eugênio de Andrade Guimarães, alcançando Canudos em 26 de setembro de 1897. Essa guerra alastrou-se pela imprensa, multiplicando-se, de modo bastante particular, em notícias. Os jornais de grande circulação enviaram repórteres e fotógrafos, mesmo sabendo das dificuldades do deslocamento pelo interior da Bahia, para a “primeira cobertura ao vivo de uma guerra no Brasil, que a instalação das linhas telegráfica tornara possível”, conforme registra o historiador Roberto Ventura, um dos biógrafos de Euclides da Cunha. Tratando-se de Canudos e das sucessivas derrotas sofridas pelas forças militares legais, frequentemente as narrativas vinham pontilhadas de excessos e posicionadas ao lado das autoridades constituídas.

Vale observar que reportagem dessa natureza não era um feito inédito. A Semana Illustrada, que circulava no Rio de Janeiro, havia realizado uma cobertura da Guerra do Paraguai (1865-1870). Estampara em suas edições mapas indicando os locais das batalhas, além de alegorias realizadas por autores como Antonio Luiz van Hoonholtz (Barão de Tefé) e Alfredo d’Escragnolle Taunay.

Porém, essa seria primeira vez que o Exército brasileiro documentava fotograficamente uma luta como o do Arraial de Canudos. Possivelmente almejava, num esforço final da guerra, utilizar-se desse recurso, em franco desenvolvimento (embora ainda restrito apenas a determinados profissionais), para assinalar o ponto de vista da jovem república brasileira legitimando suas ações (violentas) em um ambiente político de muita instabilidade.

Historiadores consideram que também estava em jogo o papel do Exército no contexto republicano, após os fatos que envolveram o 15 de novembro. Tais registros tinham como objetivo informar a opinião pública brasileira e mesmo a internacional sobre os fatos que aconteciam no sertão da Bahia. Os episódios fotografados exprimiriam a ótica das forças repressoras que enfrentavam os sertanejos “selvagens” e “atrasados”.

A quarta e derradeira expedição militar enviada pelas autoridades republicanas fez cair por terra a resistência dos chamados “conselheiristas”. Os derrotados retratados no dia 2 de outubro de 1897 fazem parte do momento final da Guerra de Canudos. A imagem apresenta predominantemente mulheres e crianças, pois prisioneiros masculinos haviam sido degolados.

Diferentemente dos retratos oficiais, criados intencionalmente para documentar o olhar do vencedor (destacamentos do Exército ou alguma situação reencenada dos enfrentamentos entre soldados e jagunços, já que não poderiam existir instantâneos dos combates a não ser no plano geral), a perspectiva tomada por um ângulo frontal e direto evidencia a penúria daqueles indivíduos.

O trabalho realizado por Flávio de Barros, publicado no livro “Os Sertões”, revela o seu valor histórico-documental e assinala o ciclo decisivo da Guerra de Canudos. Tais importantes registros, em meio às teorias raciais do período, esboçaram “palidamente embora, ante o olhar dos futuros historiadores, os traços atuais mais expressivos das sub-raças sertanejas do Brasil”, conforme escreveu o próprio Euclides da Cunha.

“Um livro vingador” 

Divisão Canet (Flávio de Barros/Acervo Museu da República)

Falar da Guerra de Canudos é referir-se à obra de Euclides da Cunha, Os Sertões, trabalho que contêm referências às teorias positivistas e evolucionistas célebres naquela época e que também incluiu impressas, pela primeira vez até onde se tem notícia, as fotografias de Flávio de Barros. Contudo, o seu autor não é citado pelo escritor. Talvez por não ser uma prática da época ou “talvez por ser considerado mero copista da realidade, e não artífice”, conforme analisa o estudioso Berthold Zilly. 

Nas edições subsequentes, as imagens nem sempre apareceriam; quem sabe por não serem consideradas integrantes da produção literária. Porém, na primeira edição constam três delas mencionadas por Barros como: “Divisão Canet”, “7º Batalhão de Infantaria nas trincheiras” e “400 jagunços presos”. Esses nomes seriam trocados por Euclides para: “Monte Santo (Base das operações)”, “Acampamento dentro de Canudos” e “As prisioneiras”.

Estudiosos consideram que o livro não é somente um texto literário, jornalístico e sociológico. Para o escritor Florestan Fernandes, expressa uma transformação marcante no processo de formação das ciências sociais no país. Isso em razão de ser “o primeiro ensaio de descrição sociográfica e de interpretação histórico-geográfica do meio físico, dos tipos humanos e das condições de existência no Brasil”.

