No ano em que completa 70 anos de praia, o frescobol foi declarado Patrimônio Cultural Carioca de Natureza Imaterial. Por não promover uma competição entre os jogadores, a prática ganhou essa definição do escritor e cartunista Millôr Fernandes: o “único esporte com espírito esportivo, sem disputa formal, vencidos ou vencedores”.
O jogo, praticado com raquetes de madeira rebatendo uma pequena bola de borracha, é, por essência, dinâmico e sem pontuação. O objetivo é manter a bola em movimento o maior tempo possível entre os participantes. Millôr Fernandes se orgulhava de ser um dos idealizadores da brincadeira. O escritor costumava dizer que o esporte havia sido criado entre os postos 4 e 6 da Praia de Copacabana, na década de 1950.
Primeiras rebatidas
Segundo o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), a verdadeira história do surgimento do frescobol é um pouco diferente da contada por Millôr. A invenção apareceu em 1945, no trecho conhecido como Posto 2,5 – entre a Rua Duvivier e o Copacabana Palace. Lian Pontes de Carvalho, dono de uma fábrica de móveis de piscina e pranchas, é considerado o pai do esporte. Ele, que além de empresário era nadador, começou, de modo inventivo, a impulsionar uma bolinha de tênis descascada com o auxílio de uma tábua. Em pouco tempo, passou a confeccionar as primeiras raquetes, com as sobras de madeira de sua loja.
A prática de rebater uma bolinha rapidamente, pelo maior tempo possível, conquistou os jovens frequentadores das praias e se tornou símbolo do espírito lúdico, rebelde e boêmio daquela geração do final dos anos 1940. Segundo o Atlas do Esporte no Brasil, após diversas proibições, os jogadores tiveram a necessidade de mudar de Copacabana para Ipanema, a partir de 1950.
Nas duas décadas seguintes, uma intensa repressão policial e campanhas negativas por parte da imprensa buscaram banir o esporte. Porém, banhistas, vendedores ambulantes, salva-vidas e esportistas criaram um sistema de alarmes na Zona Sul para evitar as represálias. Atualmente, regras para o convívio de praticantes e banhistas estabelecem que o desporto não deve ser praticado na beira do mar entre 8h e 17h.
Reconhecimento e expansão
O IRPH reconheceu o frescobol como parte do estilo de vida do carioca e da paisagem cultural das praias da cidade. O Instituto levantou dados sobre o jogo e mapeou os principais locais onde é praticado: Ilha do Governador (Praia da Bica), Praia do Flamengo, Praia de Copacabana (Santa Clara e Bolívar), Praia do Diabo (Arpoador), Barra da Tijuca (Pepê e Posto 7) e Recreio dos Bandeirantes (Posto 9).
O que começou de forma despretensiosa se expandiu e é, hoje, uma das práticas de lazer mais difundidas em todo o litoral brasileiro. Por mais que tenha surgido sem a contagem de pontos, atualmente existem campeonatos espalhados pelo Brasil e o primeiro mundial aconteceu em fevereiro, no México. As regras ainda são particulares de cada local e diferem entre si, mas os praticantes sonham em fazer do frescobol um esporte olímpico.
Fontes: Atlas do Esporte no Brasil, Portal Lance!Net, Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.
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