Outros estudos consideram Os Sertões como fonte documental para se compreender o Brasil nos primeiros tempos republicanos, quando estava em pauta um projeto de nação feito por e para setores restritos da população. Um país envolto em teorias europeias incluindo o conceito de raça, chancelado pela Biologia, que era excludente: apenas os “melhores” venceriam.

Como parte dos letrados daquele período, Euclides compartilhava os pressupostos oriundos de um credo cientificista que incluía o evolucionismo, o determinismo climático e biológico e, de uma forma ampla, o positivismo. Porém, na prática, as certezas estrangeiras podiam se transformar em incertezas. Quando o escritor se deparou com a realidade vivida pelos sertanejos, narrou, por meio das páginas que chamou de “livro vingador”, não apenas a campanha militar contra o Arraial de Canudos, sua missão original. Incluiu estudos da realidade física e geográfica do sertão (com extensa descrição geológica e climática), além de descrever a população sertaneja.

Ao chegar ao sertão semiárido da Bahia, onde permaneceu de agosto até outubro de 1897 incumbido de noticiar para o periódico paulista os derradeiros atos da Guerra de Canudos, entrou em contato com um povoado praticamente destruído pelos sucessivos ataques militares. Constatou a situação dos seus habitantes cerceados de água e de alimentos devido ao cerco promovido pelas tropas do Exército. No capítulo O homem, examina aspectos diversos da vida do sertanejo, como costumes, trabalho e religião. Revela um país pobre, esquecido e desamparado, com múltiplas faces conflituosas de exclusão e de distanciamento, onde a ideia europeia de civilização estava completamente desvinculada da realidade.

A guerra de extermínio destruiu Canudos, causou a morte de aproximadamente cinco mil soldados e massacrou uma localidade com cerca de 25 mil habitantes. O Brasil agiu “como um mercenário a serviço de um projeto de civilização que não era o seu”, segundo palavras da historiadora Maria José de Rezende.

“Dúvidas, incertezas e muitos silêncios”

No Arraial de Canudos, o que Euclides da Cunha presenciou não combinava com os critérios considerados racionais e objetivos – porque biológicos – da época; em especial àqueles que exaltavam o branco como “raça superior” sob o guarda-chuva da ciência. Mesmo articulado com as correntes de pensamento predominantes que acentuavam conceitos como os “fatores raciais” onde a civilização significava uma ordem “social construída por e para homens brancos, a raça superior”, o quadro ante os olhos do escritor era o da miséria, da negligência. Se o jornalista viajou envolto em certezas, retornou “assolado por dúvidas, incertezas e muitos silêncios”, escreveu a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz.

Surge então o que estudiosos nomeiam como “ambivalências euclidianas”. Se nos derradeiros anos do século XIX e no alvorecer do XX, havia a defesa da ciência e do progresso, a modernização pretendida era excludente. Numa balança imaginária, oscilavam pesos diferenciados entre o moderno e o arcaico, entre o litorâneo e o sertanejo, entre o real e o legal. Para Walnice Nogueira Galvão, mestre em Literatura e especialista em Euclides da Cunha, “na ânsia de encontrar respostas”, Euclides da Cunha viveria um conflito frente à veracidade daquele sertanejo que descreveria como sendo, antes de tudo, “forte”.

Segundo a antropóloga Regina Maria do Rego Monteiro de Abreu o escritor “concebeu sua vida como obra, afirmando suas ideias por meio de atitudes e projetos que expressavam o estilo de pensar e de militância política forjado na virada do século XIX para o século XX”. Conduzido pelo quadro teórico que embalava o período, em que a ciência era defendida como parâmetros e guia para uma sociedade mais igualitária e inclusiva, detalhou em narrativas a região e a população até então ignoradas pela história oficial: os sertões do Norte e os sertanejos.

Se a Guerra de Canudos acontecia diante de um arcabouço teórico que, ilusoriamente, aparentava ser obrigatório ou inevitável, na prática as mudanças não aconteciam. O olhar na direção do sertão não se alterava. Permanecia sendo compreendido como um espaço da barbárie se analisado a partir da crença no progresso e, por isso, impossibilitado de qualquer desenvolvimento rumo à modernidade. Para muitos, “sintetizava a representação do outro indesejado e distante, símbolo daquilo que não se poderia conceber como nacional”, conforme palavras do historiador Ricardo de Oliveira.

A crença no progresso

Inúmeras e significativas transformações políticas, econômicas, sociais, culturais e tecnológicas assinalam os derradeiros anos do século XIX e o alvorecer do século XX no mundo. No Brasil, pairavam aspectos dramáticos e decisivos quanto ao destino da República, que dava os primeiros passos precedidos por alterações importantes como a tardia Abolição da Escravatura. O novo cenário alardeava promessas de cidadania e igualdade. O poder que se instalava, com um executivo forte e intervencionista, pretendia conduzir o país para o que era entendido como modernidade. Contudo, nesse palco político, onde grupos com interesses diversos almejavam o protagonismo, os tempos posteriores ao 15 de novembro seriam caracterizados “por uma grande incerteza”, de acordo com o historiador Bóris Fausto.

Com o advento da República, o conceito de civilização predominante durante o Império deixa de ser o valor fundamental, substituído pelo ideal de progresso enquanto desenvolvimento material. Muitos acreditavam que avançando nesse conceito o país solucionaria os problemas que enfrentava. Era fundamental seguir o curso da modernidade que se apresentava como uma etapa a ser alcançada. Não sem motivo, portanto, o lema na bandeira: Ordem e Progresso.

Aquele era um tempo regido pela crença no progresso. Havia uma visão positiva nesse sentido. Inúmeros protagonistas acreditavam que tantas novidades, que se espalhavam pelo novo mundo novo, anunciavam o “progresso, irmão da civilização”, conforme observa a historiadora Margarida de Souza Neves.

Um novo mundo novo, possível e viável? 

Usina Canal 1909 (Acervo Maria do Resguardo)

As perspectivas que se apresentavam eram de um novo mundo novo. Parecia tudo ser possível e viável. Diversas populações do mundo ocidental assistiam com espanto os avanços trazidos pela chamada segunda Revolução Industrial, desdobramento da Revolução Científico-Tecnológica acontecida no final do século XIX, que resultou no desenvolvimento de fontes de energia. A era trouxe também uma evolução nos meios de transportes e nos meios de contato e comunicação que se tornaram mais eficientes. 

O padrão industrial se consolidou no século XX. Inicialmente, pela utilização da eletricidade e do aço. Adiante, pelo desenvolvimento da química, das comunicações e do uso do petróleo. A ciência e os laboratórios de pesquisa assumiam papéis destacados especialmente nos avanços aplicados, por exemplo, à indústria elétrica e química. As inúmeras ações transformadoras, e que realmente foram, resultaram no aparecimento de um olhar positivo na direção de um mundo onde existiria fartura, racionalidade e harmonia.

Todavia, de início, e em geral, não sobrepuseram as práticas antigas. Como também não beneficiaram os moradores do planeta como um todo. Mesmo assim, novidades como a luz elétrica, o rádio, o gramofone, o telégrafo, o fogão a gás, as vacinas e a fotografia modificaram o cotidiano de incontáveis pessoas no alvorecer do século XX. Causaram entusiasmo e assombro especialmente para as populações do mundo ocidental. Estudiosos consideram como tendência, o início de um tempo dito “acelerado”. Ciclo assim avaliado frente às múltiplas inovações tecnológicas que o historiador Nicolau Sevcenko compara, metaforicamente, com o movimento de uma montanha-russa – brinquedo de parque de diversão, aliás, criado nessa mesma época.

O “feitiço transoceânico” 

Usina Marmelos (Acervo Maria do Resguardo)

As novidades surgidas nesses tempos vertiginosos, que agitavam corações e mentes na virada do século XIX para o XX, alcançaram o Brasil pouco a pouco. Consta, por exemplo, que Thomas Alva Edison teria obtido de D. Pedro II, em 1878, uma autorização para comercializar o fonógrafo no país, logo após a sua invenção. A primeira linha telefônica data de 1881. Uma usina termoelétrica seria inaugurada em 1883, instalada no município de Campos dos Goytacazes (Rio de Janeiro). Em 1889, entrou em operação a primeira hidrelétrica, para serviços de utilidade pública, a Marmelos Zero, localizada nas proximidades da cidade mineira de Juiz de Fora. A eletricidade tinha uma função que ia além da iluminação das praças, ruas e avenidas. Por exemplo: os cinematógrafos, que abririam suas portas em 1896, no Rio de Janeiro, dependiam dela! Frequentados, nesses primeiros momentos, por um público predominantemente masculino eram, para o professor Renato da Gama-Rosa Costa, “um teatro que virou cinema”.  

A capital federal seria uma espécie de laboratório onde mudanças e reformas anunciavam as novidades. Informa a historiadora Margarida de Souza Neves, que o Rio de Janeiro teria, em 1905, 12 automóveis, o que ocasionava bastante encantamento. Naquela época, tudo parecia ser feito com velocidade. O cronista Paulo Barreto, um carioca conhecido como João do Rio, registrou que “automóvel fez-nos ter (...) pena do passado”.

Grupos letrados pertencentes à chamada “geração de 1870”, em contato por meio de viagens ou pelo acesso à leitura da produção intelectual francesa, alemã ou inglesa, ficariam articulados e informados sobre o que era tido como sendo novo. Era o que o historiador Capistrano de Abreu traduziu como “feitiço transoceânico”, incluindo a modernização. Esta, aliada ao conceito de urbanização, acontecia dentro dos limites de cidades importantes do Brasil, como o Rio de Janeiro – na época, Distrito Federal. A industrialização e a imigração compunham, também, a face do país que pretendia ser renovado.

Entre as teorias e doutrinas estrangeiras que os intelectuais brasileiros tomavam conhecimento, nomeadas pelo intelectual Silvio Romero como “um bando de ideias novas”, estavam: o evolucionismo (Herbert Spencer), o biologismo (Ernst Haeckel), a antropogeografia (Friedrich Ratzel), o racismo (Arthur Gobineau) e o determinismo (Henry Thomas Buckle). Tais princípios buscavam estabelecer leis que explicassem o progresso das civilizações como uma evolução do mais “simples para o mais complexo”, tendo como fatores importantes “o meio e a raça”. Daí a preocupação dos letrados daquela geração, como Euclides da Cunha, com a terra e com o homem.

Porém, indo na contramão de um ideário mais igualitário, o conceito de raça era excludente. Nesse modelo racional e objetivo chancelado pela Biologia, pregava-se que apenas os “melhores” venceriam. Surgiria amparado nessa moeda corrente, com face biológica, um “racismo científico”, que observando sinais físicos justificava definições quanto à “inferioridade e falta de civilização” de largos setores sociais. Nesse critério generalizado pautado pela diferenciação racial, foram incluídos, por exemplo, negros e mestiços.

“Uma estrada de longo percurso”

O alvorecer do século XX parecia vir atrelado à existência de uma nova era. Ciclo onde as promessas de igualdade fariam desaparecer os antigos modelos de hierarquia social, circunscritos ou interligados, exclusivamente, aos critérios de nascimento ou de origem. Parecia. Apenas parecia. A realidade, em plena reversão das expectativas de alguns, mostraria aspectos bem diversos dos pretendidos nesse cenário idealizado.

Considera a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz que no lugar “da trajetória assimilacionista que se apresentava como uma estrada de percurso longo, mas possível, houve a retomada de um projeto hierárquico, agora pautado na diferenciação racial – nova moeda corrente”. O processo que entrou em curso, com suas dimensões específicas e locais, será repleto de recuos, entraves e imprecisões. O Brasil saía dos padrões e comportamentos adotados durante o período imperial e mergulhava, nessa primeira fase republicana, nos encantos do que era considerado como modernidade e que acontecia fora do seu perímetro geográfico. 

Casa (Flávio de Barros/Acervo Museu da República)

Se nessa época renovada existiam páginas aguardando a escrita de outras histórias, os registros efetivados seriam contrapontos (desconfortáveis) entre o futuro e o passado; entre o mundo das cidades urbanizadas (especialmente as litorâneas) e os bolsões de miséria. Mantinha-se no país, sem nenhuma alteração, a realidade dos sertões afastados e das florestas fechadas.

Permanecia obscura e esquecida a feição do interior brasileiro colocando em risco tais sinais transformadores. Aspecto que “desnudava o dissenso e a falta de um projeto único que combinasse modernidade e progresso”, ensina Lilia Moritz Schwarcz. Poucos teriam a clareza de perceber que, nessa estrada de longo percurso, os ideais oriundos especialmente da Europa Ocidental não trariam oportunidades e nem seriam compartilhados pelos brasileiros como um todo.

Nesse contexto em que pontuavam tensões sociais, estagnações e adversidades, as cenas que aconteceriam seriam, no mínimo, ambivalentes. Entre avanços e recuos, romperiam vários movimentos de caráter popular, como a Guerra de Canudos, que denunciariam o que historiadores nomeiam como a prometida “civilização fácil”.

Euforias, tensões e desconhecimentos

A partir do estabelecimento da República, criou-se um suposto de um Brasil transformado. A estagnação dos derradeiros tempos da monarquia, assim como a barbárie da escravidão seriam páginas viradas. Um forte simbolismo, mais integrado com o mundo desejado, ocupou o palco com novos hinos, bandeiras redesenhadas e heróis nacionais.

Cidades, especialmente localizadas no Sudeste, alteravam os cenários urbanos para dar conta das recentes transformações que a bandeira ostentava: Ordem e Progresso. Essa frase era uma clara referência à filiação ao positivismo, mas também conduzia à noção de que o progresso era uma espécie de caminho a ser trilhado.

Tanta euforia atingiu o Rio de Janeiro (Distrito Federal), autêntico palco onde se desenrolava a política nacional, por meio de ações como a do “bota abaixo” conduzida pelo prefeito Francisco Pereira Passos. A cidade traduzia-se em vitrine da nação, cartão postal, retrato da nova ordem estabelecida. Também alcançou São Paulo, especialmente a partir da década de 1870, em meio a expansão cafeeira: cidade convertida aceleradamente na chamada “metrópole do café”. Surgiram modificações nos seus espaços urbanos como jardins públicos e ruas alargadas.

Porém o que indicava conforto para alguns significava exclusão para muitos – tidos como incompatíveis frente à infraestrutura que anunciava a certeza da realização de sonhos ilimitados. Nessas duas cidades, como em outras, as tensões se acumulavam, diante das regulamentações oficiais (chamadas de “posturas”). As populações pobres eram expulsas das suas antigas moradias, que davam lugar às lojas de comércio fino, cafés à moda europeia ou teatros onde óperas famosas eram encenadas.

Sem um planejamento, que objetivasse atender às demandas dos setores desvalidos, aumentava a pobreza desses grupos sujeitos a uma vida marginalizada em espaços improvisados e precários. Se essa era a situação nas cidades, que buscavam padrões modernos, havia por parte das autoridades republicanas um enorme desconhecimento quanto ao restante do território e da população do Brasil.

Assim, o estabelecimento da República não significou o fim dos problemas internos com os quais o país se defrontava. As inovações propostas não implicaram no diálogo entre os “diferentes Brasis” que eram, na verdade, um só. Se por um lado, a modernização era um conceito predominante, por outro prosseguiam continuidades de toda a ordem.

Nesse clima, eclodiram movimentos populares como o dos sertanejos no interior baiano conhecido como a Guerra de Canudos.

Canudos

No alvorecer republicano, o historiador Bóris Fausto considera que no Brasil aconteceram graves movimentos sociais no campo, que podem ser divididos em grupos. Entre eles, Canudos, inserido na parcela que combinou “conteúdo religioso com carência social”. Para outros historiadores, o episódio também demonstrou a face da fragilidade do Estado republicano brasileiro ainda em formação.

São inúmeros e complexos os motivos que conduziriam à eclosão do movimento. Se naquela época existia um Brasil urbano, traduzido pelos conceitos da ciência, do progresso e pela chegada de uma pretendida modernidade “a qualquer custo”, conforme palavras de Lilia Moritz Schwarcz, existia, também, o país das populações desvalidas. Tais setores concentravam-se nas distantes regiões sertanejas; porção onde viviam deserdados em sua própria terra, como indígenas, libertos e mulatos.

Contrastando com esse momento onde se ambicionava que o futuro promissor estivesse logo ali, tem início a chamada Guerra de Canudos onde o governo republicano enfrentará sucessivas derrotas impostas por sertanejos que, no interior da Bahia, viviam em um povoado com leis e ordens particulares. Para a historiadora Vanessa Sattamini Varão Monteiro, “Canudos foi resultado de vinte anos de peregrinação de Antônio Vicente Mendes Maciel”. Possivelmente, a canção “Canudos” de Edu Lobo e Cacaso ilustre o momento: “Entre Rios, Belos Montes/ Quem é esse que vagueia?/ Conselheiro que tonteia/ E apeia sem chegar”.

Conhecido como Antônio Conselheiro, nascido na província do Ceará em 1830, iniciou sua jornada pelo interior das áridas regiões nordestinas, por volta de 1870, proferindo sermões até ser proibido pelas autoridades da Igreja Católica de Roma, em 1882. Organizava mutirões, que resultavam, por exemplo, em construções de igrejas. Pregava a palavra divina, levava uma esperança singular a centenas de pessoas que buscavam alento para seus sofrimentos.

Perante as ações tomadas por Conselheiro, em desacordo com os interesses e as medidas das autoridades imperiais, somavam-se as hostilidades. Os problemas não cessaram quando a República foi proclamada em 1889. Conselheiro fazia críticas ao regime que nomeava como a “personificação do Anticristo”. Consta que em uma peregrinação, reunindo os seguidores em dia de feira no município baiano de Bom Conselho, mandou queimar tábuas que continham leis republicanas. Historiadores registram que a partir desse fato começou a ser perseguido como um perigo social.

Encabeçou também uma rebelião contra a cobrança de novos impostos, a ser efetivada pelos municípios, autorizada pelo governo central em 1893. No mesmo ano, fixou-se, acompanhado por seus seguidores, em terras no nordeste da Bahia às margens do rio Vaza-Barris. Ali, em uma fazenda abandonada, surgiu um povoado que seria chamado de Belo Monte. O nome consagrado de “Canudos” referia-se a uma planta comum na localidade, de haste oca como um canudo, utilizada tradicionalmente como uma espécie de cachimbo.

 

Canudos Vilagge (Flávio Barros/Acervo Museu da República)

No povoado, a lógica republicana não predominava; a palavra de Conselheiro era suficiente para estabelecer a ordem e as práticas sociais. Ali, as forças policiais não entravam e impostos não existiam. Pesquisas indicam que no povoado existia um sistema comunitário, que estabelecia: o que era produzido era repartido. Se existisse algum excedente seria vendido ou trocado com outros vilarejos. Inexistia cobrança de impostos.

Belo Monte possuía regras particulares e representava uma alternativa para aqueles desvalidos que fugiam da dominação e do controle que os “grandes coronéis” detinham sobre suas vidas. Historiadores consideram como o mais marcante a inexistência da propriedade da terra. Aquele que chegasse até Belo Monte poderia erguer sua moradia sem pagar nada a quem quer que fosse.

Não há exatidão quanto ao número de habitantes do local citado por historiadores como uma espécie de “refúgio sagrado”, contra as secas e as leis republicanas. Calcula-se que a população heterogênea (vaqueiros, sem-terras, pequenos proprietários pobres, idosos, crianças, ex-escravos) poderia girar entre 10 mil a 35 mil indivíduos, número expressivo para a época. De acordo com Euclides, Conselheiro não chamava os seus fiéis. Eles chegavam “espontâneos, felizes por atravessarem com ele os mesmos dias de provação e miséria”. Muitos, buscando alento, paz e justiça em meio à fome e à seca do sertão, haviam abandonado seus trabalhos nas fazendas para seguir o beato ouvindo suas pregações. Tal procedimento ocasionou uma carência importante de mão de obra, tendo como resultado imediato o descontentamento de coronéis locais.

Essa comunidade aos olhos dos representantes da República, e não podia ser de outra forma, era entendida como uma região de “atraso” onde a “desordem imperava”. Portanto, precisava ser combatida.

Temor, descontentamento e reação

Se para os moradores do povoado de Belo Monte a vida seguia em torno das rezas diárias e dos conselhos de Antônio (com data marcada, atraindo em romaria crentes de locais distantes), temores e descontentamentos rondavam os fazendeiros, os políticos locais e até mesmo os religiosos – representantes dos grupos que entendiam Canudos como uma ameaça. Ora pela ocupação das terras, ora pela recusa do pagamento de impostos, ora por não seguirem os ritos da Igreja católica romana.

As razões que levaram ao início do movimento são complexas. Alongam-se, visíveis ou sombreadas, para além da época seguinte à Proclamação da República, em 1889. Mas o pretexto que justificou o começo do combate armado, em novembro de 1896, relacionou-se ao atraso na entrega de um lote de madeira que seria utilizado na construção de uma igreja no arraial messiânico. Alguns “conselheiristas”, pretendendo buscar o material encomendando, dirigiram-se a Juazeiro. Nesse momento espalharam-se rumores que falavam em invasões. Os enfrentamentos começaram e só acabariam quase um ano depois, em outubro de 1897, após a destruição completa de Canudos. Para as autoridades republicanas, a nova ordem tinha que abranger todo o Brasil.

Para enfrentar e derrotar os seguidores de Antônio Conselheiro, os governos, estadual e federal enviaram à região quatro expedições. Havia um crescimento exponencial quanto ao número de soldados, a cada derrota. A morte do coronel Antônio Moreira César, comandante da terceira expedição, causou perplexidade e temor às autoridades federais que, assumindo a repressão, enviaram uma sólida expedição imaginando que a disputa seria encerrada. Os sertanejos, por sua vez, diante da notícia desse aparato militar, partiram de vários pontos do Nordeste para defender aquele que tinham como “homem santo”. Promoveram guerrilhas e emboscadas pelos caminhos por onde os soldados passavam.

No Distrito Federal, a repercussão da derrota foi enorme – derramou-se pela imprensa, dobrou as esquinas, frequentou as salas ministeriais e alcançou o gabinete presidencial. Em abril de 1897, a quarta expedição foi despachada. Sob o comando do general Artur Oscar de Andrade Guimarães, reuniu mais de oito mil soldados (recrutados em diversos estados brasileiros), dispostos em duas colunas, equipadas com armas modernas. O primeiro combate ocorreu em Cocorobó, em 25 de junho, com a coluna chefiada pelo general Cláudio do Amaral Savaget.

A partir daí, vários enfrentamentos aconteceram com as tropas oficiais, apertando o cerco sobre o Arraial assolado pela fome, sede e por doenças. Após a morte de Antônio Conselheiro, em 22 de setembro de 1897 (não se sabe a causa com precisão, pois não houve autópsia), Canudos resistiu até 5 de outubro. Registros informam que no dia 6 a localidade foi incendiada e o corpo do beato exumado, tendo a cabeça decepada à faca.

Historiadores observam que a guerra praticamente não fez prisioneiros, pois a maior parte dos capturados era submetida a prática da degola, também chamada de “gravata vermelha”. Nos derradeiros momentos, a execução sumária era praticada a luz do dia. Foi o conflito armado, citado pela antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, “de maior visibilidade do início da República, prontamente transformado em bode expiatório nacional”.

Conclusões

Ao silêncio mais profundo... 

Igreja nova (Flávio de Barros/Acervo Museu da República)

Euclides da Cunha em seu livro Os Sertões – visto por inúmeros estudiosos como a obra emblemática da geração intelectual que viveu no Brasil entre os derradeiros anos do século XIX e o alvorecer do seguinte – possivelmente inquieto, frente à concepção linear que tinha como referência a Europa Ocidental, considerou: “Estamos condenados à civilização. Ou progredimos ou desapareceremos”. Dessa forma no seu trabalho marca no pensamento social brasileiro, aponta a preocupação quanto aos rumos que o país tomava diante das alternativas estrangeiras teóricas e pragmáticas. 

Se a ideia de progresso parecia inevitável, visivelmente, não se aplicava a todos. A realidade das populações que prosseguiam marginalizadas no interior do país era bem diversa daquela almejada pelos chamados “feitiços transoceânicos”. As alterações pretendidas se eram mesmo obrigatórias e se delas não se escapava, “para países como o Brasil mais parecia uma danação”, ensina a antropóloga Lilia Moritz Schwarzc. Euclides demonstrando preocupação, tal qual outros letrados do seu tempo, não ignorou o isolamento dos sertanejos enquanto esteve no Arraial onde, além da distância geográfica e cultural das cidades litorâneas, disseminava-se o que, à época, se chamou de “fanatismo religioso”.

Os inúmeros rótulos atribuídos à Guerra de Canudos (messiânica, precursora das lutas pela reforma agrária) possivelmente sejam esforços para dar conta da experiência vivida pelos chamados “conselheiristas” em Belo Monte. Ou, conforme sinaliza a escritora Cristina Coin, “essa guerra tenha tido um único mérito: trazer à tona o universo sertanejo do Brasil, onde milhares de homens tentavam sobreviver a um estado de profunda miséria”.

Afinal, e como não poderia deixar de ser, pensamentos e questões que envolvem a Guerra de Canudos ainda perduram. Os historiadores contemporâneos, procurando mecanismos para equacionar respostas, reconhecem que “os pactos de verdade não se absolutizam, de modo que as relações de causa e efeito não se impõem à narrativa como um todo, e, por fim, que a dúvida é imposta a cada parte do processo narrativo e mesmo depois da escrita da história é necessário manter uma postura crítica e reflexiva em torno da História”, conforme consideram os professores Maria Renata da Cruz Duran e Julio Bentivoglio.

Conselheiro, que não morreu pelas mãos de nenhum soldado, é um protagonista polêmico desenhado por contrastes e mencionado por olhares que o consideram de formas antagônicas. Euclides chega a afirmar que o beato era um “grande homem pelo avesso, um documento raro de atavismo”. Para o tenente-coronel Emídio Dantas Barreto, militar que participou da guerra e que publicou trabalhos sobre a campanha, a palavra do pregador “é insinuante, persuasiva, tocante e calorosa (...). O Exército Brasileiro não se bateu contra nenhum idiota, em Canudos, mas contra um místico de inteligência superior, capaz de levar seu povo a uma guerra total”.

Em algumas situações, a memória de fatos, como os relacionados com a Guerra de Canudos muitas vezes sujeitos a omissões e lacunas da História oficial, pode ser relegada por indivíduos (ou por grupos) ao silêncio mais profundo, a fim preservar o olhar do vencedor. Ainda hoje, Canudos é um campo fértil em que as memórias em disputa são múltiplas, como tantas foram no passado, e Conselheiro, no imaginário popular, ocupa um espaço limítrofe que oscila entre o homem e o mito.

Reflexões

A história não encerrada

Vista ao norte (Flávio de Barros/Acervo Museu da República)

Há mais de um século, aconteceu a Guerra de Canudos numa região vista pelas autoridades constituídas como um hiato a ser retomado. A partir dessa visão, não poderia existir um povoado como Belo Monte, onde a República não dominava nem corpos, nem almas. Mas, na visão dos chamados “conselheiristas” a República, ela sim, possuía um vazio de significação.  

Quando se observa enfrentamentos de dimensões importantes, tal qual o de Canudos, existiram, como ainda existem, premissas e pré-julgamentos indicando olhares e pontos de vistas diferenciados. Independentemente do certo ou do errado, há duas perspectivas: a dos vencidos e a dos vencedores. Jornais da época, especialmente os que circulavam pelas ruas do Rio de Janeiro, diante das sucessivas derrotas das tropas oficiais chegaram a publicar a existência de uma “horda de jagunços” dispostos a lutar em favor da monarquia. Construiu-se a ideia de que os habitantes de Canudos colocavam em risco a República, possivelmente diante dos fracassos das forças militares enviadas pelos governos estadual e federal.

Provavelmente, na efervescência do momento, aqueles que acompanhavam as notícias vindas do palco de operações militares nem imaginassem que, na sua grande maioria, os canudenses eram gente pobre e sem armamentos. Talvez não refletissem se haveria algum exagero nas reportagens, pois as narrativas não abordavam os motivos dos sertanejos. Frequentemente descritos com tintas fortes eram, na verdade, pessoas submetidas a longas e estafantes jornadas de trabalho recebendo, quando recebiam, alguma remuneração irrelevante. Decerto, os habitantes de Belo Monte mal sabiam o pleno significado da República e sequer tinham ideia do que seria e onde ficava o Rio de Janeiro.

Historiadores e estudiosos retomam frequentemente o assunto não esgotado. Promovem análises importantes sobre Canudos, a começar pela leitura básica contida em Os Sertões, onde existem relatos que perpassam a questão das hostilidades. Para Walnice Nogueira Galvão, mestre em Literatura e especialista em Euclides da Cunha, o livro “antes de ser histórico, literário, ajudou a segurar a memória de Canudos”. Outros pesquisadores apresentam nova forma de pesquisa: a oral. Dela emergiu um Canudos dito “não euclidiano” – expressão utilizada pelo professor José Calazans, que se baseou em testemunhos dos sobreviventes e na revisão da documentação do período.

Alguns relatos dos que conheceram e conviveram com Antônio Conselheiro, elaboram a seguinte descrição: “um santo homem que somente aconselhava para o bem. Nunca fez mal a ninguém”. Estudos também aprofundaram questões sobre o cangaço e o messianismo, observando as mudanças que ocorreram no campo religioso.

Canudos não foi um fato isolado, contingencial. De acordo com a visão de historiadores, a destruição total do povoado não significou uma história encerrada. Prosseguiram à margem, confinados, outros grupos sociais desvalidos que habitavam regiões do interior brasileiro. Novos enfrentamentos, ainda durante os primeiros anos republicanos, ganhariam contornos no horizonte. Movimentos populares importantes aconteceriam, como a Guerra do Contestado, que se desenrolou na região limítrofe entre o Paraná e Santa Catarina, entre 1912 e 1916. Mais uma vez entrariam em cena, a ferro e fogo, as baterias de guerra e a degola indiscriminada.

Jeanne Abi-Ramia é professora de História e consultora da série de TV O Mochileiro do Futuro.

Bibliografia:

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